Corpo de Delito – Patricia Cornwell

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Cary Harper é um escritor famoso. Logo após o cruel assassinato de sua filha adotiva, ele próprio é assassinado. A irmã de Harper morre em circunstâncias igualmente misteriosas. Quem cometeu os crimes? Por que os cometeu? Essas são as perguntas que levam a médica-legista Kay Scarpetta a seguir as poucas pistas deixadas pelo criminoso. Além das provas que consegue colher nos corpos levados ao necrotério, sai a campo com o chefe de polícia Pete Marino e com o agente do FBI Benton Wesley na tentativa de solucionar o caso. As mais variadas hipóteses vão sendo sucessivamente abandonadas. Nada parece dar conta de todas as circunstâncias. Um dia, porém, a dra. Scarpetta recebe a visita de um desequilibrado mental que afirma ser capaz de enxergar a alma de um criminoso.

7 No dia seguinte, domingo, nem escutei o despertador. Dormi até dizer chega. Acordei depois do meio-dia, inquieta e com a cabeça pesada. Saí da cama, sem me lembrar dos meus sonhos, embora soubesse que não haviam sido agradáveis. O telefone tocou pouco depois das sete da noite, quando eu picava cebolas e pimentões para preparar uma omelete que jamais comeria. Minutos depois, eu estava percorrendo um trecho escuro da rua 64 Leste. No painel, um pedaço de papel continha as instruções para chegar a Cutler Grove. Minha mente parecia um programa de computador em loop, dando voltas e voltas, processando sempre a mesma informação. Cary Harper fora assassinado. Uma hora antes, voltara da taverna de Williamsburg, e alguém o atacara quando saía do carro. Tudo aconteceu muito depressa. Um homicídio brutal. Como no caso de Beryl Madison, cortaram-lhe a garganta. Estava escuro lá fora; nos trechos com neblina os faróis dos carros me ofuscavam, mesmo baixos. A visibilidade, reduzida a quase zero, fazia com que a rodovia, muito conhecida, parecesse estranha. Não sabia bem onde estava. Acendia um cigarro, tensa, quando percebi os faróis que se aproximavam pelo retrovisor. Um carro escuro, que não identifiquei, chegou bem perto e depois se afastou, mantendo uma certa distância. E seguiu assim, quilômetro após quilômetro, quer eu acelerasse, quer reduzisse a velocidade. Quando, finalmente, cheguei ao acesso que procurava e virei, o carro me seguiu. A estradinha de terra onde entrei não possuía placas indicativas. Os faróis do outro carro continuavam fixos no meu para-choque traseiro. O 38 estava em casa. Não tinha nada para me defender, exceto um spray de pimenta na maleta médica. Falei “graças a Deus” em voz alta, de tão aliviada, ao ver a mansão surgir na bruma, depois de uma curva. No acesso semicircular, vi luzes de emergência e veículos variados. Estacionei, e o carro que me seguia parou logo atrás do meu. Encarei Marino, espantada, quando ele desceu e ergueu a gola do casaco para proteger a orelha. “Meu Deus do céu”, falei contrariada. “Não posso acreditar.” “Nem eu”, ele resmungou, e com passadas largas aproximou-se de meu carro. E olhou para o círculo de luzes brilhantes, em volta do Rolls-Royce branco antigo, estacionado próximo à porta dos fundos da mansão. “Merda. Só posso dizer isso. Merda!” A polícia estava por toda a parte. Seus rostos desfilaram fantasmagóricos, sob as luzes artificiais. Os motores roncavam, e as frases fragmentadas vindas dos rádios, ininteligíveis por causa da estática, pairavam no ar úmido e frio. A fita de isolamento da cena do crime, presa ao corrimão da escada dos fundos, selava a área, num retângulo amarelo de horror. Um policial à paisana, usando casaco de couro marrom, aproximou-se de nós. “Doutora Scarpetta?”, indagou. “Sou o detetive Poteat.” Abri a maleta, para apanhar um par de luvas cirúrgicas e a lanterna. “Ninguém tocou no corpo”, Poteat informou. “Procedi exatamente conforme as instruções do doutor Watts.” O dr. Watts, clínico geral, era um dos quinhentos legistas do estado, e um dos dez mais imprestáveis. A polícia o convocou, naquela noite, e ele imediatamente me telefonou. A conduta padrão exigia que o legista titular fosse avisado sempre que ocorria a morte suspeita ou inesperada de uma personalidade conhecida. A conduta padrão, no caso do dr. Watts, era fugir de qualquer caso, sempre que possível, para evitar a papelada e o trabalho. Raramente comparecia à cena do crime, e, realmente, não havia nem sinal dele ali. “Cheguei quase ao mesmo tempo que a ambulância”, Poteat explicou. “Garanti que ninguém mexesse no corpo desnecessariamente. Eles não o viraram, nem removeram as roupas. Nada. Estava morto, mesmo.” “Obrigada”, falei, automaticamente. “A princípio, creio que ele foi golpeado na cabeça. Talvez atingido por um tiro. Há chumbo de monte espalhado. Logo verá. Não localizamos a arma. Consta que a vítima chegou por volta das quinze para as sete e estacionou o carro onde ele se
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