O Passado é um Lugar – Tana French

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Em 1985, Frank Mackey tinha 19 anos e crescia na parte pobre de Dublin, vivendo amontoado no pequeno apartamento com sua família em Faithful Place. Mas ele tinha sua cabeça em outro lugar. Ele e Rosie Daly estavam prontos para fugir para Londres juntos. Casaria, conseguiria um bom emprego e romperia de vez com a vida de pobreza e o trabalho pesado na fábrica. Mas na noite de inverno, quando eles deveriam partir Rosie não apareceu. Frank tinha certeza de que ela tinha desistido, terminando tudo com ele por causa de seu pai alcoólatra e sua mãe instável. Frank nunca voltou para casa. Nem Rosie.

Todo mundo achava que ela tinha ido para a Inglaterra por si própria e estava vivendo uma vida nova e brilhante. Então, 22 anos depois a mala de Rosie aparece atrás de uma lareira de uma casa abandonada em Place Fiel, e Frank terá de voltar para casa, gostando ou não.

Frank se encontra preso de volta em linha reta a um emaranhado de relações que ele deixou para trás. Os policiais que trabalham no caso querem ele fora do caminho. Os moradores de Faithful Place querem ele longe, porque ele agora é detetive e o lugar nunca gostou de policiais. Frank só quer descobrir a verdade sobre o que aconteceu com Rosie Daly e ele está disposto a fazer o que for preciso para encontrar as respostas.

Tana French O PASSADO É UM LUGAR Tradução de Waldéa Barcellos Para Alex AGRADECIMENTO: Trechos de “The Rare Ould Times” e de “The Ferryman” estão reproduzidos com autorização de Pete St. John. PRÓLOGO Em toda a nossa vida, somente alguns momentos importam. Na maior parte dos casos, só se consegue dar uma boa olhada neles em retrospectiva, muito depois de eles terem passado velozes por nós: o instante em que decidiu falar com aquela garota, baixar a velocidade naquela curva fechada, parar e procurar aquela camisinha. Eu tive sorte, acho que se poderia dizer que sim. Cheguei a ver um dos meus momentos frente a frente, e a reconhecer seu significado. Cheguei a sentir o repuxo da correnteza da minha vida turbilhonando em torno de mim, numa noite de inverno, enquanto esperava no escuro no alto de Faithful Place. Eu estava com 19 anos, adulto o suficiente para enfrentar o mundo e jovem o suficiente para ser um idiota de dezenas de maneiras; e naquela noite, assim que meus dois irmãos estavam roncando, escapuli do nosso quarto com minha mochila nas costas e as botas Doc penduradas na mão. Uma tábua do assoalho rangeu e, no quarto das meninas, uma de minhas irmãs murmurou dormindo, mas naquela noite eu me sentia mágico, surfando naquela onda perfeita, irrefreável. Meus pais nem mesmo se viraram no sofá-cama, enquanto eu passava pela sala de estar, perto o bastante para tocar neles. A lareira tinha se apagado quase totalmente, a não ser por um clarão vermelho que chiava. Na mochila estava tudo de importante que eu possuía: jeans, camisetas, um rádio de segunda mão, cem libras e minha certidão de nascimento. Era só disso que se precisava para fazer a travessia para a Inglaterra naquela época. Rosie estava com as passagens da balsa. Esperei por ela no fim da rua, nas sombras fora do círculo enevoado de luz amarela do poste. O ar estava frio como vidro, com um aroma de queimado do lúpulo que vinha da fábrica da Guinness. Eu estava com três pares de meias por dentro das botas e com as mãos no fundo dos bolsos da minha parca do exército alemão, e escutei uma última vez minha rua viva e descendo pelas longas correntes da noite. Uma mulher rindo, Ah, agora, quem disse que você podia, uma janela se fechando com violência. O escarafunchar de um rato passando sobre tijolos, um homem tossindo, o ruído de uma moto logo depois da esquina, os resmungos graves e ferozes do maluco do Johnny Malone no porão do nº 14, ninando a si mesmo com a própria voz. Em algum lugar, barulhos de um casal, gemidos abafados, batidas ritmadas, e pensei no cheiro do pescoço de Rosie e abri um sorriso para o céu. Ouvi os sinos da cidade batendo à meia-noite, a igreja de Cristo, a St. Patrick, a St. Michan, enormes notas redondas tombando do céu como uma celebração, anunciando a chegada secreta de nosso próprio Ano-Novo. Quando eles assinalaram uma hora, senti medo. Um rastro de leves baques e farfalhadas ao longo dos quintais dos fundos, e me empertiguei, a postos, mas não foi ela que chegou pulando por cima do último muro. Provavelmente alguém voltando sorrateiro para casa, tarde e com culpa, entrando por uma janela. No nº 7, o filhinho mais novo de Sallie Hearne chorou, um lamento fraco, derrotado, até ela conseguir despertar a muito custo e cantar para ele. I know where I’m going… Painted rooms are bonny… Quando bateram duas horas, a possibilidade de um engano me atingiu como um chute no estômago e me levou direto ao último muro para entrar no quintal do nº 16, condenado desde antes de eu nascer, colonizado por nós, garotos, que não fazíamos caso dos avisos assustadores, coalhado de latas de cerveja, guimbas e virgindades perdidas. Subi pela escada podre de quatro em quatro degraus, sem me importar com quem ouvisse. Tive certeza, já até podia vê-la, furiosa, os cachos cor de cobre, os punhos nos quadris: Onde é que você estava, porra? Tábuas lascadas no assoalho, buracos no reboco, entulho, correntes de ar geladas e escuras, e ninguém. No quar
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