O Presidente Negro – Monteiro Lobato

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Em seu primeiro romance para adultos, Monteiro Lobato aborda temas polêmicos como a segregação entre brancos e negros e a guerra dos sexos. Ainda prevê a futura hegemonia asiática em uma época em que a China, o gigante industrial do terceiro milênio não passava de um país quase feudal e totalmente dilacerado.
Neste livro também aparece o Teatro Onírico, que fixa os sonhos na tela de cinema, desmistificando as teorias freudianas ao transformar os fluxos do inconsciente em entretenimento de massa.
Ele intuiu também os experimentos científicos semelhantes aos clones atuais, em que seres humanos criados pela Corporação Psíquica de Detroit desdobravam-se, multiplicando os cinco sentidos.
Após o período em que viveu nos EUA, Monteiro Lobato afirmou que a América retratada neste livro estava de acordo com o que encontrara.

    MONTEIRO LOBATO O PRESIDENTE NEGRO 13a. EDIÇÃO   Nota dos Editores Este romance de Monteiro Lobato, escrito em três semanas para o rodapé da MANHÃ, de Mario Rodrigues, no ano de 1926, antes da partida do autor para os Estados Unidos, constitui uma verdadeira curiosidade literária. Embora aparentemente uma "brincadeira de talento", encerra um quadro do que realmente seria o mundo de amanhã, se fosse Lobato o reformador — e em muitos pontos havemos de concordar que sob aparências brincalhonas brilha um pensamento de grande penetração psicológica e social. O conserto do mundo pela eugenia, o ajuste do casamento por meio das "ferias conjugais", a criação da cidade de Eropolis, o teatro onírico... Como H. G. Wells, Monteiro Lobato talvez não tenha imaginado coisas, e sim apenas antecipado coisas. ({1})                   O PRESIDENTE NEGRO ou O CHOQUE DAS RAÇAS (ROMANCE AMERICANO DO ANO 2228) ({2})       CAPÍTULO I O Desastre Achava-me um dia diante dos guichês do London Bank á espera de que o pagador gritasse a minha chapa, quando vi a cochilar num banco ao fundo certo corretor de negócios meu conhecido. Fui-me a ele, alegre da oportunidade de iludir o fastio da espera com uns dedos de prosa amiga. — Esperando sua horinha, hein? disse-lhe com um tapa amigável no ombro, enquanto me sentava ao seu lado. — É verdade. Espero pacientemente que me cantem o numero, e enquanto espero filosofo sobre os males que traz á vida a desonestidade dos homens. — ? — Sim, porque se não fosse a desonestidade dos homens tudo se simplificaria grandemente. Esta demora no pagamento do mais simples cheque, donde provém? Da necessidade de controle em vista dos artifícios da desonestidade Fossem todos os homens sérios, não houvesse hipótese de falsificações ou abusos, e o recebimento de um dinheiro far-se-ia instantâneo Ponho-me ás vezes a imaginar como seriam as coisas cá na terra se um sábio eugenismo desse combate á desonestidade por meio da completa eliminação dos desonestos Que paraíso! — Tem razão, concordei eu, com os olhos parados de quem pela primeira vez reflete uma ideia. A vida é complicada, existem leis, polícia, embaraços de toda espécie, burocracia e mil peia?, tudo porque a desonestidade nas relações humanas constitue, como dizes, um elemento constante. Mas é mal sem remédio.. E por aí fomos, no filosofar vadio de quem não possue coisa melhor a fazer e apenas procura matar o tempo. Passamos depois a analisar vários tipos ali presentes, ou que entravam e saíam, na azafama peculiar aos negócios bancários. O meu amigo, frequentador que era dos bancos, conhecia muitos deles e foi-me enumerando particularidades curiosas relativas a cada qual. Nisto entrou um velho de aparência distinta, já um tanto dobrado pelos anos. — E aquele velho que ali vem? perguntei. — Oh! Aquele é um caso sério. O professor Benson, nunca ouviu falar? — Benson... Esse nome me é desconhecido. — Pois o professor Benson é um homem misterioso que passa a vida no fundo dos laboratórios, talvez á procura da pedra filosofal.   Sábio em ciências naturais e sábio ainda em finanças, coisa ao meu ver muito mais importante. E tão sábio que jamais perde. — Dou-me com esses rapazes todos que trabalham nas seções de cambio e por eles sei deste homem coisas impressionantes. Benson joga no cambio, mas com tal segurança que não perde. — Sorte! — Não é bem sorte. A sorte caracteriza-se por um afluxo de paradas felizes, por uma media mais alta de lucro do que de perda.  Mas Benson não perde nunca. — Será possível? — É mais que possível, é fato. Deve possuir hoje enorme fortuna. Mora em um complicado castelo lá dos lados de Friburgo, mas não cultiva relações sociais. Não tem amigos, ninguém ainda viu o interior do casarão onde vive em companhia de uma filha, servido por criados mudos, ao que dizem. Você sabe que depois da guerra o mundo inteiro jogou no marco alemão. — Sei, sim, e fui uma das vitimas... — Pois o mundo inteiro perdeu, menos ele. — Absurdo! Só s
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