Tradução de “Maske: Thaery”, 1976. Nos confins da galáxia, numa região pouco visitada, cintila a estrela Mora com seus planetas gêmeos Masque e Skay, colonizados pelo homem em épocas remotas. Masque é hoje um planeta dividido em raças e países nem sempre pacíficos. Esta é a saga do jovem Jubal Droad, que parte em busca da fortuna e da reconquista de seus direitos, e envolve-se numa teia de intrigas e de crimes, enfrentando as mais estranhas peripécias, até um desfecho surpreendente.
O Planeta Duplo – Jack Vance
JACK VANCE
Planeta Duplo
CÍRCULO DO LIVRO
Edição integral
Título do Original: "Maske: Thaery"
Tradução: Mário Molina
PRÓLOGO
A margem oriental {1} do Braço de Gaea é limitada por uma notável bolsa de vácuo: a Grande Cova. A região é praticamente inexplorada, pois os astronautas não encontraram estímulo para penetrar nela. Mais adiante, paira o Veio de Zangwill, uma graciosa faixa de estrelas de reputação funesta. A Grande Cova, portanto, é um lugar solitário.
Bem no centro da Grande Cova, pende a estrela Mora. Dois de seus mundos anexos, Masque e Skay, compõem essa extravagância celeste — um planeta duplo. Um atrás do outro, Masque e Skay descrevem sua órbita em torno de Mora, girando, um contra o outro, em trabalhoso epiciclo.
Tanto Skay quanto Masque são habitados. Ninguém sabe quantas levas de migração humana cruzaram a Grande Cova na direção de Mora; talvez não mais que duas. Os últimos recém-chegados, um contingente de catorze naves de Renunciantes Credenciais do universo Diosopheda, descobriram em Masque e Skay um povo de grande antigüidade, humano mas consideravelmente afastado do Homo gaea: o saidanês, de uma espécie que se tornou conhecida como Homo mora.
Com o Veio de Zangwill obstruindo o caminho, as catorze naves pousaram em Masque. Expulsaram os saidaneses de uma região a que deram o nome Fantaeria, em homenagem a Eus Fantário, explanador da Verdadeira Fé. A companhia da 13.a nave não queria admitir a "Tripla Divindade" de Eus Fantário e foi banida para Clarim, uma península disponível e pedregosa, a oeste de Fantaeria. Os "Irredimíveis" da 14.a nave recusaram-se a reconhecer tanto a Fé quanto a sublimidade de Eus Fantário; foram afastados de Fantaeria. A nave espatifou-se nas montanhas de Dohobay, ao que tudo indica após o ataque de um par de Galeras da Fé, e assim desapareceu da história.
As doze companhias repartiram Fantaeria em doze distritos e organizaram um Estado em estrita conformidade com os preceitos da Fé. Diosopheda, seu mundo de origem, tornou-se um exemplo de tudo a ser evitado. Diosopheda era urbanizado; Fantaeria seria bucólico. Os diosofídios controlavam as forças da natureza e preferiam ambientes artificiais; os fantários dedicaram-se a paisagens e substâncias naturais. Os diosofídios eram frívolos, debochados, irreverentes para com a autoridade, inclinados à novidade, à sensação artificial e à emoção viçaria. Os fantários devotaram-se ao dever, à simplicidade, ao respeito pela posição social.
Em Clarim, a companhia da 13.a nave, adaptando-se ao rude ambiente, isolou-se dos fantários e transformou-se na população clarímia. Cada grupo via o outro em termos caricaturais. Em Fantaeria, "clarímio" tornou-se sinônimo de "rústico", "grosseiro", "rude", enquanto para um clarímio "fantário" significava "errante", "misterioso", "artificioso demais".
Muitos clarímios puseram-se a navegar o Longo Oceano; aos poucos, esses marinheiros desenvolveram o conceito de "nacionalismo naval". Outros clarímios, notadamente as famílias residentes nas Altas Marcativas, tornaram-se bandidos, pilhando os depósitos de Isedel, e mesmo de Swing e Glistelamet, em busca de ferramentas, textura fabril e riqueza. Os fantários pagavam na mesma moeda, servindo-se das mulheres de guerreiros saidaneses, os chamados "perruptos", mas somente após três séculos foi a população clarímia subjugada, em conseqüência do quê, de fato, Clarim tornou-se o 13.° distrito de Fantaeria.
Por toda parte, em Masque, as posições revestiram-se de novas formas. Os Irredimíveis que sobreviveram à destruição da 14.a nave finalmente reapareceram como os fôntones de Fônton e as várias tribos de Dohobay. Os saidaneses, confinados ao Alto e Baixo Djanad, ficaram conhecidos como a população "djan" e persistiram em seus incompreensíveis costumes antigos. Eles não manifestavam nem curiosidade nem rancor para com aqueles que os tinham conquistado; o mesmo ocorria com os saidaneses de Skay.
Séculos se passaram, eras de vítr