Após as loucas aventuras vividas com seus estranhos amigos em “O Guia do Mochileiro das Galáxias” e “O Restaurante no Fim do Universo”, Arthur Dent ficou cinco anos abandonado na Terra Pré-Histórica. Mesmo depois de tanto tempo, ele ainda acordava todas as manhãs com um grito de horror por estar preso àquela monótona e assustadora rotina. Talvez Arthur até preferisse continuar isolado em sua caverna escura, úmida e fedorenta a encarar a próxima aventura para a qual seria forçosamente arrastado: salvar o Universo dos temíveis robôs xenófobos do planeta Krikkit.
Este é o terceiro volume da “trilogia de cinco” de Douglas Adams, um dos mais cultuados escritores de ficção científica de todos os tempos. Seu humor corrosivo e sua habilidade em criar situações improváveis tornam seus livros indispensáveis para qualquer um que tenha capacidade de debochar de si mesmo.
Usando o planeta Krikkit como paródia da nossa sociedade e das guerras raciais, Adams cria uma história divertida, inteligente e repleta dos mais inusitados significados sobre a vida, o universo e tudo mais.
A Vida, o Universo e Tudo Mais
Douglas Adams
Para Sally
Capítulo 1
O já habitual grito matinal de horror era o som de Arthur Dent ao acordar e lembrar-se de onde estava.
O que o perturbava não era apenas a caverna fria nem o fato de ser úmida e fedorenta. Era o fato de que ela ficava bem no meio de Islington e que o próximo ônibus só iria passar dentro de dois milhões de anos.
O tempo é, por assim dizer, o pior lugar onde ficar perdido, como Arthur Dent havia descoberto. Ele já tinha se perdido várias vezes, tanto no tempo quanto no espaço. Pelo menos estar perdido no espaço mantém a pessoa ocupada.
Estava ilhado na Terra Pré-Histórica como resultado de uma complexa seqüência de eventos envolvendo o fato de ele ter sido alternadamente detonado ou insultado em regiões da Galáxia mais estranhas do que poderia sonhar. Por conta disso, ainda que sua vida no momento fosse extremamente monótona, continuava se sentindo muito assustado.
Fazia cinco anos que ninguém o detonava.
Como não tinha encontrado ninguém desde que ele e Ford Prefect se separaram quatro anos antes, também não havia sido insultado durante todo aquele tempo.
Exceto uma vez.
Aconteceu numa tarde de primavera cerca de dois anos antes.
Ele estava voltando para sua caverna, pouco depois do entardecer, quando percebeu estranhas luzes piscando através das nuvens. Virou-se para observar, sentindo seu coração encher-se de esperança. Resgate. Uma saída. O sonho impossível de todo náufrago: uma nave.
Observou, fascinado e animado, uma nave prateada e comprida descer em meio à brisa morna da tarde, em silêncio, delicadamente, suas longas e esguias hastes desdobrando-se em um suave bale tecnológico.
Assentou-se suavemente no terreno e o pequeno zumbido que havia gerado sumiu, como se fosse embalado pela calma da tarde.
Uma rampa estendeu-se.
Surgiram luzes pela abertura.
Uma silhueta alta apareceu na portinhola, desceu a rampa e parou bem na frente de Arthur.
― Você é um idiota, Dent ― foi tudo o que disse.
Era um alienígena, do tipo bem alienígena. Tinha uma altura peculiarmente alienígena, uma cabeça achatada peculiarmente alienígena, pequenos olhos em fenda peculiarmente alienígenas, estava vestido com uma roupa elaboradamente desenhada e usava um colar peculiarmente alienígena, e tinha uma cor pálida cinza-esverdeada de alienígena que reluzia com um brilho lustroso que a maioria das faces cinza-esverdeadas só podia conseguir por meio de muitos exercícios e de sabonetes absurdamente caros.
Arthur olhou-o, atônito.
O alienígena olhou-o de volta.
O sentimento inicial de esperança e excitação havia sido completamente superado pelo espanto, e pensamentos de todos os tipos estavam, naquele momento, brigando pelo controle de suas cordas vocais.
― Qqqu...? ― disse ele. ― Mmms... ah... aahn... ― acrescentou em seguida. ―
Qqqm... eeeerrr... ehh... quem? – conseguiu finalmente dizer e depois caiu numa espécie de silêncio frenético. Estava sentindo os efeitos de não ter dito nada a ninguém por mais tempo do que podia se lembrar.
A criatura alienígena franziu o rosto brevemente e consultou uma espécie de prancheta que estava segurando com sua mão fina e esguia de alienígena.
― Arthur Dent? ― disse ele.
Arthur assentiu, balançando a cabeça.
― Arthur Phillip Dent? ― prosseguiu o alienígena, com um tom de voz de firme.
― Ahhh... ah... sim... éééé... éééé ― confirmou Arthur.
― Você é um idiota ― repetiu o alienígena ―, um bundão completo.
― Ehhh...
A criatura pareceu ter ficado satisfeita com aquilo. Balançou a cabeça levemente, depois fez uma marquinha peculiarmente alienígena em sua prancheta e virou-se bruscamente, caminhando em direção à nave.
― Ehhh... ― disse Arthur, desesperado. ― Ehhhh...
― Ah, não me venha com esse papo! ― retrucou o alienígena. Subiu a rampa, passou pela portinhola e des