Toda a originalidade filosófica de Platão une sutil raciocínio lógico à harmonia formal essencialmente poética, e pode ser apreciada no diálogo O Sofista, um texto fundamental em sua obra.
Embora os sofistas não tenham constituído escola filosófica, eram mestres em retórica e possuíam domínio da cultura geral, em razão do que exerceram significativa influência sobre o ambiente intelectual da Grécia Clássica, entre os séculos V e IV a.C..
Inicialmente, o sofista era aquele que demonstrava excelência em determinada técnica ou arte, praticando-as com habilidade. Ofereceram importante contribuição ao conhecimento da língua grega e sua gramática, bem como ao desenvolvimento da oratória e da retórica. Na pólis grega, o discurso era poderoso instrumental político na hora da tomada de decisões nas assembléias.
Contudo, apenas fragmentos de suas obras restaram e, mesmo assim, por meio de citações de seus opositores. Foi após O Sofista que um sentido negativo passou a aureolar a sofística, cujos adeptos ficaram marcados como criadores de ilusões e manipuladores do discurso, pois usavam – conforme Platão e Aristóteles – o sofisma como forma de raciocínio, com o fim de provocar a perplexidade em seus interlocutores e persuadi-los.
O Sofista é, a rigor, um tratado sobre a linguagem e sua aplicação, no qual verdadeiro e falso são atributos das proposições, o que ressalta a questão do ser e não ser, da aparência e realidade
O DialéticoÍndiceI -II -III iv - -V VI -VII -VIII -IX-X XI - XII A Purificação XIII - XIV - XV XVI - XVII - XVIII Antilogia XIX - XX Mímesis XXI - XXII - XXIII - XXIV - XXV XXVI - XXVII - XXVIII - XXIX - XXX XXXI - XXXII - XXXIII - XXXIV - XXXV XXXVI - XXXVII - XXXVIII - XXXIX - XL XLI - XLII - XLIII - XLIV - XLV XLVI - XLVII - XLVIII - XLIX - L LI - LII
O SOFISTA DE PLATÃO1 - Teodoro - Fiéis, Sócrates, à nossa combinação
de ontem, aqui estamos na melhor ordem. Trouxemos
conosco este Estrangeiro, natural de Eléia; é amigo dos
discípulos de Parmênides e de Zenão, e filósofo de
grande merecimento.Sócrates - Não se dará o caso, Teodoro, de, sem o
saberes, teres trazido um dos deuses em vez de um
Estrangeiro, segundo aquilo de Homero, quando diz
que, de regra, os deuses, e particularmente o que
preside à hospitalidade, acompanham os cultores da
justiça, para observarem o orgulho ou a eqüidade dos
homens? Quem sabe se não veio contigo uma dessas
divindades, para surpreender-nos e refutar-nos -
argumentadores tão fracos todos nós - algum deus
disputador?Teodoro - Não, Sócrates; não é do caráter do nosso
Estrangeiro; ele é mais modesto do que todos esses
amantes de discussões. Não acho, absolutamente, que
o homem seja alguma divindade. Porém divino terá de
ser, sem dúvida; não é outro o qualificativo que costumo dar aos filósofos.
Sócrates - E com razão, amigo. Porém talvez a raça
dos filósofos não seja, por assim dizer, muito mais fácil
de conhecer do que a dos deuses. Em virtude da
ignorância da maioria, esses varões percorrem as
cidades sob as mais variadas aparências,
contemplando, sobranceiros, a vida cá de baixo. Não
me refiro aos pretensos filósofos, porém aos de verdade.
Aos olhos de algumas pessoas, eles carecem em
absoluto de merecimento; para outros, são dignos de
toda a consideração. Ora se apresentam como políticos,
ora como sofistas, havendo, até, quem dê a impressão
de ser completamente louco. Por isso mesmo, gostaria
de perguntar ao nosso Estrangeiro, caso nada tenha a
opor, como pensam a esse respeito lá por suas bandas
e como os denominam.Teodoro - A que te referes?Sócrates - Sofista, político, filósofo.Teodoro - Mas, ao certo, de que se trata, que te
deixa tão alvoroçado, para interrogá-lo desse modo?Sócrates - É o seguinte: desejo saber se seus
compatriotas os classificam num só gênero ou em dois;
ou ainda, visto tratar-se de três nomes, se atribuem um
gênero diferente para cada nome?Teodoro - A meu ver, ele não se esquivará de
elucidar-nos esse ponto. Ou que diremos, Estrangeiro?Estrangeiro - Isso mesmo, Teodoro. Não me
negarei, absolutamente, nem há dificuldade em dizer
que os distribuem em três gêneros. Porém definir com
exatidão o que venha a ser cada um, não é tarefa
pequena nem fácil.Teodoro - Nem de propósito, Sócrates; sugeres um
tema assaz parecido com o assunto sobre que o
interrogamos pouco antes de virmos para cá. Suas
desculpas de agora são em tudo iguais às que nos
apresentou, conquanto admitisse que sobre isso já
ouvira muitas discussões e que nada havia esquecido
de quanto conversara.II - Sócrates - Sendo assim, Estrangeiro, não te es
[cuse]s* de satisfazer ao nosso primeiro pedido. Diz-nos
apenas se, por uma questão de hábito, preferes
desenvolver num discurso corrido o tema que te
propões apresentar, ou seguir o método de perguntas, a
exemplo do outrora fez Parmênides na minha presença?
Foi uma discussão memorável; nesse tempo, eu era
muito moço e ele já de idade avançada.
Estrangeiro - Quando se acha, Sócrates, um
interlocutor dócil e complacente, é mais agradável o
diálogo; não sendo isso possível, será melhor falar
apenas um.Sócrates - Depende de ti convidar dentre os
presentes quem te aprouver; todos te ouvirão de muito
bom grado. Porém se me aceitares um conselho, sugiro
escolheres um dos jovens, Teeteto, por exemplo, ou
quem julgares mais indicado.Estrangeiro - S