Nossa Senhora de Paris – Victor Hugon

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Esta obra, uma das mais famosas de Victor Hugo, várias vezes adaptada ao cinema, narra a história de Esmeralda, a bela e sensual cigana, de Quasimodo, o monstruoso corcunda, sineiro da Catedral e de Cláudio Frollo, o padre que o criou desde tenra idade. O destino destas três personagens entrelaça-se quando o padre se enfeitiça pela deslumbrante bailarina. Mas nesta obra podemos encontrar, acima de tudo, uma interessante análise aos costumes e à sociedade de Paris da altura, abrangendo todas as classes sociais. Victor Hugo dá-nos também a conhecer a história da Catedral de Notre-Dame e faz uma crítica mordaz às várias transformações operadas na Catedral e na própria cidade.

Prefácio Há alguns anos, o autor deste livro, visitando, ou melhor dizendo, esquadrinhando a igreja de Nossa Senhora, encontrou, num escuro recanto das suas torres, a seguinte palavra gravada à mão numa parede: ΑΝΆΓΚΗ (Fatalidade). Estes carateres gregos, já negros de velhos, e profundamente gravados na pedra, não sei que sinais particulares da caligrafia gótica, impressos nas suas formas e nas suas atitudes, como para indicar que fora um punho medieval que os escrevera ali, e principalmente a intenção lúgubre e fatal que contêm, impressionaram vivamente o autor. Perguntou a si mesmo qual podia ser a alma angustiada que não quisera abandonar o mundo sem deixar gravado na fronte da velha igreja esse estigma de crime ou de desgraça. Com o tempo, rebocaram ou rasparam (ignoro qual das duas coisas) a parede, e a inscrição desapareceu. Há uns duzentos anos que é costume fazer isto nos maravilhosos templos da Idade Média. As mutilações procedem de toda a parte, de dentro e de fora. O padre reboca-os, o arcediago raspa-os; depois, vem o povo que os deita por terra. Assim, além da frágil recordação que lhe consagra aqui o autor já nada mais resta hoje da palavra misteriosa gravada na sombria torre de Nossa Senhora, nada do destino ignorado que tão melancolicamente representava. O que escreveu essa palavra nessa parede, apagou-se na memória das gerações há muitos séculos já; a palavra, a seu turno, desapareceu da parede do templo, como este desaparecerá da terra, muito breve talvez. Foi dessa palavra que nasceu este livro. 1 de março, 1831. Livro primeiro I. A grande sala Fazem hoje hoje trezentos e quarenta e oito anos, seis meses e dezanove dias que os parisienses despertaram ao repique de todos os sinos badalando no tríplice recinto da Cité, da Université e da Ville. [1] No entanto, o dia 6 de janeiro de 1482 não figurava nos livros de história. Nada havia de notável no acontecimento que assim agitava, logo de manhã, os sinos e os burgueses de Paris. Nem se tratava de um torneio de picardos ou de borguinhões, [2] nem da condução processional de uma relíquia, nem de uma insubordinação de estudantes na cidade de Laas, nem de uma entrada do nosso muito temido senhor o senhor rei, nem mesmo dum suplício mirabolante de ladrões e ladras na Justiça de Paris. Não era, tão pouco, o aparecimento, tão frequente no século quinze, de qualquer embaixada, agaloada e empenachada. Ainda não eram decorridos dois dias que a última cavalhada deste género, a dos embaixadores flamengos incumbidos de tratar o casamento entre o delfim [3] e Margarida de Flandres, fizera a sua entrada em Paris, com grande pesar do senhor cardeal de Bourbon, que, para ser agradável ao rei, se constrangeu a receber amavelmente toda essa turba rústica de burgomestres [4] flamengos, obsequiando-os, no seu palácio de Bourbon, com representações de autos, comédias e farsas, enquanto a chuva caindo a cântaros lhe inundava à porta os magníficos tapetes. Nesse dia, a 6 de Janeiro, o que agitava de emoção o povo de Paris, como diz Jehan de Troyes, era a dupla solenidade dos Reis e da festa dos Loucos, celebradas ao mesmo tempo, há longos anos já. Nesse dia queimar-se-iam fogueiras na Greve, haveria plantação de maio [5] na capela de Braque e mistério no Palácio da Justiça. De véspera, os alabardeiros do sr. preboste, trajando belas fardas de camelão violeta com cruzes brancas no peito, haviam lançado o pregão pelas encruzilhadas, ao som de trompas. Logo pela manhã, tudo fechado ainda, casas e lojas, a multidão de burgueses e burguesas vindos de todos os pontos da cidade, ia a caminho dos três lugares designados. A escolha estava feita; uns optavam pelas fogueiras, outros pelo mastro, outros pelo mistério. Diga-se sempre em honra do velho bom-senso dos basbaques de Paris, que a maior parte dessa multidão se dirigia para as fogueiras, diversão mais própria da estação, ou para o mistério, que devia ser representado na grande sala do Palácio, bem abrigada e fe
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