O gênio que previu a eleição de Obama e desbancou analistas e comentaristas políticos de todo o mundo revela seus segredos na não-ficção O sinal e o ruído. Nate Silver já foi eleito uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time e seu blog já atingiu 20% do tráfego do site do New York Times. Ter acesso à informação nunca foi tão fácil. Mas como identificar o que é de fato relevante em meio a um volume cada vez maior de dados?
Em seu livro, Silver examina casos de sucessos e fracassos para determinar o que os melhores previsores têm em comum em diversos campos de atividade, como ao avaliar o desempenho de um político em campanha, o estrago esperado de um furacão ou o avanço de uma epidemia perigosa.
Formado em economia, Nate Silver emprega um sofisticado sistema estatístico em um universo predominado por mera intuição e análises políticas muitas vezes inconsistentes. Seu sistema, que obrigará os demais analistas a se preocupar mais com probabilidade, pode ser aplicado em tudo: pôquer, xadrez, esportes e até no aquecimento global.
SOBRE O AUTOR
© Robert Gauldin
Nate Silver é estatístico, escritor e fundador do blog sobre política FiveThirtyEight, do New York Times, e ganhou notoriedade por aliar análise estatística às campanhas eleitorais; Silver foi certeiro ao cravar que Barack Obama venceria as eleições presidenciais, bem como ao indicar os ocupantes das cadeiras no Senado e nos governos estaduais nas eleições americanas de 2008 a 2012. Foi incluído na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo feita pela revista Time em 2009.
UM ERRO DE PREVISÃO
CATASTRÓFICO
Era 23 de outubro de 2008. O mercado de ações estava em queda livre, já havia despencado quase 30% ao longo das cinco semanas anteriores. Empresas antes prestigiosas, como o Lehman Brothers, haviam falido. Os mercados de crédito praticamente pararam de funcionar. Residências em Las Vegas perderam quase 40% do seu valor.1 O índice de desemprego disparava. Centenas de bilhões de dólares foram destinados a empresas financeiras à beira da falência. O índice de confiança no governo americano era o mais baixo já aferido pelas pesquisas de opinião.2 Os Estados Unidos estavam a menos de duas semanas da eleição presidencial.
Normalmente inativo às vésperas de uma eleição, o Congresso estava em atividade frenética. As leis recém-aprovadas, que possibilitavam o salvamento de empresas em dificuldade, seriam certamente impopulares3 e era preciso emitir um sinal claro de que os culpados seriam punidos. A Comissão de Supervisão da Câmara convocou para depor os responsáveis pelas três maiores agências de classificação de risco de crédito — Standard & Poor’s (S&P), Moody’s e Fitch Ratings. Cabia a elas avaliar a probabilidade de que trilhões de dólares em títulos lastreados em hipotecas caíssem em inadimplência. Para usar um eufemismo, parecia que tinham errado feio.
A pior entre muitas previsões ruins
A crise do fim da década de 2000 é vista, com frequência, como um fracasso das instituições financeiras e públicas. Tratou-se obviamente de um desastre econômico de proporções gigantescas. Em 2011, quatro anos depois do início oficial da grande recessão, a economia americana ainda se encontrava quase 800 bilhões de dólares abaixo do seu potencial produtivo.4
Estou convencido, porém, de que a melhor maneira de encarar a crise é tratá-la como um erro de avaliação: uma falha catastrófica na previsão. Esses enganos de previsão disseminaram-se por toda parte e praticamente em cada estágio — durante, antes e depois da crise —, envolvendo a todos, dos corretores de hipotecas à Casa Branca.
Os erros de previsão mais trágicos costumam ter muito em comum. Concentramos nossa atenção nos indícios que contam uma história sobre um mundo ideal, não sobre o mundo real. Ignoramos os riscos mais difíceis de aferir, mesmo quando oferecem as maiores ameaças ao nosso bem-estar. Fazemos estimativas e suposições a respeito do mundo que são muito mais rudimentares do que nos damos conta. Temos horror à incerteza, mesmo quando se trata de uma parte irredutível do problema que estamos tentando resolver. Se quisermos chegar ao cerne da crise financeira, devemos primeiro identificar o maior dos fracassos de previsão, uma suposição que desencadeou todos esses erros.
As agências de risco tinham atribuído a classificação AAA, normalmente reservada ao pequeno grupo de governos em excelente situação e de empresas muito bem administradas, a milhares de títulos lastreados em hipotecas, instrumentos financeiros que permitiam a investidores apostar na probabilidade de alguém ficar inadimplente no pagamento das hipotecas de suas casas. As avaliações emitidas por essas empresas têm o objetivo explícito de funcionar como uma previsão: elas estimam a probabilidade de uma parte dessas dívidas resultar em calote.5 A Standard & Poor’s, por exemplo, disse aos investidores que, ao atribuir a classificação AAA a um tipo especialmente complexo de título, conhecido como collateralized debt obligation (CDO),II existia uma probabilidade de apena