Para escrever bem, é necessário muito mais que correção ortográfica e conhecimento sintático e gramatical. Mesmo uma frase sem erros de ortografia, correta do ponto de vista sintático e contendo palavras adequadas pode ser mal compreendida se não estiver adequadamente pontuada. A pontuação, esse aspecto tão importante e tão pouco contemplado por livros e professores, é o assunto do 4º volume da série Guia Prático do Português Correto. Para que serve a pontuação – o ponto final, a vírgula, o ponto-e-vírgula, o dois-pontos e seus outros representantes? Por que, em alguns casos, a pontuação é considerada errada e, noutros, apenas inadequada? Que opções de pontuação usar para garantir que um texto comunique exatamente a mensagem que queremos transmitir e proporcione ao leitor uma leitura elegante e sem tropeços?
Essas e outras muitas questões são respondidas com muito bom senso pelo professor Cláudio Moreno, para quem uma visão global e moderna da língua portuguesa é a ferramenta principal do bem falar e do bem escrever.
À memória de Joaquim Moreno, meu pai,e de Celso Pedro Luft, mestre e amigo.
Pontuação são uns risquinhos, ou pontos, com que se apartam entre si as palavras, e mostram que casta de sentido fazem.Jerônimo Contador de ArgoteRegras da língua portuguesa, espelho da língua latina (1725)
ApresentaçãoEste livro é a narrativa de minha volta para casa – ou, ao menos, para essa casa especial que é a língua que falamos. Assim como, muito tempo depois, voltamos a visitar o lar em que passamos nossos primeiros anos – agora mais velhos e mais sábios –, trato de revisitar aquelas regras que aprendi quando pequeno, na escola, com todos aqueles detalhes que nem eu nem meus professores entendíamos muito bem.Quando, há quase dez anos, criei minha página sobre o Português (www.sualingua.com.br), percebi, com surpresa, que os leitores que me escrevem continuam a ter as mesmas dúvidas e hesitações que eu tinha quando saí do colégio nos turbulentos anos 60. As perguntas que me fazem são as mesmas que eu fazia, quando ainda não tinha toda esta experiência e formação que acumulei ao longo de trinta anos, que me permitem enxergar bem mais claro o desenho da delicada tapeçaria que é a Língua Portuguesa. Por isso, quando respondo a um leitor, faço-o com prazer e entusiasmo, pois sinto que, no fundo, estou respondendo a mim mesmo, àquele jovem idealista e cheio de interrogações que resolveu dedicar sua vida ao estudo do idioma.Por essa mesma razão, este livro, da primeira à última linha, foi escrito no tom de quem conversa com alguém que gosta de sua língua e está interessado em entendê-la. Este interlocutor é você, meu caro leitor, e também todos aqueles que enviaram as perguntas que compõem este volume, reproduzidas na íntegra para dar mais sentido às respostas. Cada unidade está dividida em três níveis: primeiro, vem uma explicação dos princípios mais gerais que você deve conhecer para aproveitar melhor a leitura; em seguida, as perguntas mais significativas, com discussão detalhada; finalmente, uma série de perguntas curtas, pontuais, acompanhadas da respectiva resposta.Devido à extensão do material, decidimos dividi-lo em quatro volumes. O primeiro reúne questões sobre Ortografia (emprego das letras, acentuação, emprego do hífen e pronúncia correta). O segundo, questões sobre Morfologia (flexão dos substantivos e adjetivos, conjugação verbal, formação de novas palavras). O terceiro, questões sobre Sintaxe (regência, concordância, crase, etc.). O quarto, finalmente, é totalmente dedicado à Pontuação.Sempre que, para fins de análise ou de comparação, foi preciso escrever uma forma errada, ela foi antecedida de um asterisco, segundo a praxe de todos os modernos trabalhos em Linguística (por exemplo, “o dicionário registra obcecado, e não *obscecado ou *obsecado”). O que vier indicado entre duas barras inclinadas refere-se exclusivamente à pronúncia e não pode ser considerado como uma indicação da forma correta de grafia (por exemplo: afta vira, na fala, /á-fi-ta/).
Cláudio Moreno, 2010
Falar e escreverA escrita é muito mais pobre que a falaA relação entre quem fala e quem ouve é muito mais simples que a relação entre quem escreve e quem lê. Quando falamos, somos mais facilmente entendidos do que quando escrevemos, porque, junto com as palavras pronunciadas, fornecemos também a nosso ouvinte várias indicações de como ele deve processar o que estamos dizendo. A entonação, o ritmo, as pausas que fazemos, além de nossos gestos e de nossas expressões faciais, servem, na verdade, como uma espécie de manual de instruções sobre como esperamos ser compreendidos.Além disso, a presença do ouvinte também contribui em muito para o sucesso de nossa comunicação, pois ele emite sinais de que está acompanhando nosso discurso ou de que algo não está lhe parecendo muito claro, dando-nos, assim, a oportunidade de refazer ou reforçar o que estávamos dizendo.Na escrita, nada disso existe. O leitor está sozinho dia