A vida privada de Stálin – Lilly Marcou

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Um homem dedicado à família, mesmo com as atribulações de sua vida pública, e generoso, que gostava de ter todos perto de si em almoços na casa de campo. Essa é uma imagem que dificilmente associaríamos a Stálin, o responsável pela morte de milhões de pessoas e um dos personagens mais emblemáticos e polêmicos do século XX. Fruto da determinação da historiadora francesa Lilly Marcou em conhecer melhor uma figura tão contraditória. A vida privada de Stálin traça um perfil revelador do homem sempre ofuscado pelo mito. Sem pretender promover um novo julgamento dos anos de terror stalinista, o resultado do trabalho de Marcou é um Stálin de carne e osso, humano, ainda que não menos vulnerável às acusações da posteridade. Para escrever este livro, baseado em trinta anos de pesquisas, ela contou com fontes primárias, inéditas em em sua maioria.
Mergulhou profundamente nos arquivos abertos ao Ocidente após o fim da União Soviética e entrevistou parentes e pessoas próximas a Stálin que sobreviveram aos expurgos. A autora evidencia como as atrocidades do regime conviviam com a esfera privada na vida do ditador e desvenda o homem por trás do mito, sem com isso questionar seus crimes. Por trás do líder carismático que mobilizou nações e surpreendeu seus pares como Churchill e Roosevelt; ou do governante implacável na eliminação de seus opositores, mesmo que fossem membros de sua própria família, ela recupera o jovem inúmeras vezes exilado pelo czar e o homem duas vezes viúvo e envolto numa crescente paranoia. Nesse processo, apresenta fatos novos, ilumina aspectos omitidos ou ignorados e esclarece controvérsias, fazendo a ponte entre o rumor e a realidade.

Lilly Marcou A vida privada de Stálin Tradução: André Telles Sumário Prólogo 1. Sosso Gori Tíflis Batum 2. Koba O komitetchik Primeiro casamento Os exílios O filho natural 3. Stálin O surgimento de um teórico O siberiano 4. Na torrente da Revolução O retorno do herói Ajudante de campo de Lênin Um amor surgido entre a revolução e a guerra civil Nadejda, secretária de Lênin A marcha para o poder Desavenças com Lênin 5. Entre vitórias políticas e reveses familiares Uma família como as demais O primeiro grupo O homem ponderado Um teórico contestado Primeiras cisões Um suicídio misterioso A segunda revolução 6. O ditador Supostos amores e um caso verídico Chefe de clã O assassinato de Kirov O segundo luto Os parentes Em meio ao povo A obsessão do suicídio A loucura assassina A família dizimada 7. Líder em tempos de guerra Vigília de armas “Operação Barba Ruiva” A captura de Iakov Moscou sitiada O front Um amor impossível Os Aliados O episódio de Katyn O caso Morozov Valentina Vassilievna Istomina 8. O recluso A política de contenção Autorretrato O segundo expurgo na família Os “casos” Molotov A “questão antissemita” Fim de reinado Epílogo Notas Bibliografia Agradecimentos Índice onomástico – Mamãe, lembra-se do nosso czar? – Claro! – Pois bem, de certa forma sou o novo czar… – Pondo tudo na balança, você teria feito melhor virando padre. Diálogo entre Stálin e a mãe     Portanto quem julgar necessário, em seu novo governo, controlar os inimigos, atrair os amigos, vencer por força ou astúcia, ser amado e temido pelo povo, acompanhar os soldados e ser por eles respeitado, arruinar os que podem ou inclinam-se a prejudicar-nos, modernizar mediante novos recursos os antigos costumes, ser rigoroso e benevolente, altivo e liberal, destruir uma milícia infiel, criar uma nova, manter-se amigo dos reis e príncipes, de maneira que eles o adulem voluntariamente ou não o prejudiquem sem inquietude, este não pode escolher exemplos mais recentes do que os feitos do duque de Valentinois. MAQUIAVEL, O príncipe     Prólogo O HOMEM STÁLIN ACABOU OFUSCADO pelo mito, cujo espectro determina toda a perspectiva do século XX. Neste livro, procuro descrever a vida privada desse homem, aludindo aos fatos históricos apenas quando necessários à inteligibilidade do itinerário pessoal do indivíduo ou quando permitem desvelar, nuançar ou transformar as interpretações julgadas definitivas. Por muito tempo a aura de “monstro abjeto” impediu que desvendássemos o enigma de um caráter. Decerto é tranquilizador pensar que o homem sob cujo regime tais horrores foram cometidos não pode ser senão um demônio: maneira de desculpar as pessoas que o cercavam, preservar o otimismo à la Rousseau quanto à inocência da natureza humana e banir dessa humanidade comum o único responsável pelos crimes perpetrados. Essa demonização de Stálin, contudo, não passa de preguiça intelectual, como sua deificação o fora ontem: fazendo-o existir em carne e osso, humano, demasiado humano, nem por isso ele se torna menos vulnerável ao julgamento da História. Não ignoro que tentar captar a personalidade do homem Stálin, a partir de arquivos inéditos e conversas com os sobreviventes da linhagem familiar e do círculo mais íntimo, poderá parecer obsceno aos olhos de alguns. O quê?! Falar das emoções desse tirano sem levar em conta sua responsabilidade nos milhões de mortes pelas quais ele é culpado? Mergulhar sem ideias pré-concebidas nos ignóbeis segredinhos da história privada, deixando em segundo plano uma das maiores tragédias do século? A estes, faço questão de responder antecipadamente que minha proposta aqui não é promover um novo julgamento dos anos de terror stalinista: a causa é justa, e subscrevo-a. Acontece apenas que estou convencida de que, no caso de um personagem dessa dimensão, não há “ignóbeis segredinhos”: toda e qualquer prova material que venha a surgir deve ser despejada no dossiê da História. À exceção de numerosos e abalizados estudos dos sov
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