Pat Peoples, um ex-professor na casa dos 30 anos, acaba de sair de uma instituição psiquiátrica. Convencido de que passou apenas alguns meses naquele “lugar ruim”, Pat não se lembra do que o fez ir para lá. O que sabe é que Nikki, sua esposa, quis que ficassem um “tempo separados”. Tentando recompor o quebra-cabeças de sua memória, agora repleta de lapsos, ele ainda precisa enfrentar uma realidade que não parece muito promissora. Com seu pai se recusando a falar com ele, a esposa negando-se a aceitar revê-lo e os amigos evitando comentar o que aconteceu antes da internação, Pat, agora viciado em exercícios físicos, está determinado a reorganizar as coisas e reconquistar sua mulher, porque acredita em finais felizes e no lado bom da vida. Uma história comovente e encantadora, de um homem que não desiste da felicidade, do amor e de ter esperança.
O Lado Bom da Vida – O livro que inspirou o filme estrelado por Bradley Cooper e Jennifer Lawrence – Matthew Quick
A
O LADO BOM DA VIDA
Matthew Quick
O LADO BOM
DA VIDA
Para Alicia... la raison
Um número infinito de dias até
meu inevitável reencontro com Nikki
Não preciso olhar para cima para saber que mamãe está fazendo
outra visita surpresa. Suas unhas dos pés estão sempre cor-de-
rosa nos meses de verão, e eu reconheço o motivo floral impresso
em suas sandálias de couro; ela as comprou na última vez em
que me tirou do lugar ruim e me levou ao shopping.
Mais uma vez, mamãe me encontrou de roupão, exercitando-
me sozinho no pátio, e eu sorrio por saber que ela vai gritar com
o Dr. Timbers, perguntando por que preciso ficar preso aqui se
vou ser deixado sozinho o dia inteiro.
— Quantas flexões exatamente você vai fazer, Pat? —
pergunta mamãe quando começo a segunda série de cem sem
falar com ela.
— Nikki... gosta... de... homens... com... peitoral... forte —
respondo, pronunciando uma palavra a cada flexão, saboreando
as gotas salgadas de suor que escorrem para dentro de minha
boca.
O calor de agosto é forte, ideal para queimar gordura.
Mamãe me observa por cerca de um minuto e, então, ela me
choca. Sua voz vacila ao dizer:
— Quer vir para casa comigo hoje?
Paro as flexões, viro o rosto para minha mãe, sou ofuscado
pelo sol intenso do meio-dia... e vejo imediatamente que ela está
falando sério, porque parece preocupada, como se estivesse
cometendo um erro, que é como minha mãe fica quando está
falando sério de verdade, em vez de apenas falar sem parar por
horas a fio sempre que não está preocupada ou com medo.
— Desde que prometa que não vai procurar Nikki outra vez
— acrescenta —, você pode finalmente voltar para casa e morar
comigo e com seu pai até lhe arranjarmos um emprego e o
instalarmos em um apartamento.
Volto para minhas flexões, mantendo os olhos fixos em uma
formiga preta e brilhante escalando uma folha de grama embaixo
de meu nariz, mas minha visão periférica captura as gotas de
suor que escorrem pelo meu rosto e pingam no chão.
— Pat, só diga que vai voltar para casa comigo, e eu vou
cozinhar para você e você poderá visitar seus velhos amigos e
finalmente dar continuidade à sua vida. Por favor. Eu preciso
que você queira isso. Por mim, Pat. Por favor.
Flexões duas vezes mais rápido, meu peitoral ardendo,
crescendo... dor, calor, suor, mudança.
Não quero ficar no lugar ruim, em que ninguém acredita no
lado bom das coisas, no amor ou em finais felizes, e onde todo
mundo me diz que Nikki não vai gostar de meu novo corpo, nem
vai querer me ver quando acabar o tempo separados. Mas
também tenho medo de que as pessoas de minha antiga vida não
sejam tão entusiásticas quanto estou tentando ser agora.
Ainda assim preciso me afastar dos médicos deprimentes e
das enfermeiras feias — com seus intermináveis comprimidos
em copinhos descartáveis — se quiser começar a pensar direito,
e já que mamãe será muito mais fácil de enganar do que os
profissionais de saúde, eu me levanto e digo:
— Só vou morar com vocês até o fim do tempo separados.
Enquanto mamãe assina os documentos, tomo um último
banho em meu quarto e em seguida encho a mochila com roupas
e o porta-retratos com a foto de Nikki. Eu me despeço de meu
colega de quarto, Jackie, que apenas me olha de sua cama como
sempre faz, a baba escorrendo de seu queixo como um fio de mel
claro. Pobre Jackie, com seus tufos de cabelo aleatórios, sua
cabeça de formato estranho e seu corpo flácido. Que mulher
poderia amá-lo?
Ele pisca para mim. Encar