A vida de Megan Pierce nem sempre foi um mar de rosas. Houve uma época em que ela nunca sabia como seria o dia seguinte. Mas hoje é mãe de dois filhos, tem um marido perfeito e a casa dos sonhos de qualquer mulher- e, apesar disso, se sente cada vez mais insatisfeita. Ray Levine já foi um fotógrafo respeitado, mas agora, aos 40 anos, tem um emprego em que finge ser paparazzo para massagear o ego de jovens endinheirados obcecados em se tornar celebridades.
Broome é um detetive incapaz de esquecer um caso que nunca conseguiu resolver: há 17 anos, um pai de família desapareceu sem deixar rastros. Todos os anos ele visita a casa em que a mulher e os filhos do homem esperam seu retorno.
Essas pessoas levam vidas que nunca desejaram. Agora, um misterioso acontecimento fará com que seus caminhos se cruzem, obrigando-as a lidar com terríveis consequências de fatos que pareciam enterrados havia muito tempo. E, à medida que se deparam com a faceta sombria do sonho americano – o tédio dos subúrbios, a angústia da tentação, o desespero e os anseios que podem se esconder nas mais belas fachadas -, elas chegarão à chocante conclusão de que talvez não queiram deixar o passado para trás.
O ARQUEIRO
Geraldo Jordão Pereira (1938-2008) começou sua carreira aos 17 anos, quando foi trabalhar com seu pai, o célebre editor José Olympio, publicando obras marcantes como O menino do dedo verde, de Maurice Druon, e Minha vida, de Charles Chaplin.
Em 1976, fundou a Editora Salamandra com o propósito de formar uma nova geração de leitores e acabou criando um dos catálogos infantis mais premiados do Brasil. Em 1992, fugindo de sua linha editorial, lançou Muitas vidas, muitos mestres, de Brian Weiss, livro que deu origem à Editora Sextante.
Fã de histórias de suspense, Geraldo descobriu O Código Da Vinci antes mesmo de ele ser lançado nos Estados Unidos. A aposta em ficção, que não era o foco da Sextante, foi certeira: o título se transformou em um dos maiores fenômenos editoriais de todos os tempos.
Mas não foi só aos livros que se dedicou. Com seu desejo de ajudar o próximo, Geraldo desenvolveu diversos projetos sociais que se tornaram sua grande paixão.
Com a missão de publicar histórias empolgantes, tornar os livros cada vez mais acessíveis e despertar o amor pela leitura, a Editora Arqueiro é uma homenagem a esta figura extraordinária, capaz de enxergar mais além, mirar nas coisas verdadeiramente importantes e não perder o idealismo e a esperança diante dos desafios e contratempos da vida.
capítulo 6
MEGAN PAROU O CARRO com um tranco e escancarou a porta do motorista. Saiu correndo pelo saguão, passando pelo guarda-noturno cansado, que revirou os olhos para ela. Em seguida, dobrou à esquerda em direção a um segundo corredor.
O quarto de Agnes era o terceiro à direita. Quando Megan abriu a porta, ouviu um pequeno arquejo de espanto vir da cama. O aposento estava totalmente escuro. Droga, o que tinha acontecido com o abajur que ficava aceso a noite toda? Ela ligou o interruptor, virou-se para a cama e sentiu o coração se despedaçar mais uma vez.
– Agnes?
A senhora de idade estava sentada na cama, com as cobertas puxadas até os olhos arregalados, como uma criança assistindo a um filme de terror.
– É a Megan.
– Megan?
– Está tudo bem. Eu estou aqui.
– Ele estava no quarto outra vez – sussurrou a idosa.
Megan correu até a cama e deu um abraço apertado em sua sogra. Agnes Pierce havia perdido tanto peso ao longo do último ano que parecia que estava abraçando um saco de ossos. O corpo dela estava frio e tremia em sua camisola, grande demais para o seu tamanho. Megan a manteve em seus braços por alguns minutos, confortando-a da mesma forma que fazia com seus filhos quando eles tinham pesadelos.
– Desculpe – disse Agnes entre soluços.
– Shh, está tudo bem.
– Eu não devia ter ligado.
– Eu quero que a senhora ligue – falou Megan. – Se estiver assustada com alguma coisa, deve sempre me ligar, está bem?
O cheiro de urina era inconfundível. Quando Agnes se acalmou, Megan a ajudou a trocar a fralda geriátrica (Agnes se recusava a deixar Megan fazer isso sozinha) e a voltar para a cama.
Depois que as duas se ajeitaram, deitadas lado a lado na cama grande, Megan disse:
– A senhora quer falar sobre o que aconteceu?
Lágrimas rolaram pelo rosto de Agnes. Megan olhou nos olhos da sogra, pois eles ainda eram capazes de revelar tudo. Os primeiros sinais de demência haviam surgido três anos antes, com os esquecimentos habituais. Ela começou a chamar seu filho Dave de Frank, nome não de seu falecido marido, mas do noivo que a deixara sozinha no altar 50 anos antes. Agnes, que costumava ser uma mãe coruja, já não conseguia se lembrar do nome de seus filhos, ou mesmo de quem eram eles. Isso assustava Kaylie. A paranoia se tornara uma companheira constante para Agnes. Ela pensava que programas de TV eram reais, achava que o assassino de algum episódio de CSI: Miami poderia estar escondido debaixo da sua cama e coisas desse tipo.
– Ele estava no meu quarto outra vez. Falou que ia me matar.
Esse era um delírio novo. Dave se esforçava, mas não tinha paciência para esse tipo de coisa. Durante o último Super Bowl, logo antes de eles chega