Na Primavera de 2002, uma pequena brochura perdida num monte de junk mail veio introduzir uma nota de desafio e de aventura na vida de Nicholas Sparks e do seu irmão, Micah. O convite era, no mínimo, irresistível – uma viagem de três semanas à volta do globo que os levaria a conhecer as «Terras dos Adoradores do Céu» . Teria início no Hemisfério Sul e terminaria no Círculo Polar Árctico. Inspirados pela profunda amizade que os une, os dois irmãos concedem a si próprios um tempo de evasão e de descoberta que terá por cenário o exotismo e o mistério de alguns dos locais mais sagrados e míticos do mundo. Livro de memórias e relato de viagem, Três Semanas com o Meu Irmão é, antes de mais, uma peregrinação interior que celebra o amor, a coragem e a fé, e nos exulta a abraçar a vida com todas as suas incertezas.
Três semanas com o meu irmão – Three Weeks With My Brother
Aquele que é amigo, é-o em todo o tempo;
e o irmão conhece-se nos transes apertados.
Provérbios 17:17
PRÓLOGO
Este livro foi escrito por causa de uma brochura que recebi, pelo correio, na Primavera de 2002.
Fora um dia normal em casa da família Sparks. Passara boa parte da manhã e do princípio da tarde a trabalhar no meu romance O Sorriso das Estrelas, o trabalho não me correra bem e estava desejoso que o dia chegasse ao fim. Não escrevera tanto quanto pensara, nem fazia ideia daquilo que iria escrever na manhã seguinte. Não estava, por isso, na melhor das disposições quando, finalmente, desliguei o computador e dei por concluído o trabalho do dia.
Não é fácil viver com um escritor. Sabia-o porque a minha mulher já me tinha informado desta realidade e voltou a fazê-lo naquele dia. Para ser franco, não é a afirmação mais agradável para se ouvir e, embora fosse fácil pôr-me na defensiva, acabei por perceber que discutir o assunto com ela não resolvia coisa alguma. Em vez disso, tinha aprendido a olhá-la nos olhos, ao mesmo tempo que lhe respondia com aquelas palavras mágicas que qualquer mulher deseja ouvir:
- Meu amor, tens toda a razão.
Haverá quem pense que, por eu ser um autor relativamente bem sucedido, escrever é uma tarefa que faço sem esforço. Muitas pessoas imaginam que ocupo apenas umas poucas horas do dia a “escrevinhar as ideias à medida que me vão ocorrendo”, o que me deixaria o resto do tempo livre para descansar à beira da piscina, a discutir com a minha mulher as nossas próximas férias num lugar exótico.
Na realidade, a nossa maneira de viver não difere muito da de qualquer família normal da classe média. Não dispomos de um quadro de pessoal doméstico nem fazemos grandes viagens e, embora tenhamos uma piscina no jardim das traseiras, rodeada de cadeiras de descanso, já não me recordo da última vez em que as cadeiras foram usadas; e não são usadas porque, durante o dia, nem eu nem a minha mulher dispomos de muito tempo para ficarmos sentados sem fazer nada. Eu, por causa do meu trabalho. Ela, por causa da família. Ou, para ser mais preciso, por causa dos nossos filhos.
É que temos cinco. Não seria um número exagerado se vivêssemos na época dos pioneiros mas, nos nossos dias, já é suficiente para sermos olhados de esguelha. No ano passado, durante uma viagem, aconteceu que travámos conhecimento com outro casal jovem. A conversa é como as cerejas e o problema dos filhos acabou por surgir. O casal tinha dois filhos e mencionou-os pelos nomes; a minha mulher engasgou-se com os nomes dos nossos.
Por momentos a conversa parou, enquanto a outra mulher procurava assegurar-se de que nos estava a ouvir bem.
- Têm cinco filhos? - acabou por perguntar.
- Temos.
A outra pousou uma mão simpática no ombro da minha mulher.
- Perderam o juízo?
Os nossos rapazes têm doze, dez e quatro anos; temos duas gémeas que vão a caminho dos três anos. Apesar de não saber muito acerca do mundo, sei que os filhos têm uma forma engraçada de nos obrigar a sermos objectivos. Os mais velhos sabem que me ocupo a escrever romances, embora por vezes tenha as minhas dúvidas de que eles compreendam o que significa criar uma obra de ficção. Por exemplo: durante uma aula de apresentação, foi perguntado ao meu filho de dez anos qual era a profissão do pai, ao que ele, enchendo o peito de ar, respondeu: “O meu pai passa o dia a brincar com o computador!” O mais velho, por sua vez, já declarou por diversas vezes - com o ar mais solene - que: “Escrever é fácil. Difícil é dactilografar.”
Como acontece com muitos escritores, trabalho em casa, mas as semelhanças acabam aí. O meu escritório não é um qualquer santuário situado no recato de um andar alto; em vez disso, a porta abre directamente para a sala de estar. Já li que muitos escritores necessitam de uma casa sossegada para se concentrarem, mas eu tenho a sorte de não precisar de silêncio para trabalhar. É uma boa característica, pois suponho que, sem ela, nunca conseguiria escrever