Na costa da Carolina do Norte, o jovem jornalista Reuben Golding prepara uma reportagem sobre a enorme propriedade do desaparecido Felix Nideck e acaba se envolvendo com a herdeira Marchent Nideck. Após algumas horas na mansão, porém, Reuben é atacado por uma criatura que o transforma em um lobisomem. Depois de tornar-se um tipo controvertido de herói na cidade, por ajudar quem está em apuros, Reuben precisa esconder-se da polícia, dos médicos e até da própria família, e aprender a lidar com suas novas habilidades. Primeiro livro da nova série da consagrada Anne Rice, A dádiva do lobo foi elogiado na imprensa americana.
A Dádiva do Lobo – Anne Rice
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Foi a quinzena de muitas coisas.
Margon acompanhou Stuart até sua casa em Santa Rosa para que pegasse seu carro, um velho Jaguar conversível que pertencera a seu pai. E visitaram a mãe de Stuart que estava numa clínica psiquiátrica porém “morrendo de tédio” e “enjoada de todas essas revistas de quinta categoria” e pronta para comprar um guarda-roupa inteiro para ajudá-la a lidar com suas carências. O agente dela telefonara de Hollywood para dizer que estava novamente em alta. Bem, isso foi um exagero, mas tinham trabalho para ela caso conseguisse entrar num avião. Talvez fosse às compras em Rodeo Drive.
Grace, ungida à condição de testemunha mais bem articulada e significativa do último ataque do lobo homem em Mendocino County, era figura constante nos talk shows, convencendo o mundo em termos racionais de sua teoria segundo a qual aquela desafortunada criatura era a vítima de uma condição congênita ou de uma doença subsequente que a deixara fisicamente deformada e mentalmente desequilibrada, mas que logo, logo cometeria um erro e cairia nas mãos das autoridades e receberia o confinamento e o tratamento que merecia.
Seguidamente, os investigadores do escritório da promotoria, do FBI, e do Departamento de Polícia de San Francisco vinham interrogar Stuart e Reuben, já que haviam sido o misterioso foco de mais de um ataque do lobo homem.
Era difícil para Stuart e para Reuben, já que nenhum dos dois era um mentiroso habilidoso, mas logo aprenderam o truque das respostas mínimas, dos murmúrios e dos resmungos à medida que prolongavam suas narrativas e, por fim, foram deixados em paz.
Reuben escreveu um longo e esclarecedor artigo para o San Francisco Observer que, em essência, sintetizava seus artigos anteriores, espicaçado com suas próprias descrições vívidas do ataque do lobo homem, o “primeiro” que vira com seus próprios olhos. Suas conclusões eram previsíveis. Não era um super-herói, e a adulação e a adoração promovidas pelos fãs deveriam acabar. Entretanto, nos deixara com muitas perguntas. Por que fora tão fácil para muitos abraçar uma criatura tão descompromissadamente cruel? Será que o lobo homem representava um recuo à época em que todos nós agíamos de modo cruel e nos sentíamos felizes sendo assim?
Enquanto isso, a fera fizera uma última e espetacular aparição no interior do México, chacinando um assassino em Acapulco para em seguida adentrar uma fase de esquecimento.
Frank Vandover, alto, cabelos pretos, com uma pele muito alva e a boca bem-feita de Cupido, retornara com o gigante nórdico Sergei Gorlagon, enchendo a casa de histórias quase burlescas a respeito de como haviam ludibriado não só a polícia como também as testemunhas durante a jornada pelo sul. Frank era certamente o mais contemporâneo dos distintos cavalheiros, um americano piadista com um verniz hollywoodiano e uma tendência a implicar impiedosamente com Reuben acerca de suas primeiras explorações e de despentear os cabelos de Stuart. Ele os chamava de filhotes maravilhosos, e os teria engabelado a disputar uma corrida na floresta se Margon não tivesse estipulado qual era a lei a esse respeito.
Sergei era um acadêmico brilhante de cabelos grisalhos, espessas sobrancelhas brancas e inteligentes e divertidos olhos azuis. Tinha uma voz mais ou menos semelhante à de Thibault, profunda e ressonante, e inclusive um pouco crepitante. E começou uma tirada deliciosa sobre o brilhante e profético Teilhard de Chardin com Laura e Reuben, tendo ele próprio um amor pela teologia abstrata e pela filosofia que ultrapassava o deles.
Era impossível adivinhar a idade de qualquer daqueles homens, na realidade, sentia Reuben; e perguntar seria algo claramente deselegante. “Há quanto tempo vocês têm vagado pela Terra?”, simplesmente não parecia uma pergunta aceitável, principalmente vinda de alguém que Frank insistia em chamar de filhote ou cria.
Por diversas vezes, durante o almoço ou o jantar, ou enquanto reunidos apenas para conversar na mesa da sala de café da manhã,