O mestre do terror Stephen King e Peter Straub escrevem, 18 anos depois, a continuação do livro “O talismã”. Vinte anos se passaram e Jack Sawyer não é mais um menino. Aos 32 anos, não se lembra dos acontecimentos terríveis de quando tinha apenas 12 anos e que o levaram a um estranho universo paralelo – os Territórios. Agora, Jack é um detetive aposentado e mora no vilarejo de Tamarak. Um estranho acontecimento forçou-o a deixar a policia, e ele vive tranqüilo, protegido das recordações perigosas. Mas sua tranqüilidade está prestes a acabar. Uma série de assassinatos macabros faz com que o chefe de polícia local, amigo de Jack, lhe implore que ajude a polícia a encontrar o assassino.
A Casa Negra – Stephen King
A CASA NEGRA
STEPHEN KING e PETER STRAUB
A CASA NEGRA
Tradução de
Adalgisa Campos da Silva
© 2001 by Stephen King e Peter Straub
Título original
BLACK HOUSE
Todos os direitos desta edição reservados à
EDITORA OBJETIVA LTDA.
Rua Cosme Velho, 103
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Tel.: (21) 2556-7824 - Fax: (21) 2556-3322
www.objetiva.com.br
Revisão
Umberto de Figueiredo
Tereza da Rocha
Editoração Eletrônica
Abreu’s System Ltda.
2003
K52c
King, Stephen & Straub, Peter
A casa negra / Stephen King e Peter Straub. — Rio de Janeiro: Objetiva, 2003
ISBN 85-7302-486-0
701 p.
Tradução de: Black House
1. Literatura americana — Romance. I. Straub, Peter. II. Título
CDD 813
Para David Gernert e Ralph Vicinanza
You take me to a place I never go,
You send me kisses made of gold,
I’ll place a crown upon your curls,
All hail the Queen of the World!{1}
- The Jayhawks, “Smile”
AQUI E AGORA...
Parte Um
BEM-VINDO AO CONDADO DE COULEE
1
Aqui e agora, como dizia um velho amigo, estamos no presente fluido, onde não basta enxergar bem para se ter uma visão perfeita. Aqui: a uns 60 metros, a altitude de uma águia voando, sobre o extremo oeste de Wisconsin, onde os meandros do rio Mississipi criam uma fronteira natural. Agora: manhã de uma sexta-feira de meados de julho de um ano do início de um século e de um milênio novos, seus cursos imprevisíveis tão ocultos que um cego tem mais chance do que você ou eu de enxergar o que está à frente. Aqui e agora, são seis e pouco da manhã, e o sol está baixo no céu limpo do nascente, uma bola amarelada gorda e confiante, avançando como sempre pela primeira vez em direção ao futuro e deixando em seu rastro o passado que não pára de se acumular e que escurece à medida que recua, deixando-nos todos cegos.
Lá embaixo, o sol da manhã realça as ondulações amplas e macias do rio com um reflexo líquido. A luz do sol faísca nos trilhos da ferrovia Burlington Northern Santa Fe que corre entre o rio e os fundos das casas pobres de dois andares, ao longo da estrada municipal Oo, conhecida como Alameda Nailhouse, o ponto mais baixo da cidadezinha de aspecto confortável que se estende subindo para leste. Neste momento no Condado de Coulee, a vida parece estar com a respiração em suspenso. O ar parado à nossa volta é de uma pureza e uma doçura tão extraordinárias que é possível imaginar que um homem seria capaz de sentir o cheiro de um rabanete arrancado a quase dois quilômetros dali.
Voando em direção ao sol, afastamo-nos do rio sobrevoando os trilhos faiscantes, os quintais e telhados da Alameda Nailhouse e uma fila de motocicletas Harley-Davidson estacionadas. Essas casinhas sem graça foram construídas, no início do século recém-terminado, para fundidores, moldadores e caixoteiros empregados da fábrica de Pregos Pederson. Partindo do princípio de que seria improvável que os trabalhadores se queixassem dos defeitos de suas moradias subsidiadas, estas foram construídas da forma mais barata possível. (A Pregos Pederson, que tivera múltiplas hemorragias nos anos 50, acabou esvaindo-se em sangue em 1963.) As Harleys enfileiradas sugerem que os operários da fábrica foram substituídos por uma gangue de motoqueiros. A aparência uniformemente feroz dos proprietários das Harleys, homens desgrenhados, barbudos, barrigudos, usando brincos e jaquetas de couro e ostentando uma dentadura já desfalcada, parece apoiar essa suposição. Como a maioria das suposições, esta encerra uma meia verdade inquietante.
Os atuais moradores da Alameda Nailhouse, apelidados por nativos desconfiados de os Thunder Five logo após terem tomado as casas ao longo do rio, não podem ser tão facilmente classificados. Eles possuem empregos qualificados na Cervejaria Kingsland, situada ao sul da cidade