A Outra Face de Deus – F. T. Farah

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Em 1589, o conselheiro da rainha Elizabeth I, John Dee, e seu discípulo Edward Kelley, são surpreendidos com o Livro das Folhas Prateadas. Supostamente escrito por um anjo, ele carrega, em suas 48 páginas, a chave para uma nova era. Contudo, apenas uma pessoa poderia iniciá-la. Mais de 400 anos depois, em uma basílica romana, o padre Pietro Amorth é desafiado durante um ritual de exorcismo com uma charada diabólica. Em uma reunião a sete chaves, no Vaticano, descobre seu significado e recebe das mãos de um cardeal a missão mais difícil de sua vida. Na capital inglesa, o aristocrático editor assistente David Rowling luta para recuperar seu prestígio profissional no jornal sensacionalista The Star. Sua carreira naufragou ao tentar desvendar o assassinato de cinco mulheres, encontradas com o útero eviscerado e sem o coração. Para o jornalista, uma poderosa seita satânica estava por trás dos rituais macabros. Quando um psicopata assumiu a autoria dos crimes, David insistiu que era uma manobra para enganar a opinião pública. Quase ninguém acreditou nele. A poucos dias do desembarque da top model brasileira Fernanda Albuquerque em Londres, o jornalista e o padre se unem para desvendar enigmas que atravessam os séculos, e devem correr contra o relógio para impedir a realização do Apocalipse Negro. No caminho, cruzam com inimigos imprevisíveis, despertam demônios e ficam frente a frente com seus piores pesadelos. A Outra Face de Deus reúne mistérios históricos, sociedades secretas, seitas satânicas, profecias cristãs e alta espionagem em uma trama com reviravoltas surpreendentes.

Capítulo 1 Roma, nos dias de hoje A freada brusca fez com que a mulher, sentada atrás do motorista, batesse a cabeça no encosto. O sangue começou a escorrer da narina esquerda. Ela tombou no banco. — Cuidado, ou vai ser punido pelo padre – berrou Andrea, o outro passageiro. Diante deles, a Basílica de Santa Maria in Aracoeli, iluminada por refletores, erguia-se majestosa contra o céu escuro. Aquela imagem era uma das metáforas preferidas do padre Pietro Amorth em suas homilias: “Um sinal de Deus em um mundo mergulhado nas trevas”. — O que vamos fazer com ela? – perguntou Simone, o motorista. — Temos que deixá-la na igreja. — Não vou subir todos esses degraus carregando essa vadia. — Você recebe para isso. Agora cale a boca e me ajude –retrucou Andrea, abrindo a porta do carro. Os seios volumosos insinuavam-se no decote da camiseta branca. Minissaia preta. Salto alto. A maquiagem carregada dividia espaço com vários hematomas. O nariz estava inchado. Poderia ser a pancada de segundos antes ou as bofetadas de horas atrás. O cabelo liso, na altura dos ombros, era quase todo loiro, excetuando-se as raízes negras. Apesar do pouco peso e da estatura baixa, Andrea teve dificuldades de puxá-la para fora. Olhou para o amigo, mais alto e bem mais forte do que ele. — Deixe comigo – adiantou-se Simone, debruçando-se sobre a mulher – Posso passar alguns minutos com ela antes? — Só se você não tiver medo de ser mastigado pelo diabo, seu imbecil! – berrou Andrea – Traga-a para fora. O padre nos espera. Como se fosse um pacote de poucos quilos, Simone colocou a vítima nas costas e subiu as escadas. Ao se aproximar da imponente porta principal de Santa Maria in Aracoeli, o celular tocou no bolso da jaqueta de Andrea. — Sim, padre, somos nós. Quer que deixemos a mulher aqui na entrada? Tudo bem, podemos entrar com ela pela porta lateral. — O que ele vai fazer com esta cadela? – perguntou Simone, exibindo um sorriso malicioso – Quer que a gente participe da brincadeira? — Cale a boca, cara. Assim vou ter que arrumar outro ajudante! A porta do lado esquerdo se abriu. Diante dela, um homem alto e magro, com uma lanterna na mão. Cabelo e barba grisalhos, bem aparados. Uma cicatriz triangular na testa. Vestia um hábito negro, com um crucifixo de prata pendendo do pescoço. O sorriso desapareceu ao olhar o rosto da mulher desacordada. — O que aconteceu? – indagou, ríspido. — Ela estava histérica, padre – respondeu Andrea. — E agressiva. Arranhou meu rosto – completou Simone, sob o olhar reprovador do colega. — Tivemos que sedá-la com aquela injeção de tranquilizante que o senhor nos arranjou – prosseguiu o responsável pela missão. — Venham comigo. E sem perguntas – ordenou o padre Pietro Amorth, fechando a porta da igreja e seguindo pela nave lateral. As imponentes colunas, trazidas do Fórum Romano e do Monte Palatino, pareciam gigantes na penumbra. Elas apoiavam o clerestório acima, com suas janelas retangulares. Após alguns metros, a mulher começou a gemer. Passaram pelo altar à esquerda do transepto da igreja. Ela deu um grito. E um soco nas costas de Simone. Os homens estremeceram. — É onde ficam os ossos de Santa Helena. Um lugar sagrado – explicou Pietro, apontando para ele – Não se preocupem. Estamos chegando. — Santa Helena era a mãe do imperador Constantino. Se não fosse por ela, o mundo teria outros deuses, Simone. — Se todos os seminaristas pensassem como você, Andrea, o rebanho estaria perdido. A vitória do cristianismo é um milagre de Deus. Santa Helena foi apenas um instrumento em Suas mãos – repreendeu-lhe o padre, abrindo a porta da sacristia. “Ele está prestes a violentar esta gostosa e quer dar lição de moral. É um babaca”, reprovou Simone, em pensamento. A mulher apenas gemia. Pietro os conduziu até uma estante com relíquias de santos em uma parede lateral. Pegou uma chave do bolso e abriu a pesada porta de vidro e madeira. No centro, uma peça dourada no formato de cabeça, incrustada de pedras preciosas coloridas. A viseira tra
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