Histórias de Fantasmas – Charles Dickens

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“O poder [de Dickens] é tão fantástico que o leitor imediatamente se torna seu prisioneiro e precisa segui-lo aonde quer que ele vá.” William Makepeace Thackeray A estreia de Dickens na literatura se deu com a publicação de contos em periódicos ingleses da época. O grande escritor vitoriano, conhecido pelos romances que abordam a problemática social e retratam as difi culdades da infância, tinha um gosto especial por fenômenos sobrenaturais e histórias de fantasmas, especialmente as natalinas. Treze delas, incluindo “Fantasmas de Natal”, estão reunidas nesta edição. Dickens, como mestre que foi – reconhecido por nomes como George Orwell e Hans Christian Andersen –, trabalha as tênues fronteiras da loucura e da sanidade e cria histórias lúgubres vividas por pessoas comuns, surpreendendo até os mais incrédulos. Contos “O sinaleiro” “Manuscrito de um louco” “A história do caixeiro-viajante” “A história dos duendes que seqüestraram um coveiro” “A história do tio do caixeiro-viajante” “O barão de Grogwig” “Uma confissão encontrada no cárcere à época do rei Carlos II” “Para ser lido ao anoitecer” “O julgamento por assassinato” “Uma criança sonhou com uma estrela” “Fantasmas de Natal” “A noiva do enforcado” “Visita para o sr. Testante”

O sinaleiro – Olá, aí embaixo! Quando ouviu uma voz chamando-o, ele estava parado à porta de sua cabine, bandeira na mão enrolada em sua haste curta. Alguém teria pensado, considerando a natureza do terreno, que ele não poderia ter duvidado de que lado vinha a voz; porém, em vez de olhar para cima, para o topo do abrupto corte no morro onde eu estava, praticamente sobre sua cabeça, ele se virou e olhou para a linha do trem. Havia algo singular na maneira de ele fazer aquilo, apesar de eu não saber explicar o que era. Mas sei que era singular o bastante para atrair minha atenção, ainda que seu vulto estivesse só delineado na sombra, lá embaixo na profunda trincheira, e o meu estivesse bem acima dele, tão imerso no brilho de um pôr do sol inflamado que eu tinha protegido meus olhos da luz com a mão antes de conseguir enxergá-lo. – Olá! Aí embaixo! Depois de olhar a linha do trem, ele se virou novamente e, erguendo os olhos, enxergou meu vulto bem acima dele. – Tem algum caminho por onde eu possa descer e falar com o senhor? Ele olhou para mim sem responder e eu o olhei sem pressioná-lo logo com a repetição da minha pergunta inútil. Naquele momento, uma tênue vibração surgiu na terra e no ar, transformando-se rápido numa trepidação violenta e numa agitação próxima, que me fez recuar, como se tivesse força para me arrastar para baixo. Quando a fumaça desse rápido trem passou por mim e foi sumindo na paisagem, uma fumaça que chegara à altura da minha cabeça, olhei para baixo de novo e o vi enrolando a bandeira que havia desfraldado enquanto o trem estava passando. Repeti minha indagação. Depois de uma pausa, durante a qual ele parecia me observar com a máxima atenção, ele me guiou com sua bandeira enrolada em direção a um ponto no meu nível, a duzentos ou trezentos metros de distância. Gritei para ele: “Muito bem!” e me dirigi àquele ponto. Ali, examinando à minha volta com atenção, encontrei um caminho tosco descendo em zigue-zague, que eu segui. O corte no morro era profundo ao extremo e surpreendentemente íngreme. Fora feito numa pedra viscosa, que se tornava ainda mais pegajosa à medida que eu descia. Por essas razões, achei o caminho longo o bastante para me dar tempo de lembrar a maneira estranha, de relutância e de obrigação, com a qual ele havia me apontado a trilha. Quando havia descido o bastante no declive em zigue-zague para vê-lo de novo, percebi que ele estava parado entre os trilhos, no caminho onde o trem havia recém passado, numa postura como se estivesse esperando eu aparecer. Tinha a mão esquerda no queixo e o cotovelo esquerdo apoiava-se na mão direita, esta atravessada no peito. Sua postura era de tamanha expectativa e cautela que parei um momento, examinando-a. Prossegui no meu caminho de descida, pisei no nível da estrada de ferro e, chegando mais perto dele, percebi que era um homem moreno e pálido, com uma barba escura e sobrancelhas muito pesadas. Seu posto era o lugar mais solitário e sombrio que eu já havia visto. Em ambos os lados, havia uma parede de umidade gotejante da rocha recortada, que eliminava toda e qualquer vista, exceto uma faixa do céu. O panorama, numa direção, era apenas um prolongamento torto desse grande calabouço; o panorama mais curto, na outra direção, terminava numa melancólica luz vermelha e na entrada ainda mais melancólica de um túnel escuro, em cuja arquitetura pesada havia um ar cruel, deprimente e ameaçador. Tão pouco sol penetrava naquele lugar que o cheiro era de terra e de morte; e tanto vento frio soprava por ali que me deixou arrepiado, como se eu tivesse deixado o mundo natural. Antes de ele se mover, eu estava perto o bastante para poder tocá-lo. Sempre sem desviar os olhos dos meus, ele deu um passo para trás e ergueu a mão. Esse era um posto solitário para ocupar (eu disse), e isso tinha chamado minha atenção quando olhei lá de cima. Uma visita era uma raridade, eu supunha; não uma raridade inoportuna, eu esperava. Em mim, ele via apenas um homem que tinha
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