Parmênides (O uno e o multiplo, as formas inteligíveis) – Platão

Download Parmenides Platao em ePUB mobi e PDF

Segundo estudiosos, o amadurecimento de Platão pode ser percebido a partir de Parmênides.
A evolução do pensamento platônico é notada na alteração de como se apresenta sua teoria das idéias (Parmênides teria sido escrito após diálogos que expõem essa teoria de forma mais clássica Fédon, Banquete, República e Fedro). Parmênides pode ser lido como uma autocrítica de Platão à teoria das ideias, o que determinaria uma revisão de seu pensamento. Para os mais radicais, essa autocrítica significou a rejeição total da teoria das ideias transcendentes. Este diálogo é complexo e exige do leitor atenção em profundidade, principalmente porque apresenta várias possibilidades de interpretação do pensamento platônico.

1 - De Clazômenas, onde residimos, fomos para Atenas, e ao chegarmos à Praça do Mercado, encontramos Adimanto e Glauco. Tomando-me da mão, disse Adimanto: Saúde, Céfalo! Se precisares de alguma coisa que dependa de nós, é só falares.Vim justamente para isso, respondi para pedir-vos um favor.Basta dizeres o de que se trata, me falou.Então, prossegui: Como se chama aquele vosso irmão por parte de mãe? Esqueceu-me o nome; eu era pequeno, quando vim de Clazômenas a primeira vez, já faz tempo. Se não me falha a memória, o nome do pai é Pirilampo.Isso mesmo, respondeu; e o dele é Antifonte. Mas, a que vem a tal pergunta?Estes aqui, lhe falei, são meus conterrâneos e filósofos de alto merecimento. Ouviram dizer que esse Antifonte acompanhava com certo Pitodoro, amigo de Zenão, e que sabe de cor as conversações havidas entre Sócrates, Zenão e Parmênides, por as ter ouvido dele, Pitodoro, assaz de vezes.Tudo isso é verdade, observou.Pois são justamente essas conversações, voltei a falar, que desejamos ouvir.Não é difícil, respondeu; no tempo de moço, Antifonte aplicou-se muito em decorá-las. Presentemente, a exemplo do avô e homônimo, emprega seus lazeres com cavalos. Se quiserdes, vamos procurá-lo; saiu agora mesmo daqui e foi para casa; mora perto, em Melita.Dito isso, pusemo-nos a andar e encontramos Antifonte em casa, no ponto em que entregava ao ferreiro, para consertar, um freio ou peça equivalente. Depois de resolvido isso, os irmãos lhe explicaram o fim daquela visita. Reconheceu-me, por ainda lembrar-se de minha primeira estada entre eles, e cumprimentou-me. A princípio, hesitou, quando lhe pedimos que nos reproduzisse o diálogo; era grande por demais a responsabilidade, conforme falou; porém acabou consentindo.Então, Antifonte disse que Pitodoro lhe contara como, de uma feita, Zenão e Parmênides vieram às grandes Panatenéias. Parmênides já era de idade avançada, cabeleira inteiramente branca e de presença nobre e veneranda; poderia ter sessenta e cinco anos. Zenão beirava os quarenta; era de bela estatura e exterior agradável. Passava por ser o favorito de Parmênides. Informou que eles assistiam em casa de Pitodoro, no Cerâmico, além dos muros. Para lá acorrera Sócrates e mais alguns de sua companhia, desejosos de ouvir a leitura dos escritos de Zenão, pois pela primeira vez os tinham levado a Atenas. Sócrates nesse tempo era muito jovem. Incumbiu-se da leitura o próprio Zenão, na ausência casual de Parmênides. Já se encontravam quase no fim, segundo Pitodoro, quando ele próprio entrou, acompanhado de Parmênides e de Aristóteles, o mesmo que depois foi um dos Trinta. Assim, só pegaram trecho muito pequeno da leitura. Aliás, Pitodoro já a ouvira antes, do próprio Zenão. II - Terminada essa parte, Sócrates lhe pediu que relesse a primeira hipótese do primeiro argumento, depois do que se manifestou: Que queres dizer com isto, Zenão? Se os seres são múltiplos, por força terão de mostrar, a um só tempo, semelhanças e dissemelhanças, o que não é possível. Nem o semelhante pode ser dissemelhante, nem o dissemelhante semelhante. Declaraste isso mesmo, ou fui eu que não compreendi direito?Isso mesmo, respondeu Zenão.Então, se o dissemelhante não pode ser semelhante, nem o semelhante dissemelhante, no mesmo passo não será possível existir o múltiplo, porque, se existisse, não poderia eximir-se desses atributos impossíveis. Mas, o fim precípuo de tua argumentação não visa a combater a crença geral de que o múltiplo existe? Não estás convencido de que cada um dos teus argumentos demonstra isso mesmo, e que, no teu modo de pensar, os argumentos por ti apresentados são outras tantas provas de que o múltiplo não existe? Foi isso o que disseste, ou não entendi bem?De forma alguma, teria falado Zenão; apanhaste admiravelmente bem a intenção geral do escrito.Compreendo, Parmênides, continuou Sócrates; nosso Zenão deseja tornar-sete mais íntimo por vários meios, mas principalmente com a ajuda de seu
Rolar para cima