Aos 28 anos, depois de ser dispensado pela namorada, Justin Halpern volta a morar com o pai, Sam Halpern, de 73 anos. Na infância, Justin morria de medo dele, tão mal-humorado, direto e desbocado que beirava a grossura. Agora, já adulto, ele passa a admirar a mistura de franqueza e insanidade que caracteriza os comentários e a personalidade do pai, que considera ‘sábio como Sócrates e até mesmo profético’. Disposto a registrar a sabedoria contida nas tiradas de Sam, Justin cria uma página no Twitter para reunir suas frases malucas e observações ridículas. A obra traça um retrato da relação pai e filho e aborda temas da vida – medo, amigos, estudo, namoro, esporte, família.
Meu Pai Fala Cada Merda – Justin Halpernem
Para meu pai, minha mãe, Dan, Evan,
José e Amanda.
Obrigado por todo o amor e apoio.
INTRODUÇÃO
“Tudo o que peço é que cate suas tralhas e não deixe
seu quarto parecendo que foi usado para uma suruba.
Aliás, é uma pena você ter levado um pé na bunda
da sua namorada.”
Aos 28 anos, eu morava em Los Angeles e estava no terceiro ano de um relacionamento a distância com minha namorada, que vivia em San Diego. Na maioria das sextas-feiras, eu encarava um engarrafamento de três horas e meia enquanto meu Ford Ranger 1999 se arrastava por 200 quilômetros até San Diego. De vez em quando, meu carro decidia parar de funcionar. Além disso, o rádio estava quebrado e eu só conseguia ouvir uma estação cuja programação parecia se limitar a canções do brilhante rapper Flo Rida. Não há nada como pegar a estrada e, de repente, o motor do seu carro morrer, a direção travar e um DJ gritar no seu ouvido: “E aqui está O CARA, Flo Rida, com seu novo sucesso ‘Right Round’! Vamos começar a festa!”
Resumindo: a distância estava pesando para mim. Então, em maio de 2009, quando recebi uma oferta de emprego do site Maxim.com que me permitiria trabalhar em qualquer lugar, não deixei a oportunidade passar. Eu poderia me mudar para San Diego e morar com minha namorada. A única falha no meu plano era que ela não estava tão empolgada quanto eu. E com “não estava tão empolgada” quero dizer que, quando apareci na porta da sua casa para dar a boa notícia pessoalmente, ela terminou comigo.
Ao ir embora, percebi que, além de estar solteiro, eu não tinha onde morar, pois já havia comunicado ao meu senhorio em Los Angeles que entregaria o apartamento no final do mês. Então, meu carro morreu. Enquanto tentava vigorosamente dar a partida, me dei conta de que as únicas pessoas que eu conhecia em San Diego e que talvez pudessem me acolher eram meus pais. Comecei a sentir um aperto no estômago enquanto virava sem parar a chave na ignição. Também caiu a ficha de que a família que fazia um churrasco no jardim da casa em frente ao local onde meu carro tinha pifado talvez estivesse pensando que eu era um pervertido que havia parado para obter um momento de prazer solitário. Por sorte, consegui dar a partida no carro e arranquei rumo à casa dos meus pais.
O motivo do meu súbito nervosismo era que pedir um favor ao meu pai se assemelha a defender uma causa perante o Supremo Tribunal. Você precisa expor os fatos com clareza, fazer sua argumentação e citar precedentes de outros casos. Logo depois de aparecer sem avisar na modesta casa de três quartos em Point Loma, nos arredores de San Diego, eu estava apresentando meu caso diante dos meus pais na sala de estar. Citei Meu Pai versus Meu Irmão Daniel Halpern, que, aos 29 anos, durante uma “fase de transição”, foi morar na casa deles. No meio da minha argumentação, meu pai me interrompeu:
– Tudo bem. Caramba, você não precisava contar toda essa ladainha. Você sabe que pode ficar aqui. Tudo o que peço é que cate suas tralhas e não deixe seu quarto parecendo que foi usado para uma suruba. – Ele fez uma pequena pausa e completou: – Aliás, é uma pena você ter levado um pé na bunda da sua namorada.
* * *
A última vez que eu havia morado com meus pais tinha sido uma década atrás, durante meu segundo ano na Universidade de San Diego. Na época, os dois trabalhavam (minha mãe era advogada de uma organização sem fins lucrativos e meu pai lecionava medicina nuclear na Universidade da Califórnia em San Diego), portanto eu não os via com muita frequência. Dez anos depois, minha mãe continuava trabalhando em tempo integral, mas meu pai, aos 73 anos, havia se aposentado e ficava em casa. O dia inteiro.
Após a primeira noite na casa deles, me arrastei para fora da cama às oito e meia da manhã e montei meu “escritório” (leia-se: meu laptop) na sala de estar, onde meu pai assistia à TV, para começar a escrever minha primeira coluna. Michael Jackson tinha acabado de morrer e eu estava trabalhando num esquete em qu