As Bodas de Luís Duarte – Machado de Assis

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Como um grande contista, Machado de Assis escreveu cerca de 200 contos em toda a sua carreira. Um desses contos é As Bodas de Luís Duarte, que faz parte do livro Histórias da Meia-Noite, publicado pela primeira vez em 1873.

No enredo, Luís Duarte está no dia de seu casamento com Carlota Lemos. A história é contada em apenas um dia, e gira em torno do festejo. Tudo é contado de forma maravilhosa, como o casamento dos sonhos de qualquer pessoa. Mas no fundo, analisando as palavras escritas por Machado de Assis, pode-se perceber certa ironia em grande parte do que é escrito, típico do autor.

As Bodas de Luís Duarte, de Machado de Assis Fonte: ASSIS, Machado de. Histórias da meia-noite. São Paulo : LEL, [s.d.]. p. 176-246. (Coleção obras ilustradas de Machado de Assis, v.1). Texto proveniente de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo Permitido o uso apenas para fins educacionais. Texto-base digitalizado por: Jacqueline Rizental Machado – Curitiba/PR Este material pode ser redistribuído livremente, desde que não seja alterado, e que as informações acima sejam mantidas. Para maiores informações, escreva para . Estamos em busca de patrocinadores e voluntários para nos ajudar a manter este projeto. Se você quer ajudar de alguma forma, mande um e-mail para e saiba como isso é possível. AS BODAS DE LUÍS DUARTE Na manhã de um sábado, 25 de abril, andava tudo em alvoroço em casa de José lemos. Preparava-se o aparelho de jantar dos dias de festa, lavavam-se as escadas e os corredores, enchiam-se os leitões e os perus para serem assados no forno da padaria defronte; tudo era movimento; alguma coisa ia acontecer nesse dia. O arranjo da sala ficou a cargo de José Lemos. O respeitável dono da casa, trepado num banco, tratava de pregará parede duas gravuras compradas na véspera em casa do Bernasconi; uma representava a Morte de Sardanapalo; outra a Execução de Maria Stuart. Houve alguma luta entre ele e a mulher a respeito da colocação da primeira gravura. D. Beatriz achou que era indecente um grupo de homens abraçado com tantas mulheres. Além disso, não lhe pareciam próprios dois quadros fúnebres em dia de festa. José lemos, que tinha sido membro de uma sociedade literária, quando era rapaz, respondeu triunfantemente que os dois quadros eram históricos. E que a história está bem em todas as famílias. Podia acrescentar que nem todas as famílias estão bem na história; mas este trocadilho era mais lúgubre que os quadros. D. Beatriz, com as chaves na mão, mas sem a melena desgrenhada do sonêto de Tolentino, andava literalmente da sala para a cozinha, dando ordens, apressando as escravas, tirando toalhas e guardanapos lavados e mandando fazer compras, em suma, ocupada nas mil coisas que estão a cargo de uma dona de casa, máxime num dia de tanta magnitude. De quando em quando, chagava Dona Beatriz à escada que ia ter ao segundo andar, e gritava: – Meninas, venham almoçar! Mas parece que as meninas não tinham pressa, porque só depois das nove horas acudiram ao oitavo chamado da mãe, já disposta a subir ao quarto das pequenas o que era verdadeiro sacrifício da parte de uma senhora tão gorda. Eram duas moreninhas de truz as filhas do casal Lemos. Uma representava ter vinte anos, outra dezessete; ambas eram altas e um tanto refeitas. A mais velha estava um pouco pálida; a outra, coradinha e alegre, desceu cantando não sei que romance do Alcazar, então em moda.. parecia que das duas a mais feliz seria a que cantava; não era; a mais feliz era a outra que nesse dia devia ligar-se pelos laços matrimoniais ao jovem Luís Duarte, com quem nutria longo e porfiado namoro. Estava pálida por ter tido uma insônia terrível, doença de que até então não padecera nunca. Há doenças assim. Desceram as duas pequenas, tomaram a benção à mãe, que lhes fez um rápido discurso e foram à sala para falar ao pai. José lemos, que pela sétima vez trocava a posição dos quadros, consultou as filhas sobre se era melhor que a Stuart ficasse do lado do sofá ou do lado oposto. As meninas disseram que era melhor deixá-la onde estava, e esta opinião pôs termo às dúvidas de José lemos que deu por concluída a tarefa e foi almoçar. Além de José Lemos, sua mulher Dona Beatriz, Carlota (a noiva) e Luísa, estavam à mesa Rodrigo Lemos e o menino Antonico, filhos também do casa
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