Após a morte do pai, a ausência torna-se a maior companheira de Lake. A responsabilidade pela mãe e pelo irmão caçula a congelam num limbo de luto e dor. Por fora, ela parece corajosa e tenaz; por dentro, está perdendo as esperanças. E se mudar do único lar que conheceu não ajuda em nada. Agora em uma nova casa, em uma nova cidade, ela precisa achar seu caminho. E um rapaz apaixonado por poesia pode ser o guia perfeito. Quando conhece o novo vizinho, Layken imediatamente sente uma intensa conexão. Algo que finalmente parece desanuviar um pouco sua realidade. Mas o caminho da verdadeira felicidade não é feito de tijolos dourados, e logo uma revelação atordoante faz o novo relacionamento ser bruscamente interrompido. O dia a dia vai se tornando cada vez mais doloroso à medida que eles se esforçam para encontrar um equilíbrio entre os sentimentos que os aproximam e as forças que os separam. Layken e Will precisam decidir se o amor é mesmo a maior das recompensas. E se estão dispostos a tudo para vivê-lo. Até mesmo magoar um ao outro. Na poesia dos dois, talvez a estrofe perfeita seja solitária e ímpar. E amor rime com dor. “Único, diferente de tudo que se vê por aí…Leia!” – Tama Webber, autora de Easy
Métrica (Slammed) – Colleen Hooever
parte
um
1.
I’m as nowhere as I can be,
Could you add some somewhere to me?*
— THE AVETT BROTHERS, “SALINA”
KEL E EU GUARDAMOS AS DUAS ÚLTIMAS CAIXAS NO CAMINHÃO de mudança da U-haul. Puxo a porta para baixo e tranco o ferrolho, fechando lá dentro 18 anos de lembranças, incluindo todas as relacionadas com meu pai.
Ele morreu há seis meses, tempo suficiente para que meu irmão de 9 anos, Kel, não chore mais toda vez que falamos nele. Mas ainda é pouco tempo para aceitarmos as consequências financeiras de se passar a ter um lar com apenas um chefe de família. Um lar incapaz de arcar com os custos de ficar no Texas, na única casa que já conheci.
— Lake, deixe de ser tão pessimista — diz minha mãe, me entregando as chaves da casa. — Acho que você vai adorar o Michigan.
Ela nunca me chama pelo nome na minha certidão de nascimento. Ela e meu pai discutiram por nove meses o nome que eu teria. Ela adorava o nome Layla, em homenagem à música do Eric Clapton. Meu pai adorava o nome Kennedy, em homenagem a qualquer um dos Kennedy.
— Não importa qual Kennedy — dizia ele. — Gosto de todos eles.
Eu tinha quase três dias de vida quando o hospital os obrigou a tomar uma decisão. Eles concordaram em pegar as três primeiras letras de cada nome e chegaram ao meio-termo: Layken. Mas nenhum dos dois jamais se referiu a mim dessa maneira.
Imito o tom de voz da minha mãe.
— Mãe, deixe de ser tão otimista! Eu vou é odiar o Michigan.
Minha mãe sempre teve a capacidade de dar esporro com um único olhar. E é este o olhar que recebo.
Vou até os degraus da varanda e entro na casa para uma checagem final antes de girar a chave pela última vez. Todos os quartos estão sombriamente vazios. Nem parece que estou saindo da casa onde morei desde o dia em que nasci. Os últimos seis meses foram um turbilhão de emoções, todas elas ruins. Era inevitável que nos mudássemos desta casa — isso eu entendo. Só imaginei que isso aconteceria depois que eu terminasse o último ano do colégio.
Estou no meio do que não é mais nossa cozinha quando avisto, debaixo do armário, uma fivela de cabelo, roxa e de plástico, no espaço onde costumava ficar a geladeira. Pego, tiro a poeira e fico brincando com ela entre os dedos.
— Vai crescer de novo — disse meu pai.
Eu tinha 5 anos, e minha mãe havia deixado sua tesourinha na bancada do banheiro. Aparentemente, fiz o que a maioria das crianças daquela idade faz. Cortei meu cabelo.
— Mamãe vai ficar com tanta raiva de mim — gritei. Achei que, se cortasse meu cabelo, ele cresceria de novo no mesmo instante e ninguém perceberia. Cortei um belo pedaço da franja e fiquei sentada na frente do espelho por cerca de uma hora, esperando que o cabelo crescesse. Peguei os fios lisos e castanhos no chão e fiquei segurando, tentando imaginar como é que eu os prenderia de novo na cabeça, e, então, comecei a chorar.
Quando meu pai entrou no banheiro e viu o que eu tinha feito, apenas deu uma gargalhada e me ergueu, sentando-me no balcão.
— A mamãe nem vai notar, Lake — prometeu, enquanto tirava algo do armário do banheiro. — Eu tenho um pouquinho de mágica bem aqui. — Ele abriu a palma da mão e deixou à mostra a fivela roxa. — Enquanto estiver com isso no cabelo, mamãe nunca vai perceber. — Ele afastou os fios restantes e prendeu a fivela. Depois, me virou em direção ao espelho. — Está vendo só? Novinha em folha!
Olhei para o nosso reflexo no espelho e me senti a garota mais sortuda do mundo. Não sabia de nenhum outro pai que tivesse fivelas mágicas.
Usei aquela fivela no cabelo por dois meses, e minha mãe nunca a mencionou. Quando penso nisso hoje, percebo que ele provavelmente contou o que eu tinha feito. Mas, quando eu tinha 5 anos, acreditava na magia dele.
Sou mais parecida com minha mãe do que com ele. Minha mãe e eu temos altura normal. Depois de dois filhos, ela não entra nos meus jeans, mas dividimos todo o resto sem problemas. Nosso cabelo é castanho e, dependendo do clima, fica liso ou ondulado. Os olhos dela são de