Com os DRAGÕES DO ÉDEN, Prémio Pulitzer, para muitos a mais bela obra do autor, os leitores de “Ciência Aberta” irão participar numa grande aventura. Num Éden perdido onde os dragões reinavam encontram-se as fundações da nossa inteligência e das nossas paixões. Sagan conduz-nos, numa visita guiada, até esse mundo perdido.
Harmonizando informação científica e os grandes mitos do passado, utilizando a sua incomparável capacidade de relacionamento e de diálogo com as diversas áreas do conhecimento científico, com a filosofia e com a história, Sagan faz o ponto de grandes espaços do saber humano, propondo hipóteses por vezes arrojadas, mas sempre motivadoras – Carl Sagan é o professor que todos gostaríamos de ter, ou ter tido, e os DRAGÕES DO ÉDEN são uma obra- prima de instrutivo prazer. “Carl Sagan tem o toque de Midas.
Transforma em ouro tudo aquilo em que toca. Assim acontece com OS DRAGÕES DO ÉDEN. Nunca li nada tão apaixonante sobre os temas.” Isaac Asimov
OS DRAGÕES DO ÉDEN
CARL SAGAN
INTRODUÇÃO
Na boa oratória, não é necessário que a mente do orador conheça bem o assunto sobre o qual ele vai discorrer?
PLATÃO – Fredo
Não sei onde encontrar na literatura, antiga ou moderna, uma descrição adequada da natureza com o qual estou acostumado. A mitologia é o que mais se aproxima.
HENRY DAVID THOREAU – The Journal
Jacob Bronowski foi um dos integrantes de um pequeno grupo de homens e mulheres que em todas as épocas consideraram todo o conhecimento humano – as artes e ciências, a filosofia e a psicologia – interessante e acessível. Ele não se limitou a uma única disciplina, mas abrangeu todo o panorama do aprendizado humano. O livro e a série na televisão, A escalada do Homem, representam excelente material didático e magnífica exposição; constituem de certa forma um relato de como os seres humanos e o cérebro humano evoluíram juntos.
Seu último capítulo/episódio, chamado “A Longa Infância” , descreve o extenso período de tempo – mas longo em relação à duração de nossas vidas do que qualquer outra espécie – no qual os seres humanos mais jovens dependem dos adultos e exibem imensa plasticidade, ou seja, a capacidade de adquirir conhecimento a partir do seu ambiente e de sua cultura. A maior parte dos organismos terrestres depende de sua informação genética que é “preestabelecida” no sistema nervoso em intensidade muito maior do que a informação extragenética, que é adquirida durante toda a vida. No caso dos seres humanos, e na verdade no caso de todos os mamíferos, ocorre exatamente o oposto. Embora nosso comportamento seja ainda bastante controlado pela herança genética, temos, através de nosso cérebro, uma oportunidade muito mais de trilhar novos caminhos comportamentais e culturais em pequena escala de tempo. Fizemos uma espécie de barganha com a natureza: nossos filhos serão difíceis de criar, mas em compensação, sua capacidade de adquirir novo aprendizado aumentará sobremaneira as probabilidades de sobrevivência da espécie humana. Além disso, os seres humanos descobriram nos últimos milênios de nossa existência não apenas o conhecimento extragenético, mas também o extra-somático: informação armazenada fora de nossos corpos, da qual a escrita é o exemplo mais notável.
A escala de tempo para a transformação evolutiva ou genética é muito longa.
O período característico para a emergência de uma espécie adiantada a partir de outra talvez seja de 100 mil anos, e freqüentemente as diferenças de comportamento entre espécies estreitamente relacionadas – digamos, leões e tigres – não parecem muito grandes. Um exemplo da recente evolução dos sistemas orgânicos do homem é o dos nossos dedos dos pés. O dedo grande desempenha importante função no equilíbrio da marcha; os outros dedos têm utilidade muito menos evidente. Naturalmente que evoluíram a partir de apêndices digitiformes próprios para a preensão e o balanço, como ocorreu com os antropóides e macacos. Essa evolução constitui uma reespecialização –
a adaptação de um sistema orgânico, que evoluiu originalmente para desempenhar uma função, a outra função inteiramente diversa – que precisou de mais ou menos 10
milhões de anos para surgir. (Os pés do gorila das montanhas sofreram evolução semelhante, porém bastante independente).
Mas hoje não temos de esperar 10 milhões de anos para o próximo progresso.
Vivemos numa época em que nosso mundo se transforma em velocidade sem precedentes. Embora essas transformações sejam feitas em grande parte por nós mesmos, não podemos ignorá-las. Temos de adaptar, ajustar e controlar, caso contrário pereceremos.
Somente um sistema de aprendizado extragenético poderia, talvez, fazer frente às circunstâncias em rápida muta