A Ilha do Dr. Moreau – H. G. Wells

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À deriva, sem esperanças de sobreviver em alto mar, Charles Prendick é resgatado por um navio em missão das mais incomuns: levar a uma pequena ilha no Pacífico algumas espécies de animais selvagens. Ainda debilitado, Prendick é obrigado a desembarcar na ilha junto com o carregamento. Lá, ele conhece a figura do dr. Moureau, um cientista que, exilado por suas pesquisas polêmicas na Inglaterra, realiza experimentos macabros com seus animais. Uma parábola sobre a teoria da evolução, também uma mordaz sátira social, “A ilha do dr. Moreau” é um romance que, mais de cem anos após sua publicação original, permanece com a mesma força da surpresa e do horror.

VI Os barqueiros de aspecto maligno Mas os ilhéus, vendo que eu ficara de fato à deriva, tiveram pena de mim. Flutuei devagar rumo ao leste, aproximando-me da ilha numa longa curva; e por fim notei, com um alívio quase histérico, que a lancha fazia meia-volta e vinha na minha direção. Estava muito pesada, pela enorme carga que trazia, e quando se aproximou avistei o companheiro grisalho de Montgomery, com seus cabelos brancos e seus ombros largos, agachado por entre os cães e os caixotes junto às velas da popa. Olhava-me com fixidez, sem falar ou fazer qualquer gesto. O aleijado de rosto escuro também me olhava da proa, junto à jaula da onça. Além deles havia três outros homens, três indivíduos de aspecto estranhamente abrutalhado, cuja proximidade fazia os cães rosnarem furiosos. Montgomery, que estava ao leme, trouxe a lancha até perto do meu bote, puxou para cima a minha corda de atracação e a prendeu, para me rebocar, porque não havia espaço para mim a bordo. Meu acesso de histeria já tinha passado, a essa altura, e respondi corajosamente ao seu aceno. Disse-lhe que o bote tinha água pela metade, e ele me jogou um balde de madeira. Fui jogado para trás quando o cabo entre os dois barcos se esticou, rebocando-me. Durante algum tempo fiquei atarefado em esvaziar o escaler. Quando terminei de retirar toda a água (que tinha entrado ali pelo alto; o bote estava perfeitamente intacto), tive algum tempo para observar mais de perto os tipos que estavam na lancha. O homem grisalho continuava a me observar, mas agora achei que sua expressão era, acima de tudo, de perplexidade. Quando o encarei, ele abaixou os olhos para o mastim que estava aos seus pés. Era, como já disse, um indivíduo de compleição poderosa, com uma bela testa e feições carregadas; mas seus olhos tinham em volta a pele flácida que vem com a idade avançada, e o modo como sua boca se contraía nos cantos dava indícios de uma vontade forte e resoluta. Falava a Montgomery num tom de voz baixo, e eu não conseguia distinguir o que dizia. Meus olhos passaram dele para os três ilhéus da lancha, que eram uma tripulação das mais estranhas. Eu podia ver apenas os seus rostos, e era nesses rostos que alguma coisa — não sei dizer o quê — me provocava um espasmo de repulsa. Olhei-os com atenção, e esta impressão perdurava, embora eu não soubesse o motivo. Pareciam-me homens morenos, escuros, mas seus braços e pernas estavam cobertos por um tecido branco, fino e bastante sujo, que ia até seus dedos e seus pés. Nunca vi homens com o corpo tão coberto, e mulheres assim, só no Oriente. Também usavam turbantes, por sob os quais surgiam seus rostos como os de duendes — rostos de queixo saliente e olhos faiscantes. Tinham cabelo negro e liso, quase como a crina de um cavalo, e, mesmo sentados ali, davam-me a impressão de exceder em estatura qualquer outra raça humana que eu já vira. O homem de cabelos brancos, que eu vira de perto e teria cerca de um metro e oitenta, ficava uma cabeça mais baixo do que qualquer um deles. Vim a descobrir depois que na verdade nenhum deles era muito mais alto que eu próprio, mas seus corpos eram anormalmente longos, enquanto suas coxas eram mais curtas do que o normal, e curiosamente deformadas. De qualquer modo formavam em seu conjunto um grupo espantosamente feio, e por sobre suas cabeças, um pouco abaixo do guindaste dianteiro, eu via o rosto negro do homem cujos olhos brilhavam no escuro. Quando olhei na sua direção eles primeiro me fitaram de frente e depois, um por um, desviaram o olhar do meu, passando a me vigiar de maneira furtiva, dissimulada. Pensei que os estava deixando pouco à vontade e dirigi minha atenção para a ilha da qual nos aproximávamos. Era uma ilha plana, coberta de espessa vegetação, principalmente de uma espécie de palmeira. De um ponto remoto erguia-se uma coluna de vapor, elevando-se diagonalmente até uma enorme altura, onde se esgarçava como a pena de um pássaro, até se dissipar ao vento. Estávamos ag
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