Caminhos de Sangue – Dustlands – Vol 1 – Moira Young

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Saba passou a vida inteira na Lagoa da Prata, uma imensidão de terra desértica assolada por constantes tempestades de areia. O lugar não a incomoda, contanto que o irmão gêmeo, Lugh, esteja por perto. Quando, porém, uma gigantesca tempestade chega trazendo quatro cavaleiros de mantos negros em seu rastro, a vida que Saba conhece chega ao fim: Lugh é raptado e ela tem que embarcar em uma perigosa jornada para resgatá-lo. Repentinamente jogada na realidade selvagem e sem lei do mundo além da Lagoa da Prata, Saba não consegue pensar no que fazer sem Lugh para guiá-la. Por isso, talvez a maior surpresa seja o que descobre sobre si mesma: é uma lutadora incansável, uma sobrevivente feroz e uma oponente perspicaz. Com a ajuda de um audacioso e atraente fugitivo e de uma gangue de garotas revolucionárias, Saba se torna a protagonista de um confronto que vai mudar o destino de sua civilização. Com ritmo arrasador, ação constante e uma história de amor épica, Caminhos de Sangue é uma aventura grandiosa ambientada em um mundo futurista e violento.

Para meus pais e para Paul... O Lugh nasceu primeiro. No solstício de inverno, quando o sol fica bem baixinho no céu. Depois fui eu. Duas horas depois. Isso já diz tudo. O Lugh vai primeiro, sempre primeiro, e eu venho atrás. E assim tá bem. Assim tá certo. É assim que tem que ser. Porque tá tudo definido. Tá tudo determinado. A vida de todo mundo que já nasceu. A vida de todo mundo que ainda tá esperano pra nascer. Tava tudo escrito nas estrelas no momento que o mundo começou. A hora de você nascer, a hora de você morrer. Até o tipo de pessoa que você vai ser, boa ou ruim. Se você sabe ler as estrelas, pode ler a história da vida das pessoas. A história da sua própria vida. O que já passou, o que tá aconteceno agora e o que ainda tá por vir. Quando o Pai era menino, ele conheceu um viajante, um homem que sabia um monte de coisa. Ele aprendeu o Pai a ler as estrelas. O Pai nunca fala o que vê no céu da noite, mas dá pra ver que ele sente isso muito forte. Porque num dá pra mudar o que tá escrito. Mesmo que o Pai fosse falar o que sabe, mesmo que ele fosse avisar pra você, ainda assim a coisa ia acontecer. Eu vejo o jeito que ele olha pro Lugh às vezes. O jeito que ele olha pra mim. E queria que ele dissesse pra gente o que ele sabe. Acho que o Pai num queria ter conhecido aquele viajante. Se você já viu a gente junto, nunca que ia dizer que eu e o Lugh temos o mesmo sangue. Nunca que ia pensar que a gente cresceu junto no mesmo ventre. Ele tem cabelo louro. O meu é preto. Olho azul. Olho castanho. Forte. Magrela. Bonito. Feia. Ele é a minha luz. Eu sou a sombra dele. O Lugh reluz que nem o sol. Por isso que deve ter sido tão fácil acharem ele. Só precisaram seguir a luz dele. LAGOA DE PRATA O dia tá quente. Tão quente e tão seco que só consigo sentir gosto de poeira. É o tipo de dia tão quente, mas tão quente, que parece que dá pra ouvir a terra rachar. Num cai nem uma gotinha de chuva já faz quase uns seis meses. Até o riacho que desemboca na lagoa tá começano a secar. Agora a gente tem que andar um bocado pra encher um balde. Daqui a pouco num vai ter razão pra usar o nome dela. Lagoa da Prata. Todo dia o Pai tenta outra simpatia ou feitiço. E todo dia, nuvens grandes e barrigudas se juntam lá no horizonte. O coração da gente até bate mais depressa e a gente fica cheio de esperança quando elas vêm flutuano devagarzinho na nossa direção. Mas aí, muito antes de alcançarem a gente, elas se desfazem, se dissolvem e somem. Toda vez. O Pai nunca fala nada. Ele só olha pro céu, o céu claro e terrível. Aí ele junta as pedras, os galhos ou o que tinha colocado no chão dessa vez e separa pra amanhã. Hoje ele empurra o chapéu pra trás. Levanta a cabeça e fica um tempão estudano o céu. — É, acho que vou tentar um círculo, — ele diz. — É, aposto que um círculo é a coisa certa. O Lugh tem falado isso já faz um tempo. O Pai tá piorano. A cada dia seco que passa, parece que um pouco mais do Pai... Acho que desaparece é a melhor palavra. Antigamente sempre dava pra pescar um peixe na lagoa ou pegar um bicho com as nossas armadilhas. Pro resto, a gente plantava um pouco, pilhava um tanto e, no fim das contas, conseguia se virar. Mas nesse último ano, por mais que a gente faça, por mais que a gente tente, num basta. Não sem chuva. A gente fica veno a terra morrer, um pouquinho de cada vez. E com o Pai é igual. Um dia de cada vez, o que tem de melhor nele vai murchano. Sabe, ele já num tá bem faz tempo. Desde que a Mãe morreu. Mas o Lugh tá certo. Que nem a terra, o Pai tá ficano pior e os olhos dele observam cada vez mais o céu em vez de enxergar o que tá aqui na frente dele. Acho que ele nem vê mais a gente. Não pra valer. Hoje em dia, a Emmi corre solta por aí, com o cabelo imundo e o nariz escorreno. Se num fosse pelo Lugh, acho que nem banho ela tomava. Antes de a Emmi nascer, quando a Mãe ainda tava viva e tudo era feliz, o Pai era diferente. A Mãe sempre conseguia fazer ele rir. Ele corria atrás de mim
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