O Jogador – Fiódor Dostoiévski

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´O Jogador´ é considerado por Thomas Mann um romance maravilhoso. É uma narrativa de forte e avassaladora tensão, em que os desmandos da alma humana vêm retratados com espantosa profundidade psicológica. Dostoievski conta a história atormentada de Aleksei Ivanovitch, um jovem que, atraído pelo jogo, arrisca o próprio destino, incapaz de resistir ao fascínio da roleta.

Capítulo I Voltei afinal de minha ausência de duas semanas. Há três dias o nosso grupo estava em Roulettenburg e eu pensava que me esperassem com Deus sabe qual impaciência. Me enganei. O general me olhou com um jeito muito autossuficiente, dirigiu-se a mim com arrogância e me encaminhou a sua irmã. Estava claro que haviam conseguido um modo de obter dinheiro. Julgo até que o general sentia um certo constrangimento em me encarar. Maria Felipovna estava muito ocupada e falou comigo apressadamente. No entanto, pegou o dinheiro, contou-o e escutou meu relato. Esperava-se Mézentsov para o jantar, além do francesinho e de um inglês. Como sempre, desde que houvesse dinheiro, haviam organizado um jantar luxuoso à maneira moscovita. Ao me ver, Paulina Alexandrovna me perguntou por que permaneci fora por tanto tempo e desapareceu sem aguardar minha resposta. De certo ela agia assim deliberadamente. Precisamos, portanto, conversar. Tenho muito que lhe dizer. Destinaram-me um quartinho no quarto andar do hotel. Sabem que pertenço à comitiva do general. Eles conseguiram ser notados, é evidente. Aos olhos de todos, o general passa por um riquíssimo senhor russo. Antes do jantar, me deu, entre outras tarefas, a de trocar as cédulas de mil francos. Obtive as moedas no escritório do hotel. Ao menos durante uns oito dias nos veriam como milionários. Procurei Nicha e Nadia para levá-las a um passeio. Mas, da escada, me avisaram que o general queria falar comigo: queria saber onde as levaria. De fato, este homem não consegue me olhar face a face. Ele tenta, mas a cada vez eu lhe respondo com um olhar tão fixo, tão calmo, que ele perde imediatamente a pose. Num discurso pomposo, feito de frases dispostas com solenidade, me explicou que eu deveria passear com as crianças no parque. Por fim, se irritou e disse com dureza: – Pois você talvez fosse capaz de levá-las à roleta. Desculpe-me, acrescentou, mas sei que é bastante estouvado e que poderia ser arrastado pelo jogo. Em todos os casos, embora eu não seja o seu mentor, e este é um papel que não quero, tenho o direito de exigir que o senhor não me comprometa, se posso me exprimir assim. – Acontece que, para perder dinheiro, é preciso tê-lo, respondi tranquilamente. E eu não o tenho. – Vou lhe dar imediatamente, respondeu o general, que ruborizou levemente. Abriu sua escrivaninha, procurou pelo livro de assentamentos e constatou que ainda me devia cento e vinte rublos. – Como faremos este acerto? É preciso convertê-lo em táleres...[1] Pois bem, eis aqui cem táleres redondos. O resto acertaremos mais tarde. Peguei o dinheiro sem dizer palavra. – Não se ofenda com o que vou lhe dizer, por favor. O senhor é tão suscetível!... Se lhe fiz esta observação é, por assim dizer, para preveni-lo. E bem que tenho o direito... Ao retornar com as crianças, antes do jantar, cruzei com uma cavalgada. Nosso grupo ia visitar não sei que ruínas. Duas caleças magníficas, cavalos esplêndidos! Mademoiselle Blanche[2] estava num belo carro juntamente com Maria Felipovna e Paulina. O francesinho, o inglês e o nosso general as escoltavam a cavalo. Os transeuntes paravam para olhar. O efeito havia sido atingido. Mas isso acabaria mal para o general. Calculei que, dos cinquenta e quatro mil francos que eu havia trazido – somados inclusive ao que possa ter emprestado aqui –, eles têm não mais do que sete ou oito mil francos. É muito pouco para a senhorita Blanche. Ela também está em nosso hotel, com sua mãe. Também está hospedado conosco o francesinho, que os criados chamam de monsieur le Comte. A mãe da senhorita Blanche faz com que a tratem como madame la Comtesse. Afinal, por que não seriam realmente comte e comtesse? À mesa, monsieur le Comte não me reconheceu quando nos encontramos. Claro, o general nem sonhava em nos apresentar um ao outro. Quanto ao monsieur le Comte, havia vivido na Rússia e sabia muito bem que um outchitel[3] é um personagem insignificante. Nem é preciso dizer que ele me conhece mui
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