Símbolo de imortalidade e pureza, o Santo Graal até hoje inspira vários escritores. Tornou-se o mais mítico dos objetos, gravado no imaginário d o mundo ocidental. Sua lenda é normalmente ligada às histórias de Artur e a Távola Redonda, mas o inglês Bernard Cornwell transporta a saga de sua busca para o século XIV, em plena Guerra dos Cem Anos. Em ‘O Herege’, terceiro romance da trilogia A Busca do Graal – iniciada com o romance O arqueiro – Bernard Cornwell conta uma saga tão empolgante quanto as aventuras de Artur e seus cavaleiros narradas na série As Crônicas de Artur, que conquistou milhares de fãs mundo afora. Uma fábula sobre guerra e heroísmo que encanta do início ao fim. Mas o livro não se resume a cenas de batalhas bem escritas e reviravoltas cheias de ação e suspense. O material impõe um diferente tratamento à Guerra dos Cem Anos e mostra a importância de outros acontecimentos além das famosas batalhas de Crecy, Poitiers e Azincourt.
Depois de participar do cerco de Calais, o arqueiro inglês Thomas de Hookton reúne um grupo de homens e viaja para o interior da França. Pretende tomar uma fortificação na Gasconha, perto da Astarac de seus antepassados, e assim chamar a atenção de seu primo Guy Vexille, o assassino de seu pai que, como Thomas, também segue a trilha do Santo Graal. Durante a jornada, deixa um rastro de aldeias saqueadas e, em uma delas, salva da fogueira uma jovem acusada de feitiçaria. Uma mulher que faz com que Thomas perca o controle sobre parte de seus guerreiros, ameaçados o sucesso da missão mais importante de sua vida: encontrar maior relíquia de toda a Cristandade. Neste terceiro romance da trilogia “A Busca do Graal”, Bernard Cornwell mais uma vez usa o cenário da Guerra dos Cem Anos para contar uma saga tão empolgante quanto as aventuras de Artur e seus cavaleiros narradas na série “As Crônicas de Artur”, que transformou para sempre a imagem daqueles heróis lendários.
Prólogo
Vinte mil franceses alinhavam-se nas colinas, os estandartes abundantes ao vento que soprava do mar. A auriflama, o sagrado galhardete de guerra da França, estava lá. Era uma bandeira comprida, com três caudas pontudas, uma ondulação vermelho-sangue de preciosa seda, e se a bandeira tinha uma cor viva era porque era nova. A antiga auriflama estava na Inglaterra, um troféu apanhado na larga montanha verde entre Wadicourt e Crécy no verão anterior. Mas a nova bandeira era tão sagrada quanto a antiga, e em torno dela tremulavam os estandartes dos grandes senhores da França: os estandartes de Bourbon, de Montmorency e do conde de Armagnac. Bandeiras menos importantes eram vistas entre as nobres, mas todas proclamavam que os maiores guerreiros do reino de Filipe tinham ido combater os ingleses. No entanto, entre eles e o inimigo estavam o rio Ham e a ponte em Nieulay, que era defendida por uma torre de pedra, em volta da qual os ingleses haviam cavado trincheiras, as quais tinham enchido de arqueiros e soldados. Do outro lado daquela força estava o rio, depois os pântanos, e no terreno mais elevado, perto do alto muro de Calais e seu fosso duplo, havia uma cidade improvisada, de casas e tendas, onde vivia o exército inglês. E um exército como nunca se vira na França. O acampamento dos sitiantes era maior do que a própria Calais. Até onde a vista alcançava havia ruas margeadas por lonas, com casas de madeira e cercados para cavalos, e entre eles havia soldados e arqueiros. A auriflama bem que poderia ter ficado enrolada.
— Nós podemos tomar a torre, majestade. — Sir Geoffrey de Charny, soldado valente como qualquer outro no exército de Filipe, fez um gesto para baixo da montanha, no ponto em que a guarnição inglesa de Nieulay estava isolada do lado francês do rio.
— com que finalidade? — perguntou Filipe.
Ele era um homem fraco, hesitante em combate, mas a pergunta era pertinente. Se a torre caísse e, com isso, a ponte de Nieulay ficasse em seu poder, de que serviria ela? A ponte simplesmente levava a um exército inglês ainda maior, que já se dispunha em ordem de batalha na terra firme à beira do acampamento.
Os cidadãos de Calais, com fome e sem esperança, viram os estandartes franceses na crista sul e responderam pendurando as bandeiras deles em suas defesas. Eles exibiam imagens da Virgem, retratos de S. Denis da França e, no alto da cidadela, a bandeira real azul e amarelo, para dizer a Filipe que seus súditos ainda viviam, ainda lutavam. Mas a brava exibição não conseguia esconder o fato de que tinham ficado sitiados por onze meses. Eles precisavam de ajuda.
— Tome a torre, majestade — insistiu Sir Geoffrey, — e depois ataque o outro lado da ponte! Meu bom Cristo, se os malditos nos virem conseguir uma única vitória, poderão perder o ânimo!
Um grunhido de concordância veio dos senhores reunidos.
O rei estava menos otimista. Era verdade que a guarnição de Calais ainda resistia, e que os ingleses praticamente não tinham danificado os muros da cidade, ainda menos encontrado um meio de atravessar os fossos gêmeos. Mas também os franceses não haviam conseguido levar suprimento algum para a cidade sitiada. O povo de lá não precisava de estímulo, precisava de comida. Um jato de fumaça surgiu do outro lado do acampamento e, poucos segundos depois, o som de um canhão ecoou pelos pântanos. O projétil devia ter atingido o muro, mas Filipe estava muito longe para ver o efeito.
— Uma vitória aqui irá estimular a guarnição — insistiu lorde de Montmorency — e implantar o desespero nos corações ingleses.
Mas por que iriam os ingleses perder o ânimo se a torre de Nieulay caísse? Filipe achava que aquilo iria apenas enchê-los de vontade de defender a estrada no lado oposto da ponte, mas também entendia que ele não poderia manter seus cães contidos quando um inimigo odiado estava à vista, e por isso deu a permissão.
— Tomem a torre — disse —, e que Deus lhes conceda a vitória. O rei permaneceu onde estava enquanto os senhor