Em Notas de um velho safado, a América tem uma cara de 50 anos, corpo de 18 e desfila de calcinha rosa claro e salto alto na madrugada corrosiva de Los Angeles. A América é um sapatão furioso com uma garra metálica no lugar da mão esquerda e não quer saber de transar com o Velho Safado. A América é uma deusa milionária com a qual ele se casa e da qual amargamente se separa. A América é uma prostituta, 150 quilos, um metro e meio de altura, que peida, uiva e destroça a cama quando goza. A América é também estudantes e revolucionários proferindo discursos inflamados em parques ensolarados de São Francisco no final da década de 60. A América é Neal Cassady dirigindo alucinadamente pelas ruas de Los Angeles, pouco tempo antes de morrer de overdose sobre os trilhos de uma ferrovia mexicana. A América é Jack Kerouac e Bukowski poetando na Veneza californiana.
Notas de um velho safado forma um conjunto de histórias excepcionais saídas de uma vida violenta e depravada, horrível e santa. Não podemos lê-lo e seguir sendo os mesmos.
Prefácio
Já faz mais de um ano que John Bryan iniciou o seu jornal alternativo OPEN CITY na sala da frente de uma casa de dois andares que ele alugara. Depois o jornal mudou-se para um apartamento em frente. A seguir, para algum lugar no distrito comercial da Av. Melrose. Mas ainda existe alguma sombra dele, uma sombra grande e melancólica. A circulação aumentou mas a publicidade não está se saindo como deveria. Muito longe dali e na melhor parte da cidade situa-se a L.A. Free Press, que se firmou. E monopoliza os anúncios. Bryan criou o seu próprio inimigo, trabalhando primeiro na L.A. Free Press e aumentando sua circulação de 16.000 para três vezes mais do que isso. É o mesmo que construir o Exército Nacional e depois juntar-se aos Revolucionários. É claro que a batalha não se dá simplesmente entre OPEN CITY vs. FREE PRESS. Se você já leu o OPEN CITY sabe que a batalha é bem maior do que essa. OPEN CITY enfrenta os garotões, os maiores, e têm uns realmente grandes andando no meio da rua, AGORA, e que não passam de uns merdas e muito feios, também. É mais divertido e mais perigoso trabalhar para o OPEN CITY, provavelmente o farrapo mais vivo nos E.U.A. Mas divertimento e perigo dificilmente passam margarina na torrada ou alimentam o gato. Você desiste da torrada e acaba comendo o gato.
Bryan é uma espécie louca e romântica de idealista. Ele pediu demissão, ou foi despedido, ele pediu demissão e foi demitido – tinha muita merda no ar – do seu emprego no Herald-Examiner porque não concordou que aerografassem o pau e as bolas do menino Jesus. E isso na capa de sua revista para a edição de Natal. “E não é nem mesmo meu Deus, é deles”, disse-me ele.
Portanto, esse idealista estranho e romântico criou o OPEN CITY. “Que acha de fazer uma coluna semanal pra nós?”, perguntou-me bruscamente, coçando sua barba vermelha. Bem, vocês sabem, pensando em outras colunas e em outros colunistas, pareceu-me uma coisa terrivelmente chata de fazer. Mas eu comecei, não com uma coluna, mas com uma resenha literária de Papa Hemingway por A. E. Hetchner. Então, um dia depois das corridas, sentei-me e escrevi o cabeçalho, NOTAS DE UM VELHO SAFADO, abri uma cerveja e a escrita se fez por si só. Não existia a tensão ou a impressão cuidadosa com umas lâminas sem fio, necessárias para escrever qualquer coisa para o Atlantic Monthly. Nem havia nenhuma necessidade de simplesmente controlar um jornalismo tolo e descuidado (arghs, jornalismo??). Parecia não existirem pressões. Era só sentar próximo à janela, erguer uma cerveja e deixar que viesse. Tudo que quisesse aparecer, apareceria. E Bryan nunca foi problema. Eu lhe entregava uma cópia – nos primeiros dias – e ele passava os olhos sobre ela e dizia: “Ok, está dentro”. Passado um tempo eu apenas lhe entregava a cópia e ele não a lia; apenas a colocava num cubículo e dizia: “Está dentro. O que há de novo?” Eu apenas lhe entrego a cópia e isso é tudo. Ajudou muito na escrita. Pense nisso você mesmo: liberdade absoluta para escrever qualquer coisa que você quiser. Foi mesmo uma época muito boa, e séria também, às vezes; mas eu senti principalmente, à medida que as semanas iam passando, que a escrita ia ficando cada vez melhor. Esta é uma seleção de aproximadamente catorze meses passados nessas colunas.
Ação, muita ação e poesia de montão. Ter um poema aceito e as chances dele aparecer são entre dois a cinco anos depois e 50 x 1 que ele jamais aparecerá, e que linhas exatamente idênticas às dele surgirão mais tarde, palavra por palavra, num trabalho de algum famoso poeta, e então você saberá que o mundo não é mesmo grande coisa. Naturalmente, isso não é culpa da poesia; só que têm merdas demais tentando imprimi-la e escrevê-la. Mas com estas NOTAS, é sentar com uma cerveja e bater à máquina numa sexta ou num sábado ou num domingo e por volta de quarta-feira a coisa já está circulando por toda a cidade. Eu recebo cartas de pessoas que jamais leram poesia, minha ou de quem quer que seja. As pessoas