Após o sucesso do primeiro volume do Guia prático do português correto, em que trata de nossa ortografia, Cláudio Moreno apresenta aos leitores este segundo volume, onde explica a morfologia das palavras de nosso idioma, isto é, a sua constituição e construção. Como se formam os diminutivos? E o plural das palavras? Qual a forma mais correta, magérrima ou magríssima? Poeta ou poetisa? E por quê? As palavras juiz, árbitro e general têm uma forma feminina? E qual o certo, a personagem ou o personagem?
Sempre com uma linguagem acessível e exemplos concretos, tentando passar ao leitor as principais ferramentas e princípios funcionais da por vezes aparentemente complexa Língua Portuguesa, Moreno se aventura por caminhos pedregosos, como o das palavras compostas e o uso hífen. Com bom humor, explica por que a flexão dos substantivos compostos é diferente da flexão dos adjetivos compostos; por que o plural de vale-transporte é vales-transporte e por que sem-terra não flexiona no plural.
Guia prático do português correto reflete a mais moderna visão do Português, segundo a qual o uso culto define as regras, e não o contrário, e a compreensão e a explicação dos fenômenos lingüísticos substituem as rígidas regras gramaticais
À memória de Joaquim Moreno, meu pai,e de Celso Pedro Luft, mestre e amigo.
ApresentaçãoEste livro é a narrativa de minha volta para casa – ou, ao menos, para essa casa especial que é a língua que falamos. Assim como, muito tempo depois, voltamos a visitar o lar em que passamos nossos primeiros anos – agora mais velhos e mais sábios –, trato de revisitar aquelas regras que aprendi quando pequeno, na escola, com todos aqueles detalhes que nem eu nem meus professores entendíamos muito bem.Quando, há alguns anos, criei minha página no Portal Terra (www.sualingua.com.br), percebi, com surpresa, que os leitores que me escrevem continuam a ter as mesmas dúvidas e hesitações que eu tinha quando saí do colégio nos turbulentos anos 60. As perguntas que me fazem são as mesmas que eu fazia, quando ainda não tinha toda esta experiência e formação que acumulei ao longo de trinta anos, que me permitem enxergar bem mais claro o desenho da delicada tapeçaria que é a Língua Portuguesa. Por isso, quando respondo a um leitor, faço-o com prazer e entusiasmo, pois sinto que, no fundo, estou respondendo a mim mesmo, àquele jovem idealista e cheio de interrogações que resolveu dedicar sua vida ao estudo do idioma.Por essa mesma razão, este livro, da primeira à última linha, foi escrito no tom de quem conversa com alguém que gosta de sua língua e está interessado em entendê-la. Este interlocutor é você, meu caro leitor, e também todos aqueles que enviaram as perguntas que compõem este volume, reproduzidas na íntegra para dar mais sentido às respostas. Cada unidade está dividida em três níveis: primeiro, vem uma explicação dos princípios mais gerais que você deve conhecer para aproveitar melhor a leitura; em seguida, as perguntas mais significativas, com discussão detalhada; finalmente, uma série de perguntas curtas, pontuais, acompanhadas da respectiva resposta.Devido à extensão do material, decidimos dividi-lo em quatro volumes. O primeiro reúne questões sobre Ortografia (emprego das letras, acentuação, emprego do hífen e pronúncia correta). O segundo, questões sobre Morfologia (flexão dos substantivos e adjetivos, conjugação verbal, formação de novas palavras). O terceiro, questões sobre Sintaxe (regência, concordância, crase e colocação de pronomes). O quarto, finalmente, será todo dedicado à pontuação.Sempre que, para fins de análise ou de comparação, foi preciso escrever uma forma errada, ela foi antecedida de um asterisco, segundo a praxe de todos os modernos trabalhos em Linguística (por exemplo, “o dicionário registra obcecado, e não *obscecado ou *obsecado”). O que vier indicado entre duas barras inclinadas refere-se exclusivamente à pronúncia e não pode ser considerado como uma indicação da forma correta de grafia (por exemplo: afta vira, na fala, /á-fi-ta/).
1. Essa palavra existe?Quando você quer saber se uma determinada palavra existe, a quem você recorre? Se responder ao dicionário, você estará se juntando à esmagadora maioria das pessoas que se preocupam com isso. Essa é uma crença comum a falantes de todas as línguas, fazendo o dicionário assumir um lugar tão proeminente e misterioso na vida das pessoas que ele passou a ser denominado de o dicionário, simplesmente, como se ele fosse um só, sempre o mesmo, como o Velho Testamento. Equivocadamente, as pessoas passaram a vê-lo como o registro civil de todo o nosso léxico, uma espécie de cartório de nascimentos onde os falantes podem conferir a existência ou não de um vocábulo.Pois fique sabendo que tudo isso é pura fantasia: nenhum dicionário inclui todas as palavras presentes em uma língua – nem mesmo o OED, o famoso Oxford English Dictionary, com seus vinte volumes maciços; ele, como qualquer outro, também não passa de uma escolha, de uma seleção de palavras feita pelos seus autores. Além disso, pela criatividade infinita que caracteriza as línguas humanas, um dicionário jamais poderá ser uma lista completa, pois assim que uma edição fica pronta, ela já