Deixe de ser rotineiro, abra sua mente – há todo um universo esperando por gente que não tem medo de pensar diferente, fazer coisas inéditas.
Já pensou?… minerar no céu à busca de água?
…ou construir um novo mundo sob a superfície de um estranho planeta?
…transformar exploradores de outro mundo em bichinhos de estimação?
…colocar sua vida nas mãos de um computador humano adolescente?
Se pode imaginar tudo isso, está a caminho de se tornar um membro da geração do espaço: está pensando como NÓS, OS MARCIANOS.
Nós, Os Marcianos
Isaac Asimov
Tradução de Agatha M. Auersperg
HEMUS
Dedicatória:
Para L. Sprague de Camp e Fletcher Pratt, cuja obra em conjunto só pode ser comparada à obra de cada um, em separado.
Apoiado no batente da porta do pequeno corredor que separava os dois únicos aposentos da cabina da nave espacial, Mário Esteban Rioz observava contrariado, enquanto Ted Long tentava ajustar delicadamente o dial do vídeo.
Deu um toque para a direita, a seguir outro para esquerda. A imagem continuou péssima.
Rioz sabia que ficaria assim. Estavam a uma distância enorme da Terra e numa posição difícil em frente ao Sol. Long, porém, não podia sabê-lo. Rioz continuou na mesma posição por mais alguns segundos, com a cabeça inclinada para frente e o corpo enviesado para poder transpor a estreita abertura. A seguir entrou na copa com o ímpeto de uma rolha que saí do gargalo.
- O que é que você quer ver? - perguntou.
- Queria ver Hilder - respondeu Long.
Rioz apoiou o quadril no canto da mesa. Apanhou uma lata de leite na prateleira superior. A ponta se destacou com uma leve pressão. Começou a agitar o líquido com um movimento rotatório enquanto esperava que se aquecesse.
- Para que? - perguntou. Emborcou a lata e começou a sugar ruidosamente o leite.
- Só queria ouvir.
- Acho que é um desperdício de energia.
Long franziu o cenho.
- Se não me enGano, não existem restrições ao uso de vídeos particulares.
- Em termos - retrucou Rioz.
Trocaram um olhar de desafio. Rioz possuía o corpo avantajado e o rosto ossudo e encovado que pareciam ser a característica dos Recuperadores marcianos, os espaçonautas que continuavam a circular pacientemente pelas rotas espaciais usadas entre Marte e a Terra, seus olhos azuis-claros brilhavam no rosto bronzeado e marcado de rugas, ressaltando sobre a alvura das peles sintéticas brancas que forravam a gola virada da japona espacial de plasticouro.
Long era muito mais pálido e delicado, possuía algumas características próprias dos Térreos, apesar que um Marciano de segunda geração não poderia 1
ser definido como um Térreo como o eram os Terrestres. Sua gola de peles estava abaixada, deixando seus cabelos castanhos completamente expostos.
- O que significa, em termos? - reclamou Long.
Rioz apertou os lábios finos. Disse:
- Considerando que nesta viagem não vamos sequer recuperar as despesas, pelo menos julGando pelo que fizemos até agora, qualquer dispêndio de energia é excessivo.
- Se estamos perdendo dinheiro, como você afirma - comentou Long - não acha que seria melhor se voltasse ao seu lugar? Este é seu turno.
Rioz grunhiu e passou o polegar pelo queixo, coçando a barba por fazer.
Desencostou-se da mesa e dirigiu-se vagarosamente em direção à porta. Suas botas moles e pesadas produziam um som leve enquanto arrastava os pés sobre o assoalho. Parou para observar o termostato e depois se virou com olhos faiscantes.
- Percebi que aqui fazia calor! Onde pensa que está? Long respondeu: -
Vinte e cinco graus não é demais.
- Talvez para você! Mas estamos no espaço e não num escritório aquecido no interior de uma mina de ferro! - Rioz virou o controle do termostato ao mínimo. -
O sol é bastante quente.
- A copa está do lado oposto.
- O calor circula, raios!
Atravessou a porta e Long ficou a olhar naquela direção por alguns instantes. A seguir, voltou a se preocupar com o vídeo. Não mexeu no controle do termostato. A imagem ainda tremulava e bruxuleava, mas não havia nada a fazer.
Long abaixou o assento embutido na parede. Debruçou-se para frente e esperou pacientemente pelo anúncio do locutor, pelo breve intervalo antes que o pano se abrisse, até que o holofote iluminou o familiar vulto barbado que aumentou rapidamente até preencher toda a tela.
A voz, que impressionava, apesar dos assovios e estalos produzidos pelas tempestades de elétrons em vinte milhões de milhas de espaço, começou:
- Amigos! Meus concidadãos de toda a Terra...
NUM
Quando Rioz entrou