Nos traços delicados do rosto do filho, Miles Ryan reconhecia, dilacerado pela saudade, a mesma beleza subtil e cativante de Missy, a única mulher que alguma vez amou. Não voltaria a senti-la movimentando-se pela casa, brincando com Jonah, nem voltaria a ouvir o seu riso inocente, quase infantil, a sua voz cheia, sensual. Alguém lhe roubara, irremediavelmente, a melhor parte da sua vida, de si próprio. Tinha empenhado todos os seus conhecimentos enquanto ajudante de xerife para desvendar o caso. Acidente ou homicídio? Quem o havia cometido? Porquê? Dois anos depois, a revolta não se tinha apaziguado. Mas, quando conhece Sarah Andrews, a professora do filho, Milles compreende, com naturalidade, que não morreu dentro de si a capacidade de amar, de estar de novo apaixonado por uma mulher e pela vida. Uma história de amor e de perdão que é também um hino à esperança e ao inesgotável potencial do ser humano para a reconstrução e a força de viver.
Uma Promessa Para Toda a Vida – A bend in the road – Nicholas Sparks
Prólogo
Onde é que uma história começa verdadeiramente? Na vida, não abundam os começos bem definidos, os momentos em que se pode dizer que tudo começou quando os recordamos. Contudo, há ocasiões em que o destino cruza a nossa vida, desencadeando uma sequência de acontecimentos cujo resultado nunca poderíamos ter previsto.
Estou acordado, devem ser 2 horas da manhã. Depois de me ter arrastado para a cama, de ter andado aos saltos e às voltas durante quase uma hora, acabei por desistir de dormir. Agora estou sentado à secretária, de caneta na mão, a tentar alinhavar umas ideias acerca do meu próprio encontro com o destino. Nada que não tenha acontecido antes. Dá a impressão de que nos últimos tempos não tenho conseguido pensar em mais nada.
A casa está silenciosa, só se ouve o tiquetique compassado do relógio que está numa das prateleiras da estante. A minha mulher está no andar de cima, a dormir, e eu não tiro os olhos do bloco de folhas amarelas, apercebendo-me agora de que não sei por onde começar. Não é que tenha dúvidas acerca da minha história mas, em primeiro lugar, não percebo porque é que me sinto compelido a contá-la. Qual a utilidade de desenterrar o passado? Afinal, os acontecimentos que pretendo descrever aconteceram há treze anos, mas até se poderá dizer que tudo começou dois longos anos antes disso. Mas, aqui sentado, sinto que tenho de tentar dizer o que se passou e, mesmo que não encontre melhores razões, para conseguir pôr tudo para trás das costas.
Há umas quantas coisas que me ajudam na recordação deste período: o diário que mantinha desde criança, uma pasta com artigos de jornais, a minha própria investigação e, certamente, os registos oficiais. Há ainda o facto de eu ter recordado mentalmente, centenas de vezes, todos os passos
desta história; tenho tudo gravado na memória. Mas, baseada apenas nesses factos, esta história ficaria incompleta. Houve outras pessoas envolvidas, e embora eu tivesse testemunhado alguns dos acontecimentos, não estive presente em todos. Compreendo que é impossível recriar cada sensação, cada pensamento da vida de outra pessoa mas, para o melhor e para o pior, é isso mesmo que vou tentar fazer.
Esta é, acima de tudo, uma história de amor e, como já aconteceu com muitas histórias do género, a história de amor entre Miles Ryan e Sarah Andrews assenta numa tragédia. Não deixa também de ser uma história de perdão e espero que os leitores, depois de a lerem até ao fim, se apercebam das dificuldades que Miles Ryan e Sarah Andrews tiveram de enfrentar. Espero que compreendam as decisões que eles tomaram, as boas e as más, tal como espero que acabem por entender as minhas.
Porém, para deixar as coisas claras, direi que não se trata apenas da história de Sarah Andrews e Miles Ryan. Se esta história tem um começo, teremos de falar de Missy Ryan, que na escola secundária foi namorada de um ajudante do xerife de uma pequena cidade do Sul.
Missy Ryan, tal como o marido, Miles, foi criada em Neiv Bern. Na opinião das pessoas, ela era atraente e simpática; durante toda a sua vida de adulto, Miles nunca deixara de a amar. Missy Ryan tinha cabelo castanho-escuro e olhos ainda mais escuros, e disseram-me que falava com um sotaque que fazia tremer os joelhos dos homens de outras partes do país. Ria com facilidade, era boa ouvinte e tinha um tique que a levava muitas vezes a agarrar o braço da pessoa com quem estava a falar, como que a convidá-la para ser parte do seu mundo. E, como sucede com a maioria das mulheres do Sul, a sua vontade era mais forte do que parecia à primeira vista. Era ela, e não Miles, quem dirigia a casa; em regra, os amigos de Miles eram os maridos das amigas de Missy e a vida do casal girava à volta da família de ambos.
Missy dirigia a claque da escola secundária. No segundo ano, já era popular e adorável e, embora conhecesse Miles, este era um ano mais velho e nunca tiveram aulas juntos. Não teve importância. Apresentados por amigos, passaram a estar juntos duran