O Caso Morel – Rubem Fonseca

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“Suspeito que o universo não é apenas mais estranho do que supomos: é mais estranho do que somos capazes de supor.”
Fiel a essa máxima, O caso Morel não é apenas um ótimo entretenimento, um livro que arrebata o leitor da primeira à última linha. É, antes de tudo, uma das mais inquietantes reflexões sobre o sentido moral da arte.
Com a maestria que lhe é característica, Rubem Fonseca criou aqui um círculo de personagens inesquecíveis, da prostituta desamparada à grã-fina em busca de aventuras, passando pelo carismático Paul Morel, figura emblemática de um artista capaz de levar ao extremo da corrosão e da fúria sua inquietação frente à arte e ao mundo.

Sumário Capa Folha de rosto Créditos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 FIM Atrás das grades O caso Rubem Fonseca O autor Copyright © 1973 Rubem Fonseca Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19.02.1998 Coordenação da edição Sérgio Augusto Revisão Claudia Moreira e Cristiane Pacanowski Capa Retina 78 Produção de ebook S2 books Texto estabelecido segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ. F747c 3.ed. Fonseca, Rubem, 1925- O caso Morel / Rubem Fonseca. - 3.ed. - Rio de Janeiro: Agir, 2010. ISBN 978-85-220-1267-1 1. Romance brasileiro. I. Título. 10-1626                                                                                        CDD 869.93 CDU 821.134.3(81)-3 Todos os direitos reservados à AGIR, selo da Editora Nova Fronteira Participações S.A., uma empresa do Grupo Ediouro Publicações. Rua Nova Jerusalém, 345 – CEP 21042-235 – Bonsucesso – Rio de Janeiro – RJ tel.: (21) 3882-8200 fax: 3882-8212/8313 1 Matos e Vilela se encontram na porta da penitenciária. Sozinho Vilela teria dificuldade para entrar, mas com Matos as portas são abertas. Chegam à cela de Morel. Cubículo pequeno. Cama estreita com cobertor cinzento. Mesa cheia de livros; rádio portátil; pia; latrina; mais livros empilhados no chão. Morel é um homem magro, pálido, cabelos escuros, grisalhos nas têmporas. Rugas fundas cortam seu rosto. Veste uma camisa branca e calça cinza, amassadas. Possivelmente dorme com aquela roupa. “Tenho dois dos seus livros aqui.” Procura os livros, acha apenas um deles. “O outro sumiu. Você não quer sentar?” Morel indica a Vilela a única cadeira da cela. “Vou deixar vocês sozinhos. Tenho ainda muita coisa para fazer”, diz Matos. “Obrigado.” Morel aperta a mão de Matos. “Vocês vão se dar bem. Quando quiser sair, bate na porta e manda chamar o inspetor Rangel.” Matos sai. “Nem sei como começar”, diz Morel. “O Rei disse para Alice ‘começa no princípio, depois continua, chega ao fim e para’. Mas onde é o princípio?” Vilela: “Você também pode começar do fim e terminar no princípio, ou no meio”. “Preciso da sua ajuda.” “Diga como.” “Eu preciso escrever um livro. Matos não lhe falou?” “Disse que você queria falar com um escritor.” “Quero ajuda para escrever um livro.” “Quanto menos ajuda dos outros, melhor.” Morel reflete por instantes. “Estou muito arrasado.” “É assim mesmo que se escreve.” “Eu quero ter certeza de que vou ser publicado.” “Essa certeza você não pode ter.” Morel sentado na cama. Deita lentamente, com os braços cruzados sobre os olhos. Vilela pega um livro sobre a mesa. Visão e invenção. “Adianta escrever, se ninguém vai ler?” “Adianta, sempre.” “Passo as noites sonhando com a minha carreira literária”, a ironia na voz é forçada. “Você quer um biscoito?” Uma lata de biscoitos debaixo da cama. Comem biscoitos. “Onde você arranjou esse monte de livros?” “São meus.” “Quem traz?” “O doutor Matos. Dei a ele a chave da minha casa. Eu peço os livros, ele vai na minha estante e apanha. Às vezes ele me compra um livro, mas o gosto dele não combina muito com o meu.” “Você já escreveu alguma coisa?”, pergunta Vilela. 2 AVERTISSEMENT Ce livre n’est pas fait pour les enfants, ni même pour les jeunes gens, encore moins pour les jeunes filles. Il s’adresse exclusivement aux gens mariés, aux pères et mères de famille, aux personnes sérieuses et mûres qui se préoccupent des questions sociales et cherchent à enrayer le mouvement de décadence qui nous entraîne aux abîmes. Son but n’est pas d’amuser, mais d’instruire et de moraliser. Dr. Surbled, 1913.   Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Lembro-me de que quando entrei no cabaré, em São Paulo, a velha Doroteia foi logo pedindo que eu tocasse guitarra para ela. Infelizmente não era possíve
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