Escaravelho de Ouro e outros Contos – Edgar Allan Poe

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Enquanto viveu, Edgar Allan Poe obteve seu maior sucesso com o conto “O escaravelho de ouro”. Em uma ilha deserta na Carolina do Sul, o excêntrico William Legrand encontra uma nova espécie de inseto, um escaravelho dourado. Com a desoberta, Legrand, seu criado e um narrador sem nome sairão em busca do tesouro escondido. O coração da narrativa, o artifício que a fez famosa, é a minuciosa e fascinante descrição de uma mensagem criptografada. Poe (1809-1849) viveu pouco, enfrentou penúrias e catástrofes pessoais e morreu em circunstâncias misteriosas. Foi poeta, editor, crítico literário e um grande desbravador de gêneros. Seu legado para a literatura é como um tesouro infinito. Seus contos são pérolas macabras, góticas, burlescas, científicas e não menos aventurosas. Agarram o leitor pelo pescoço. Esta coletânea também inclui “O coração delator”, “O sepultamento prematuro” e “O mistério de Marie Rogêt” – uma das três únicas narrativas protagonizadas pelo inspetor Dupin -, entre outras histórias arrebatadoras.

Manuscrito encontrado numa garrafa Qui n’a plus qu’un moment à vivre N’a plus rien à dissimuler. Quinault – Atys[1] De minha terra e de minha família tenho pouco a dizer. Maus costumes e o passar dos anos me afastaram de uma e me alienaram da outra. A riqueza hereditária proporcionou-me uma educação fora do comum, e um modo de pensar contemplativo habilitou-me a sistematizar o repertório que o estudo precoce armazenara com muita diligência. Mais do que todas as coisas, os moralistas alemães deram-me grande deleite; não devido a alguma admiração desavisada por sua loucura eloquente, mas pela naturalidade com que meus rígidos hábitos de pensamento permitiram-me detectar suas falsidades. Fui muitas vezes repreendido devido à aridez de meu gênio; uma deficiência de imaginação foi-me imputada como um crime; e o pirronismo das minhas opiniões me fez sempre notório. De fato, um forte apego à filosofia natural matizou minha mente, receio, com um erro muito comum nestes tempos – refiro-me ao hábito de atribuir acontecimentos, mesmo os menos suscetíveis a tais atribuições, aos princípios dessa ciência. Em síntese, pessoa nenhuma poderia ser menos propensa do que eu a se deixar levar para longe das severas fronteiras da verdade pelos ignes fatui[2] da superstição. Julguei apropriado fazer esta introdução por temer que a incrível história que tenho para contar possa ser considerada antes o desvario de uma imaginação rude do que a experiência concreta de uma mente para a qual os devaneios da fantasia eram letra morta e nulidade. Depois de muitos anos viajando pelo estrangeiro, embarquei, no ano de 18..., no porto de Batávia, na rica e populosa ilha de Java, numa viagem ao arquipélago de Sonda. Viajei como passageiro – não tendo outra motivação senão uma espécie de desassossego nervoso que me assombrava como um demônio. Nossa embarcação era um belo navio de cerca de quatrocentas toneladas, firmado em cobre e construído em Bombaim com teca de Malabar. Estava carregado com algodão em rama e óleo, das ilhas Laquedivas. Também tínhamos a bordo fibra de coco, açúcar mascavo, manteiga líquida, cocos e algumas caixas de ópio. O armazenamento fora feito de modo canhestro, e por isso o navio adernava. Partimos com um mero sopro de vento e por muitos dias permanecemos ao longo da costa oriental de Java, sem nenhum incidente que quebrasse a monotonia de nosso avanço, nada que não fosse um encontro ocasional com alguns pequenos barcos do arquipélago para o qual nos dirigíamos. Num fim de tarde, debruçado no parapeito da popa, observei uma nuvem isolada, muito peculiar, a noroeste. Ela era formidável, tanto por sua cor quanto por ser a primeira que víamos desde que saíramos de Batávia. Olhei para ela com a maior atenção até o pôr do sol, quando ela se espalhou de uma só vez a leste e oeste, cingindo o horizonte com uma estreita faixa de vapor, com a aparência de uma longa linha baixa de praia. Minha atenção foi logo a seguir atraída pela aparição avermelhada da lua e pelo aspecto pitoresco do mar. Este último estava passando por uma rápida transformação, e a água parecia mais transparente do que o normal. Embora eu pudesse enxergar com clareza o fundo, verifiquei, lançando a sonda, que estávamos numa profundidade de trinta metros. Então o ar se tornou intoleravelmente quente, carregado de exalações espirais semelhantes às que emanam de ferro aquecido. À medida que a noite caía, os menores sopros de vento se esgotavam, e era impossível conceber uma calmaria maior do que aquela. A chama de uma vela queimava na popa, sem apresentar nem o mais imperceptível movimento, e um longo fio de cabelo, sustentado com dedão e indicador, pendia sem que houvesse a menor possibilidade de detectarmos uma vibração. Entretanto, o capitão dizia não perceber nenhuma indicação de perigo, e, como estávamos sendo levados pela corrente diretamente para a costa, ele ordenou que as velas fossem recolhidas e que se lançasse âncora. Nenhum vigia foi de
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