O autor de clássicos de ficção científica, Robert A. Heinlein, criou, neste livro, mundos com tal riqueza de detalhes e habitados por indivíduos tão vigorosamente vivos e interessantes que os leitores nunca se cansarão de voltar a eles. Esta obra do mestre inigualado da ficção científica constitui uma visão divertida, instigadora e sábia dos mundos do futuro — mundos de possibilidades e esperanças, perigo e amor, nos quais a História enlouqueceu, e homens e mulheres tentam controlar o destino (e mudá-lo antes que o pior aconteça), trafegando nas dimensões do tempo e do espaço.
Em O Gato que Atravessa Paredes, seguimos as pegadas do coronel Colin Campbell, conhecido também como dr. Richard Ames, quando não como senador Richard Johnson, uma personagem bem de acordo com a fina tradição de Heinlein, que combina em uma só pessoa o filósofo, o soldado e o aventureiro, e da enigmática e inesquecível Gwen, em uma aventura alucinante que é parte Tom Jones, parte Guerra nas Estrelas e parte A Máquina do Tempo — e infalivelmente Heinlein. De condomínios de luxo em órbita e da atmosfera (atmosfera?) de fronteira selvagem da Lua aos mundos do passado e do futuro, o leitor é convidado a visitar (ou revisitar) lugares simultaneamente conhecidos e estranhos, reais e fantásticos, que só este emérito contador de histórias poderia criar.
Nestas páginas, o leitor reencontrará o mais inventivo dos autores de ficção científica no auge de seus poderes criativos, mais desafiante e provocador do que nunca, sonhador e profeta, o incomparável Robert A. Heinlein, quatro vezes vencedor do cobiçado Prêmio Hugo, a láurea máxima da ficção científica, e galardoado com o Grande Prêmio Nébula pelo conjunto de obra.
O Gato Que Atravessa Paredes – Robert A. Heinlein
Robert A. Heinlein
O GATO QUE ATRAVESSA PAREDES
Uma Comédia de Costumes
Título original: The cat who walks through walls
Tradução: Ruy Jungmann
Capa: Felipe Taborda
Editora Bertrand Brasil, 1990
ISBN 85-286-0099-8
Para Jerry e Larry e Harry
e Dean e Dan e Jim Poul, Buz e Sarge,
(Homens que convém termos ao nosso lado)
R.A.H.
Ah, Amor! pudéssemos você e eu com Ele cooperar,
Para compreender todo este triste Esquema de Coisas,
Como o reduziríamos a frangalhos
E o remodelaríamos mais de acordo com os
Desejos do Coração!
Rubayat, de Omar Khayyam
(Estrofe XCIX)
LIVRO UM
Honesto Indiferente
I
"O que quer que faça, você se arrependerá."
Allan McLeod Gray, 1905-1975
— Precisamos de você para matar um homem. Aquele estranho olhou nervoso em volta. Achei que um restaurante cheio de gente não era lugar para uma conversa dessas. O fato é que o alto nível de ruído em volta só dá mesmo uma privacidade limitada.
Sacudi a cabeça, não querendo nada com aquilo.
— Não sou assassino. Matar, para mim, é mais um hobby. Já jantou?
— Não vim aqui para comer. Simplesmente, deixe que eu...
— Ora, não faça cerimônia. Eu insisto...
Ele me aborrecera, interrompendo uma noite com uma garota maravilhosa. Eu lhe pagava na mesma moeda. Não adianta dar corda à má educação. A retaliação se impõe, cortês, mas firme.
A garota, Gwen Novak, dissera que precisava retocar a maquiagem e deixara a mesa. Ao que, o Sr. Anônimo se materializara e se sentara, sem ser convidado. Eu ia lhe dizer que se mandasse quando ele mencionou um nome, Walker Evans.Não há nenhum "Walker Evans".
Em vez disso, o nome é, ou deve ser, uma mensagem enviada por uma entre seis pessoas, cinco homens e uma mulher, um código a me lembrar de uma dívida. É concebível que um pagamento, em prestação, daquela antiga dívida pudesse exigir que eu matasse um homem — possível, mas improvável.
Mas não era concebível que eu matasse alguém por solicitação de um estranho porque ele mencionara aquele nome.
Embora me sentisse obrigado a lhe prestar atenção, nem de longe pensava em deixar que ele estragasse minha noite. Mas já que estava sentado à minha mesa, bem que poderia comportar-se como um convidado.
— Moço, se não quer um jantar completo, experimente as sugestões do maître. Este ragout de lapin com torradas talvez seja rato em vez de coelho, mas o chef aqui dá um jeito para que tenha o sabor de ambrosia.
— Mas eu não quero...
— Por favor. — Ergui a cabeça e captei o olhar de meu garçom. — Morris.
Morris compareceu imediatamente.
— Três ragout de lapin, por favor, Morris, e peça ao Hans que me escolha um vinho branco seco.
— Sim, senhor, Dr. Ames.
— Sirva apenas quando a moça chegar, por favor.
— Certamente, senhor. Esperei até o garçom se afastar.
— Minha convidada volta logo. O senhor tem alguns minutos para se explicar, em particular. Por favor, comece dizendo quem é.
— Meu nome não tem importância. Eu...
— Ora, vamos, senhor! Seu nome. Por favor.
— Mandaram que eu dissesse simplesmente: "Walker Evans".
— Serve, em parte. Mas seu nome não é Walker Evans e eu não faço negócios com um homem que não quer dizer o nome. Diga quem é, e seria bom que tivesse uma carteira de identidade que combinasse com suas palavras.
— Mas... coronel, é muito mais importante dizer quem tem que morrer e por que o senhor é o homem que tem que matá-lo! O senhor tem que reconhecer isso!
— Eu não tenho que reconhecer nada. Seu nome, moço! E sua carteira de identidade. E, por favor, não me chame de "coronel". Eu sou o Dr. Ames.
Tive que erguer o tom para a voz não ser abafada por um rufo de tambores. O último show da noite estava começando. As luzes diminuíram e um projetor focalizou o apresentador.
— Tudo bem, tudo bem! — O inesperado convidado enfiou a mão no bolso e tirou-a trazendo uma carteira. — Mas Tolliver tem que estar morto até o meio-dia de domingo ou todos nós é que estaremos!
Abriu a carteira para me mostrar a cédula de identidade.