Este livro trata a respeito de uma antiga lenda indígena (o Manitou, que se mistura com o conhecido lobisomem) e trata de ataques aparentemente realizados pela besta. Segundo o roteiro, o Manitou seria um espírito, que também se transmite a outras pessoas que são atacadas pelo mesmo.
A Besta Humana – Arquivo X Vol. 6 – Chris Carter
A criação de gado era a atividade principal do rancho Two Medicine, em Browning, uma
pacata cidadezinha em Montana, Estados Unidos, ao pé das Montanhas Rochosas. Ali, naquelas
terras ocupadas pelos animais, duas culturas se enfrentavam: o homem branco, com suas
armas poderosas e seus hábitos de consumo; e os índios tregos, com suas tradições, seus
espíritos protetores e seus demônios. Os índios viviam confinados em uma reserva e seus
demônios vagavam enfurecidos pela noite, com sede de vingança.
Novelização de Ellen Steiber
baseada na série de TV
Arquivo X, criado por Chris Carter,
com adaptação do roteiro de
Marilyn Osborn
Tradução de José A. Ceschin
Meus agradecimentos a Thomas Harlan, Mary Pappas e Doug Lantz
pela valiosa ajuda que me deram com seus computadores,
e a Munro Sickafoose, por sua generosidade em me transmitir
interessantes tradições dos nativos norte-americanos.
Este livro é para Thomas, na esperança
de que agosto próximo não seja tão estranho.
Capítulo 1
Rancho Two Medicine, Browning, Montana
Gim Parker tinha sentido durante o dia inteiro a formação daquela tempestade. O gado
havia ficado irritado e inquieto a tarde toda. O sol tinha desaparecido no horizonte com uma
estranha cor esverdeada. Já estava bastante escuro e o vento tinha aumentado, gemendo
como um homem cheio de dores. Durante mais de uma hora os raios vinham cortando os céus
de Montana. A chuva ainda não tinha começado a cair, mas não havia dúvida de que estava
chegando.
Parker e seu filho, Lyle, estavam do lado de dentro, perto da porta da casa-sede da
fazenda. Não diziam coisa alguma, limitando-se a ouvir o barulho da tempestade que se
aproximava. Estavam esperando por uma coisa. Mas nenhum dos dois jamais havia falado a
respeito. Era uma coisa que vinha ao rancho para matar.
Lá fora, os raios colocavam sobre o negro do céu rachaduras prateadas que duravam
uns poucos segundos apenas. Não demorou para que as nuvens, como se tivessem sido
rasgadas pelos relâmpagos, começassem a derramar grandes quantidades de água, que era
lançada de um lado para o outro pelo vento. E então, de repente, a casa ficou às escuras.
Parker não se importava muito com a escuridão. O fogo ardia na lareira da sala,
iluminando o ambiente com uma luz alaranjada, que refletia sobre a superfície brilhante dos
olhos vidrados dos troféus de caça que enchiam as paredes. Para Parker, aqueles troféus
representavam um grande conforto. O urso-pardo, o leão-da-montanha, o lobo-da-floresta, a
cascavel eram claras lembranças dos tempos em que havia enfrentado o perigo e saído
vitorioso. E ele pretendia vencer de novo naquela noite.
Foi então que Parker ouviu aquele som. O mesmo barulho que já havia escutado várias
vezes antes. Um rugido baixo, cheio de ódio. Animal, mas ao mesmo tempo sobrenatural.
Havia momentos em que Parker achava que aquele ruído era um eco que nascia nas
montanhas ou que talvez viesse das próprias entranhas da terra.
O barulho estava mais próximo agora. Parker havia caçado durante toda a sua vida.
Embora não soubesse exatamente o que estava lá fora, ele sabia que era outro caçador.
Alguma coisa que estava pretendendo caçar o seu gado.
Mas naquela noite ele não pretendia correr riscos desnecessários. Rapidamente
carregou dois cartuchos calibre doze na sua espingarda Winchester 1300 Defender.
Os olhos de Parker encontraram os de seu filho. Lyle puxou a barra deslizante que engatilhava
sua espingarda. Dessa vez, os dois estavam bem preparados.
De repente, do lado de fora, o rugido sobrenatural transformou-se em um ronco
ensurdecedor, que encobriu até o barulho da tempestade. A cabeça de Lyle vi