Adaptado para as telas dos cinemas numa superprodução estrelada por Will Smith, EU SOU A LENDA, o clássico conto de ficção científica e horror de Richard Matheson, está de volta na forma de uma aterrorizante adaptação em quadrinhos escrita por Steve Niles (de 30 Dias de Noite) e ilustrada por Elman Brown. “Ele ainda podia ouvi-los do lado de fora: seus murmúrios, seus passos se aproximando, seus gritos, seus grunhidos e as lutas entre eles próprios. De vez em quando, uma pedra ou um tijolo atingiam a casa. Às vezes, um cão latia. E todos eles estavam lá pelo mesmo motivo. Robert Neville fechou os olhos por um instante e apertou os lábios em uma linha fina. Então ele abriu os olhos e acendeu outro cigarro, deixando a fumaça entrar profundamente em seus pulmões. Ele gostaria de ter tornado a casa à prova de som. Mesmo depois de cinco meses, os sons ainda mexiam com seus nervos. Às vezes, ele colocava fones de ouvido, mas não queria ter a sensação de que eles o estavam forçando a se fechar numa concha. Ele fechou os olhos de novo. “Eram as mulheres que dificultavam tudo”, ele pensou. As mulheres posando como marionetes obscenas na noite, esperando que ele as visse e decidisse sair.”
Eu sou a Lenda – Richard Matheson
Parte 1: Janeiro de 1976
CAPÍTULO 1.
EM DIAS NUBLADOS COMO AQUELE, Robert Neville nunca estava certo quanto ao pôr-do-sol.
Se ele fosse um pouco mais analítico poderia calcular o tempo para a chegada da noite, mas ainda estava habituado a consultar o céu para isso, e nos dias nublados este método não funcionava.
Por isso, escolheu permanecer próximo de casa.
Caminhou na débil luz do fim de tarde com um cigarro pendurado no canto da boca,
deixando a fumaça trilhar seu caminho, sobre seu ombro.
Verificou cada janela, procurando uma moldura que estivesse partida.
Após tantos ataques violentos, a madeira começava a partir-se e ele tinha que consertá-la; um trabalho que odiava fazer.
Viu que uma das pranchas fora arrancada. Não é maravilhoso? Pensou.
Checou a estufa e o tanque de água nos fundos. Algumas vezes a estrutura ao redor do tanque se via enfraquecida, ou os colhedores de chuva se dobravam ou quebravam.
Às vezes, pedras que eram arremessadas sobre a cerca alta ao redor da estufa rompiam as redes aéreas e ele tinha que substituí-las.
O tanque e a estufas estavam bem hoje. Voltou a casa para pegar o martelo e alguns pregos. Assim que empurrou a porta da frente, viu-se no reflexo distorcido do espelho rachado que tinha prendido à porta um mês atrás. Em poucos dias, partes irregulares do vidro começaram a cair. Deixem que caia, ele pensou. Era o último maldito espelho que colocava lá; não valera a pena. Em seu lugar, colocaria alho.
O alho sempre funcionou.
Cruzou o silêncio da sala de estar virando à esquerda no pequeno corredor e à esquerda novamente para o seu quarto de dormir.
Uma vez aquele quarto estivera decorado de forma a ser aconchegante, mas fora em outro tempo. Agora era apenas um quarto funcional e uma vez que a cama de Neville e a escrivaninha ocupavam pouco espaço, transformou todo o resto em um depósito.
Uma longa prateleira corria toda a parede. Sobre ela havia uma serra pesada, um torno de madeira e uma roda de esmeril. Na parede estavam racks com as ferramentas que Robert Neville utilizava.
Tomou um martelo e selecionou alguns pregos de um dos escaninhos.
Então foi para fora e pregou a prancha à moldura da janela.
Jogou os pregos que não utilizou em um entulho.
Passou um tempo parado ali, olhando a extensão silenciosa da Rua Cimarron.
Ele era um homem alto, trinta e seis anos, ascendência anglo-saxônica, de traços comuns, exceto pelos lábios determinados e o azul dos olhos que agora se moviam contemplando os restos carbonizados das casas em cada lado da rua.
Ele as havia queimado para evitar que alguém pulasse sobre sua casa usando os telhados vizinhos.
Depois de poucos minutos, deu um longo suspiro e voltou para dentro.
Largou o martelo no sofá da sala e, pegando um cigarro, foi preparar seu drinque do meio-dia.
Depois daria um jeito na cozinha, no lixo que se acumulara ali nos últimos cinco dias. Sabia que devia queimar os pratos de papel e os utensílios, tirar o pó dos móveis, lavar a banheira e o toalete e trocar os lençóis e a fronha do travesseiro sobre sua cama, mas não sentiu vontade.
Ele era homem, estava sozinho e estas coisas não tinham tanta importância assim.
Já era quase de tarde. Robert Neville estava na estufa, colhendo um balde de alho.
No inicio ele ficava doente com aquele cheiro e seu estômago ficava sempre revirado.
Agora, o cheiro estava pela casa, impregnado nas suas roupas e às vezes ele pensava que sua pele cheirava a alho. E ele mal percebia.
Quando tinha colhido o suficiente, voltou para casa e jogou-os no escorredor da pia.
Assim que pressionou o interruptor, a luz acendeu-se, trêmula, depois ficou normal.
Um silvo escapou entre dentes.
Era o gerador de novo.
Teria que sair e verificar o maldito manual outra vez e ver a fiação.
E, se era fosse complicado reparar, teria que instalar um gerador novo.
Irritado com aquilo, pegou uma faca e sentou-se em um tamborete junto da pia.
Primeiro separou as cabeças de alho e os dentes r