Nicholas Sparks, o jovem autor deste inesperado bestseller, nunca esqueceu o ensinamento que a relação amorosa dos pais da sua mulher, casados há mais de 62 anos, lhe transmitiu – a possibilidade de viver em estado de paixão mesmo depois de vários anos de convívio. Foi por isso que decidiu escrever este comovente romance de amor que acompanha o enamoramento entre um homem e uma mulher, que só no final das suas vidas concretizam uma paixão arrebatadora.
“Todas as manhãs ele lê para ela, de um caderno desbotado pelo tempo, uma história de amor que ela não recorda nem compreende. Um ritual que se repete diariamente no lar de idosos onde ambos vivem agora. Pouco a pouco, ela deixa-se envolver pela magia da presença dele, do que ele lhe lê, pela ternura dele… E o milagre acontece. A paixão renasce, traspõe o abismo do tempo, o abismo da memória, e por instantes ela volta para ele… Apesar da doença. Mas haverá mais…”
O Diário da Nossa Paixão – The Notebook – Nicholas Sparks
AGRADECIMENTOS
Esta história tornou-se o que hoje é devido a duas pessoas muito especiais, e gostaria de lhes agradecer por tudo o que fizeram. A Teresa Park, a agente que me arrancou à obscuridade: obrigado pela amabilidade, paciência, e pelas muitas horas que gastaste a trabalhar comigo - ficarei grato para sempre por tudo o que fizeste. A Jamie Raab, o meu editor: obrigado pela sabedoria, humor e bom coração. Tornaste esta experiência maravilhosa para mim, e fico feliz por te poder chamar meu amigo.
MILAGRES
Quem sou eu? E como acabará esta história?
O Sol já se levantou e sento-me junto a uma janela que se embaciou com o bafo de uma vida passada. Estou uma figura digna de ser vista, esta manhã: duas camisas, calças grossas, um cachecol enrolado com duas voltas em torno do pescoço e enfiado dentro de uma camisola grossa tricotada pela minha filha há uns trinta aniversários. O termostato no meu quarto está no mais alto que pode agüentar, e um outro aquecedor mais pequeno senta-se diretamente atrás de mim. Estala e geme e vomita ar quente como um dragão de conto de fadas, mas o corpo continua a tremer-me com um frio que nunca partirá, um frio que se foi fabricando durante oitenta anos. Oitenta anos, penso às vezes, e apesar da minha própria aceitação desta minha idade, ainda me surpreende que não tenha conseguido sentir-me quente desde que George Bush foi presidente. E pergunto-me se será assim com toda a gente da minha idade.
A minha vida? Não é fácil de explicar. Não tem sido o percurso naturalmente esplêndido que eu imaginava que pudesse ser, mas também não andei a lutar com os fura-vidas. Calculo que tenha acabado por se parecer mais com um título do tesouro: honestamente estável, mais altas que baixas, e gradualmente tendendo a subir com o tempo. Uma boa compra, uma aquisição sortuda, e aprendi que nem toda a gente pode dizer o mesmo da sua vida. Mas não se iludam. Não sou nada de especial e disto estou certo. Sou um homem vulgar, com pensamentos vulgares, e vivi uma vida vulgar. Não há monumentos dedicados a mim e o meu nome em breve será esquecido, mas amei outra pessoa com toda a minha alma e coração e, para mim, bastou-me sempre.
Os românticos chamar-lhe-iam uma história de amor, os cínicos antes uma tragédia. Para mim tem um bocadinho de ambas, e qualquer que seja o modo como se escolha olhá-la aqui do fim, não se altera o fato de que se trata de uma grande quantidade da minha vida e do caminho que escolhi percorrer. Não tenho queixas a fazer quanto ao meu percurso, nem quanto aos lugares aonde me levou. Talvez que sobre outras coisas pudesse arranjar lamentações suficientes para encher uma tenda de circo, mas o caminho que escolhi tem sido sempre o correto, e não quereria que tivesse sido de outra maneira.
O tempo, infelizmente, não torna fácil o manter do curso. O caminho continua reto como sempre, mas está agora juncado com as pedras e o cascalho que se vão acumulando ao longo de uma vida. Até há três anos teriam sido fáceis de ignorar, mas agora é impossível. Uma doença rola através do meu corpo; já não sou forte nem saudável, e os meus dias vão-se gastando como um velho balão de festa: inerte, esponjoso, e a tornar-se cada vez mais mole com o tempo.
Tusso, e através das pálpebras franzidas espreito o relógio de pulso. Apercebo-me de que é tempo de partir. Levanto-me do meu assento junto à janela e arrasto os pés a atravessar o quarto, parando junto à escrivaninha para apanhar o livro de apontamentos que já li centenas de vezes. Nem sequer lhe dou uma vista de olhos. Em vez disso, enfio-o debaixo do braço e continuo o meu caminho em direção ao lugar aonde tenho que ir.
Caminho sobre um chão de tijoleira de cor branca salpicada de cinzento. Como o meu cabelo, e o cabelo da maioria das pessoas de aqui, embora esta manhã seja eu o único no átrio da entrada. Os outros ainda estão nos seus quartos, sozinhos a não ser pela televisão mas, como eu, já estão acostumados a isso. Se lhe dere