Andrew Harlan é um Eterno: membro de uma organização que monitora e controla o Tempo. Um Técnico que lida diariamente com o destino de bilhões de pessoas no mundo inteiro: sua função é iniciar Mudanças de Realidade, ou seja, alterar o curso da História. Condicionado por um treinamento rigoroso e por uma rígida autodisciplina, Harlan aprendeu a deixar as emoções de lado na hora de fazer seu trabalho.
Tudo vai bem até o dia em que ele conhece a atraente Noÿs Lambent, uma mulher que abala suas estruturas e faz com que passe a rever seus conceitos, em nome de algo tão antigo quanto o próprio tempo: o amor. Agora ele terá de arriscar tudo – não apenas seu emprego, mas sua vida, a de Noÿs e até mesmo o curso da História.
Da extensa obra de Isaac Asimov, “O Fim da Eternidade” (publicado originalmente em 1955), junto com a série “Fundação e The Gods Themselves”, está entre os melhores livros escritos pelo autor, e é considerada uma das mais bem-sucedidas histórias de viagem no tempo.
O Fim da Eternidade – Isaac Asimov
ISAAC ASIMOV
O FIM DA ETERNIDADE
Título Original: The End Of Eternity
Tradução: Luiz CARLOS ASCENCIO NUNES
Editora Hemus, 1974
Sumário
1. TÉCNICO
2. OBSERVADOR
3. APRENDIZ
4. COMPUTADOR
5. TEMPISTA
6. ESBOÇADOR DE VIDA
7. PRELÚDIO DO CRIME
8. CRIME
9. INTERLÚDIO
10. ENCURRALADO!
11. CÍRCULO COMPLETO
12. O COMEÇO DA ETERNIDADE
13. ALÉM DO TÉRMINO DA ESCALA
14. O CRIME ANTERIOR
15. BUSCA ATRAVÉS DO PRIMITIVO
16. OS SÉCULOS OBSCUROS
17. O FECHAMENTO DO CÍRCULO
18. O COMEÇO DA INFINIDADE
1. TÉCNICO
Andrew Harlan pisou dentro da caldeira. Seus lados eram perfeitamente redondos e ela se ajustava confortavelmente dentro de um eixo vertical composto de barras largamente espaçadas, que tremeluziam numa neblina invisível, dois metros acima da cabeça de Harlan. Este tomou os controles e acionou calmamente a alavanca de partida da caldeira.
Ela não se moveu.
Harlan não esperava que ela o fizesse. Não esperava nenhum movimento; nem para cima nem para baixo, esquerda ou direita, para frente ou para trás. Contudo, os espaços entre as barras tinham-se fundido numa claridade acinzentada, que era sólida ao toque, porém imaterial para tudo o mais. E havia a pequena agitação em seu estômago, o leve (psicossomático?) traço de vertigem que lhe revelavam que tudo que a caldeira continha, inclusive ele, estava se precipitando para cima na escala do Tempo, através da Eternidade.
Ele tinha embarcado na caldeira no século 575; a base de operações o nomeara dois anos antes. Na época, o século 575 tinha sido o mais distante na escala do Tempo em que ele já tinha viajado. Agora estava dirigindo-se ao século 2456.
Sob circunstâncias normais, ele poderia ter-se sentido um pouco perdido com a perspectiva. Seu século nativo era no distante passado, o século 95, para ser exato.
Era um século rigidamente restringido de poder atômico, levemente rústico, amigo de madeira natural como material para construção, exportadores de certas bebidas destiladas aceitáveis em quase todas as épocas e importadores de sementes de trifólio. Apesar de que Harlan não estivera no século 95 desde que entrara para o treinamento especial e se tornara um Aprendiz, com a idade de quinze anos, havia sempre aquele sentimento de perda quando alguém deixava o "lar". No século 2456, estaria aproximadamente a duzentos e quarenta milênios de sua época natal, e esta distância é considerável, mesmo para um Eterno calejado.
Sob circunstâncias normais, tudo seria assim.
Mas naquele exato momento Harlan estava com um péssimo ânimo para pensar em qualquer coisa, senão no fato de que seus documentos pesavam em seu bolso e seu plano pesava em seu coração. Estava um pouco assustado, um pouco tenso, um pouco confuso.
Foram suas mãos, atuando por si mesmas, que trouxeram a caldeira para o lugar adequado no século correto.
Era estranho que um Técnico sentisse tensão ou nervosismo por alguma coisa. Foi o que disse o Educador Yarrow certa vez:
"Acima de tudo, um Técnico deve ser imparcial. A Mudança de Realidade que ele inicia pode mudar as vidas de cerca de cinqüenta bilhões de pessoas. Um milhão ou mais delas poderiam ser tão drasticamente afetadas, a ponto de serem consideradas novos indivíduos. Sob estas condições, uma atitude emocional é uma desvantagem evidente."
Harlan tirou da mente a lembrança da voz seca de seu professor, com um quase selvagem chacoalhar de cabeça. Naqueles dias, não tinha nunca imaginado que ele tivesse o peculiar talento para aquela mesma posição. Mas a emoção tinha-o atacado, afinal de contas. Não pelos cinqüenta bilhões de pessoas. O que significava para ele, no Tempo, cinqüenta bilhões de pessoas? Havia apenas uma. Uma só pessoa.
Apercebeu-se de que a caldeira estava imóvel e, com uma pequena pausa para coordenar seus pensamentos e situar-se dentro da estrutura mental impessoal e fria que um Técnico deve ter, saiu. A caldeira de que saiu, naturalmente, não era a mesma que aquela em que havia embarcado, no sentido de que não