O milionário Gordon Cloade morre num bombardeio aéreo em Londres, deixando tudo o que tinha para sua jovem esposa, Rosaleen. No entanto, cinco outras pessoas que precisavam desesperadamente de dinheiro já tinham combinado dividir sua fortuna, e um violento assassinato é cometido, mas a vítima não é Rosaleen. É então que Hercule Poirot entra em ação para desvendar esse mistério.
Seguindo a Correnteza – Agatha Christie
Capítulo 6
– O que a Marchmont estava fazendo aqui? – inquiriu David assim que entrou.
– Oh, David. Ela precisava muito de dinheiro. Jamais pensei...
– E você deu, suponho...
Ele olhou-a em desespero parcialmente jocoso.
– Não dá para deixar você sozinha, Rosaleen.
– Oh, David, eu não pude recusar. Afinal...
– Afinal o quê? Quanto?
Rosaleen murmurou numa vozinha baixa:
– Quinhentas libras.
Para seu alívio, David riu.
– Uma bagatela!
– Oh, David, é um bocado de dinheiro.
– Não para nós hoje em dia, Rosaleen. Parece que você nunca entende realmente que é uma mulher muito rica. Do mesmo modo que, se ela pediu quinhentas, teria ido embora bem satisfeita com 250. Você precisa aprender a linguagem dos empréstimos!
– Sinto muito, David – ela murmurou.
– Minha querida! Afinal, é o seu dinheiro.
– Não é. Não realmente.
– Não comece com tudo aquilo de novo. Gordon Cloade morreu antes de ter tempo de fazer um testamento. É isso que se chama de sorte no jogo. Ganhamos, você e eu. Os outros... perderam.
– Não parece... certo.
– Ora, minha adorável irmã Rosaleen, você não está desfrutando disso tudo? Uma casa grande, criados... joias? Não é um sonho realizado? Deus seja louvado! Às vezes penso que vou acordar e descobrir que é um sonho.
Ela riu com ele, e, observando-a de perto, ele ficou satisfeito. Ele sabia como lidar com sua Rosaleen. Era um inconveniente, pensou David, que ela tivesse uma consciência, mas era isso aí.
– É verdade mesmo, David, parece um sonho... ou coisa de filme. Estou gostando de tudo. Estou mesmo.
– Mas vamos guardar o que é nosso – ele advertiu. – Chega de presentes para os Cloade, Rosaleen. Cada um deles tem mais dinheiro do que você ou eu jamais tivemos.
– Sim, suponho que seja verdade.
– Onde Lynn estava hoje de manhã? – ele perguntou.
– Acho que ela foi a Long Willows.
A Long Willows. Ver Rowley, o idiota, o caipira! O bom humor dele evaporou-se. Decidida a se casar com o sujeito, não é?
Saiu da casa de mau humor, subindo em meio a um aglomerado de azaleias até sair pelo portãozinho no topo do morro. Dali, a trilha mergulhava morro abaixo passando pela fazenda de Rowley.
Parado ali, David viu Lynn Marchmont subir, vindo da fazenda. Ele hesitou por um momento, então cerrou o maxilar de modo belicoso e seguiu morro abaixo na direção dela. Encontraram-se em uma cancela no meio do morro.
– Bom dia – disse David. – Quando é o casamento?
– Você já perguntou isso antes – ela retorquiu. – E sabe muito bem. Em junho.
– Você vai levar isso até o fim?
– Não sei o que quer dizer, David.
– Oh, sim, você sabe – ele deu uma risada desdenhosa. – Rowley. O que é Rowley?
– Um homem melhor do que você. Mexa com ele se tiver coragem – disse ela em tom casual.
– Não tenho dúvida de que ele seja um homem melhor que eu. Mas tenho coragem. Por você, tenho coragem para qualquer coisa, Lynn.
Ela ficou em silêncio por um instante. Enfim disse:
– O que você não entende é que eu amo Rowley.
– Imagino.
Ela disse com veemência:
– Amo, estou dizendo. Amo.
David olhou-a de forma penetrante.
– Todos nós temos imagens de nós mesmos, de como queremos ser. Você se vê apaixonada por Rowley, acomodando-se com Rowley, vivendo contente aqui com Rowley, sem jamais querer ir embora. Mas esse não é seu verdadeiro eu, é, Lynn?
– Ah, o que é meu verdadeiro eu? Sendo assim, o que é o seu verdadeiro eu? O que você quer?
– Eu disse que queria segurança, paz depois da tormenta, calmaria após mares revoltos. Mas não sei. Às vezes, Lynn, suspeito que você e eu queremos... dificuldades.
E acrescentou de forma mal-humorada:
– Gostaria que você jamais tivesse aparecido por aqui. Eu era notavelmente feliz até você chegar.
– Você não é feliz agora?
Ele olhou para ela. Lynn sentiu o alvoroço crescer dentro de si. Sua respiração acelerou-se. Ela jamais havia sentido a estranha atração soturna de David com tanta intensidade. Ele estendeu a mão, agarrou-a pelo ombro, girou-a...
E de repente ela sentiu a pressão da mão dele afrouxar. Seu olhar estava cravado