Rei Rato – China Miéville

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Algo se mexe na escuridão de Londres, marcando seu território com terra e sangue. Algo assassinou o pai de Saul Garamond e o deixou pagar pelo crime. Mas uma sombra dos despojos urbanos invade a cela de Saul e lhe dá a liberdade. Uma sombra chamada Rei Rato. Liberdade e um novo destino: o Rei Rato revela a ascendência real de Saul, uma herança que lhe abre um novo mundo, o mundo debaixo das ruas de Londres. Uma herança que também aprisiona Saul no plano de vingança do Rei Rato contra o seu mais antigo inimigo, que anda pelo mundo mais uma vez e quer terminar o que começou longos séculos atrás. Com o drum ‘n’ bass chacoalhando os becos, Saul deve confrontar as forças que querem usá-lo, as forças que poderiam destruí-lo e as forças que moldaram sua própria identidade bizarra.

Apresentação É 1995 e uma amiga recém-chegada da Inglaterra me convence a comprar um CD chamado Jungle Renegades, coletânea de música eletrônica com o então recém-surgido gênero britânico que depois viria a ser conhecido como drum and bass. Nunca havia escutado nada semelhante: baixos que cortavam o estômago como navalha, baterias irremediavelmente quebradas. Considerado o primeiro gênero da música pop criado na Inglaterra (e não apenas recriado), o jungle era estranha e ciberneticamente negro. É 1982 e fecho as páginas de Histórias Extraordinárias, de Edgar Allan Poe. Meu cérebro de doze anos de idade tenta fazer sentido dos delírios de Roderick Usher e das inúmeras maravilhas e aberrações daqueles contos. Poe foi meu primeiro contato com a literatura fantástica. Durante anos estes aspectos da minha experiência estética correram em separado. Mas é 1998 e China Miéville mescla a música eletrônica underground e a fantasia em seu romance de estreia, Rei Rato. O livro que você tem em mãos guarda diversos aspectos importantes para com a literatura especulativa. É a primeira publicação de um dos autores mais celebrados deste início de século XXI. Sucesso de vendas e de crítica, China Miéville é um dos responsáveis por injetar criatividade, subversão e elementos literários em um subgênero que havia perdido muito terreno para territórios vizinhos, como o da literatura cyberpunk dos anos 80. Se autores como William Gibson, John Shirley e Neal Stephenson fizeram um necessário upgrade na ficção científica, Miéville e figuras como Jeff VanderMeer (que teve seu A Situação também publicado pela Tarja Editorial) e Kelly Link têm injetado na fantasia elementos de horror, policial e mistério, gerando uma nova estética chamada por alguns de new weird. O termo deve sua existência em parte à revista Weird Tales, veterano veículo de contos pulp, e também a uma declaração do próprio Miéville, que disse que escrevia sobre tais temas porque simplesmente gostava de “weird shit”. É exatamente essa mixagem entre o pop subterrâneo urbano e a estilística literária de nomes como Jorge Luís Borges que caracteriza o new weird. Uma festa onde Raymond Chandler e Lovecraft conversam com Bioy Casares e M. John Harrison. Em Rei Rato, Miéville já mostra os elementos que dois anos depois viriam a consagrá-lo com Perdido Street Station, sua obra-prima (publicada em 2000). Estão neste livro o ambiente urbano ao mesmo tempo familiar e estranho, espaços que normalmente só vemos das janelas dos trens e ônibus e que aqui são esfregados em nossos narizes. Uma fantasia (sub)urbana da melhor estirpe, Rei Rato tem uma narrativa permeada pelo ritmo do jungle: frases quebradas, pontuação em loop, uso de pontos, uma vírgula! Essa tentativa de aplicar ao papel o ritmo dos breakbeats torna a tarefa de traduzir King Rat ao mesmo tempo fascinante e árdua. A língua inglesa é pontual por excelência, presta-se ao papel de marcar a batida de cada break, de cada linha de baixo. A língua portuguesa é excelente para descrever; descrições são sempre mais longas do que representações diretas. O ritmo da narrativa de Miéville é tão marcado que se locomove como um bom álbum de música eletrônica, assume a forma de uma constante onomatopéia pop. Além do ritmo quebrado e rápido, Rei Rato – o livro e o personagem – se caracteriza pelo uso radical do cockney, dialeto das ruas de Londres utilizado pelas classes trabalhadoras do East End, com gírias e jargões rimados que muitas vezes chegam a remontar a centenas de anos. Uma espécie de Charles Dickens freestyle, o cockney é quase impossível de ser vertido sem perdas e danos para o português. O uso constante de citações à música pop alternativa e a dialetos como o cockney e o inglês jamaicano dos rastas e MCs me fez optar por escrever notas explicativas, colocadas ao final de cada capítulo para que não atrapalhassem o – magistral – fluxo de palavras de Miéville. O negócio do China é ao mesmo tempo maravilhar e assombrar, provocar ansiedade e as
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