Em uma noite fria, numa improvável esquina de Chicago, Will Grayson encontra… Will Grayson. Os dois adolescentes dividem o mesmo nome. E, aparentemente, apenas isso os une. Mas mesmo circulando em ambientes completamente diferentes, os dois estão prestes a embarcar em um aventura de épicas proporções. O mais fabuloso musical a jamais ser apresentado nos palcos politicamente corretos do ensino médio.
Will e Will – Um nome, Um Destino – John Green e David Levithan
capítulo um
Quando eu era pequeno, meu pai costumava me dizer: “Will, você pode escolher a dedo seus amigos e pode meter o dedo no próprio nariz, mas não pode meter o dedo no nariz do seu amigo.” Essa observação me pareceu razoavelmente perspicaz aos 8 anos, mas acabou se mostrando incorreta em alguns aspectos. Pra começar, não é possível escolher a dedo os amigos, ou eu nunca teria acabado com Tiny Cooper.
Tiny Cooper não é a pessoa mais gay do mundo, tampouco é a maior pessoa do mundo, mas acredito que ele possa ser a maior pessoa do mundo que é muito, muito gay, e também a pessoa mais gay do mundo que é muito, muito grande. Tiny é meu melhor amigo desde o quinto ano do ensino fundamental, exceto pelo último semestre, quando ele ficou ocupado descobrindo todo o alcance de sua gayzice, e eu fiquei ocupado com um Grupo de Amigos de verdade pela primeira vez na vida, grupo esse que acabou se tornando um grupo de Nunca Mais Fale Comigo por causa de duas leves transgressões:
1. Depois que um membro do conselho escolar ficou todo irritado com a presença de gays no vestiário, defendi o direito de Tiny Cooper de tanto ser gigante (e, portanto, o melhor da linha ofensiva da bosta do nosso time de futebol americano) quanto gay em uma carta pro jornal da escola, a qual eu, estupidamente, assinei.
2. Esse cara do Grupo de Amigos, chamado Clint, estava falando sobre a carta na hora do almoço e, ao falar dela, me chamou de baitola, e eu não sabia o que era um baitola então perguntei: “Como assim?” E ele então me chamou de baitola de novo e, nessa hora, eu mandei ele se foder, peguei minha bandeja e saí da mesa.
O que acho que significa que tecnicamente fui eu quem deixou o Grupo de Amigos, embora parecesse o contrário. Sinceramente, nenhum deles jamais pareceu gostar muito de mim, mas eles estavam por perto, o que já é alguma coisa. E agora não estão mais, deixando-me totalmente desprovido de companhia social.
Isto é, a menos que se conte Tiny. O que suponho que eu deva fazer.
E/porém/portanto, algumas semanas depois de voltarmos das férias de Natal no terceiro ano, estou sentado em meu Lugar Marcado na aula de pré-cálculo quando Tiny entra em seu passo de valsa, vestido com a camisa do time enfiada para dentro da calça cáqui, embora a temporada de futebol já tenha acabado há muito tempo. Todos os dias, Tiny consegue, milagrosamente, se fazer caber na carteira ao lado da minha na sala de pré-cálculo e, todos os dias, fico espantado que ele consiga fazer isso.
Então, Tiny se espreme na cadeira, fico devidamente espantado, e ele se vira para mim e sussurra bem alto porque secretamente quer que as outras pessoas escutem: “Estou apaixonado.” Reviro os olhos, porque ele se apaixona de hora em hora por algum pobre garoto. Todos eles parecem iguais: magricelas, suarentos e bronzeados, sendo esse último aspecto uma abominação, porque todos os bronzeados de Chicago em fevereiro são falsos, e garotos que se bronzeiam artificialmente — não estou nem aí se são gays ou não — são ridículos.
— Você é tão cínico — diz Tiny, agitando a mão na minha direção.
— Não sou cínico, Tiny — respondo. — Sou prático.
— Você é um robô — continua ele. Tiny acha que sou incapaz do que os humanos chamam de emoção porque não choro desde meu aniversário de 7 anos, quando vi o filme Todos os cães merecem o céu. Suponho que eu devesse saber pelo título que o final não seria feliz, mas, em minha defesa, eu tinha 7 anos. De qualquer forma, desde então, não chorei nunca mais. Eu não entendo muito bem qual é o sentido de chorar. Além disso, acho que chorar é quase — assim, exceto em caso de morte de parentes ou coisa parecida — totalmente evitável, se você seguir duas regras muito simples: 1. Não se importar muito com nada. 2. Calar a boca. Todas as coisas ruins que já me aconteceram derivaram do não cumprimento de uma dessas regras.
— Sei que é amor de verdade porque sinto — diz Tiny.
Aparentemente a aula começou sem que percebêssemos, porque o Sr. Applebaum, que o