Quando uma modelo problemática cai para a morte de uma varanda coberta de neve, presume-se que ela tenha cometido suicídio. No entanto, seu irmão tem suas dúvidas e decide chamar o detetive particular Cormoran Strike para investigar o caso.
Strike é um veterano de guerra, ferido física e psicologicamente, e sua vida está em desordem. O caso lhe garante uma sobrevida financeira, mas tem um custo pessoal: quanto mais ele mergulha no mundo complexo da jovem modelo, mais sombrias ficam as coisas e mais perto do perigo ele chega.
Um emocionante mistério mergulhado na atmosfera de Londres, das abafadas ruas de Mayfair e bares clandestinos do East End para a agitação do Soho. O chamado do Cuco é um livro maravilhoso. Apresentando Cormoran Strike, este é um romance policial clássico na tradição de P. D. James e Ruth Rendell, e marca o início de uma série única de mistérios.
O Chamado do Cuco – Cormoran Strike – Livro 01 – Robert Galbraith
ROBERT GALBRAITHO
CHAMADODO
CUCOTRADUÇÃO DE RYTA VINAGRE
SOBRE O AUTORRobert Galbraith é pseudônimo de J.K. Rowling, autora da série Harry Potter e de Morte súbita.
Para o verdadeiro Deeby,com muitos agradecimentos
SumárioPrólogoTrês Meses DepoisParte UmParte DoisParte TrêsParte QuatroParte CincoEpílogoDez Dias DepoisCréditos
Por que nasceste com a neve em flocos?Devias vir ao chamado do cucoOu com as uvas verdes nos cachosOu quando andorinhas são bandosEm voo para distanteDo verão agonizante.Por que morrer na tosquia dos anhos?Devia ser quando caem os frutosQuando os gafanhotos se inquietamE os trigais molhados se eriçamE velam ventos arfantesDoçuras agonizantes.CHRISTINA G. ROSSETTI, “Um Lamento”
PRÓLOGOIs demum miser est, cuius nobilitas miserias nobilitat.Infeliz é aquele cuja fama enobrece suas desgraças.LÚCIO ÁCIO, Télefo
O RUMOR NA RUA PARECIA o zumbido de moscas. Fotógrafos se agrupavam em massa atrás de barreiras patrulhadas pela polícia, suas câmeras de focinhos longos aprumadas, o hálito elevando-se como vapor. A neve caía sem parar nos chapéus e nos ombros; dedos enluvados limpavam lentes. Ocasionalmente irrompiam surtos de cliques erráticos, conforme os espectadores preenchiam o tempo de espera batendo instantâneos da tenda de lona branca no meio da rua, da entrada do alto edifício de tijolos aparentes atrás dela e da sacada no último andar de onde o corpo caíra.Atrás dos paparazzi espremidos, alinhavam-se furgões brancos com enormes antenas de satélite no teto e jornalistas falando, alguns em línguas estrangeiras, enquanto operadores de som com seus fones de ouvido pairavam ao redor. Entre as gravações, os repórteres batiam os pés e esquentavam as mãos em copos de café quente da cafeteria movimentada a algumas ruas dali. Para preencher o tempo, os cinegrafistas de gorro de lã filmavam as costas dos fotógrafos, a sacada, a tenda que escondia o corpo, depois se reposicionavam para panorâmicas que englobavam o caos que explodira na sossegada e nevada rua de Mayfair, com suas fileiras de portas pretas e lustrosas emolduradas por pórticos de pedra branca e flanqueadas por arbustos de topiaria. A entrada do número 18 estava isolada com fita. Policiais, alguns peritos forenses em trajes brancos, podiam ser vislumbrados no saguão além do isolamento.As emissoras de televisão já transmitiam a notícia havia horas. Populares se agrupavam em cada extremidade da rua, mantidos ao largo por outros policiais; alguns vieram, propositalmente, para olhar, outros pararam a caminho do trabalho. Muitos erguiam celulares para tirar fotos antes de seguir adiante. Um jovem, sem saber qual era a sacada em questão, fotografou cada uma delas seguidamente, embora a do meio estivesse tomada por uma fila de arbustos bem podados, três globos folhosos elegantes, que mal abriam espaço para um ser humano.Um grupo de jovens trouxera flores e foi filmado entregando-as a policiais, que ainda não haviam decidido onde colocá-las e as dispuseram, constrangidos, na traseira do furgão da polícia, cientes de que as lentes das câmeras acompanhavam cada um de seus movimentos.Os correspondentes enviados por canais de notícias 24 horas mantinham um fluxo constante de comentários e especulações em torno dos poucos fatos sensacionais de que já tinham conhecimento.“...de sua cobertura, por volta das duas da madrugada. A polícia foi avisada pelo segurança do prédio...”“...ainda nenhum sinal de retirada do corpo, o que levou alguns a especularem...”“...não se sabe se ela estava sozinha quando caiu...”“...equipes entraram no prédio e realizarão uma busca completa.”Uma luz fria banhava o interior da tenda. Dois homens estavam agachados ao lado do corpo, prontos para, enfim, transferi-lo para um saco mortuário. A cabeça da mulher sangrara um pouco na neve. O rosto estava esmagado e inchado, um olho reduzido a uma prega, o outro mostrando uma lasca de branco opaco por entre pálpebras distendidas. Quando o top de lantejoulas