Notas do Subsolo – Fiódor Dostoiévski

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“Notas do subsolo” é um marco no grandioso conjunto de obras que Dostoiévski legou à humanidade. Dotado de um humor mordaz, provocativo e desafiador, este livro introduz as ideias de moral e política que o escritor mais tarde abordaria nas obras-primas “Crime e castigo” e “Os irmãos Karamazóv”. Sua ideia de “homem subterrâneo” legou à ficção europeia moderna um dos seus principais arquétipos, encontrado também em Kafka, Hesse, Camus e Sartre: o anti-herói morbidamente obcecado com a sua própria impotência de lidar com a realidade que o cerca. Esta obra, publicada inicialmente na revista Epokha, editada por Dostoiévski e por seu irmão Mikhail, traz em si várias discussões filosóficas. Dividida em duas partes, é um autoflagelante monólogo no qual o narrador, um rebelde contrário ao materialismo e ao conformismo, discute sua visão negativa do mundo e aborda as principais questões do seu tempo, constituindo uma narrativa de uma intensidade incomum. Tradução do russo de Maria Aparecida Botelho Pereira Soares.

Nota do tradutor Ao iniciar a tradução das Notas do subsolo, de Dostoiévski, deparei-me com o problema da adequação estilística. Essa obra é bastante conhecida e dela já há entre nós e em Portugal várias traduções. No decorrer do trabalho, fui descobrindo que o enfoque da maioria das traduções de que tive conhecimento não estava de acordo com alguns detalhes característicos e fundamentais dessa obra. Notei, por exemplo, que as traduções em estilo grandioso, pomposo, via de regra atenuam a veia cômica de Dostoiévski, que não escreveu um texto sisudo, para ser lido como uma obra religiosa, um texto sagrado, algo para ser reverenciado e respeitado, e sim um texto com humor, provocativo e desafiador, para gerar polêmica e controvérsias. Fui percebendo, também, a função da própria linguagem na construção desse texto. Trata-se de uma novela escrita do princípio ao fim na primeira pessoa do singular, pretensamente pelo protagonista-narrador. Não se conhece muita coisa desse personagem, a não ser o que ele mesmo diz a respeito de si próprio. Nem ao menos o seu nome nos é revelado. Deduz-se que ele era oriundo da nobreza empobrecida ou da nascente classe média, não-nobre. A obra, estruturalmente, é constituída de duas partes com funções bem diferentes. Na primeira parte, Dostoiévski utiliza a novela como um espaço em que discute as idéias correntes no seu tempo a respeito de política, filosofia, sociedade, movimentos sociais, polemizando com as diversas tendências que fervilhavam na Rússia na segunda metade do século XIX e com as muitas idéias em voga que eram importadas da Europa Ocidental e a que ele, como eslavófilo, se opunha. Nessa primeira parte, ainda, ele desenha as características desse protagonista-narrador, através de suas reminiscências e auto-análises. Na segunda parte, ele narra episódios da vida do seu herói, ou anti-herói, ou paradoxista, como ele mesmo se qualifica no final do livro. Aí ele mostra na prática aquilo que o narrador diz de si próprio na primeira parte. Com relação à linguagem, existe uma diferença marcante entre os estilos dessas duas partes, mas um aspecto que é comum às duas é a larga utilização de elementos dos registros informais (linguagem popular, informal falada, palavras depreciativas, além de diminutivos, aumentativos, repetições, hesitações, utilização de frases feitas e ditados populares, marcadores discursivos e conversacionais), pois o narrador escreve todo o livro na primeira pessoa e conversa com uns certos “senhores”, que ora podem ser leitores comuns, ora parecem ser seus adversários nos campos político e social. Porém, não se pode caracterizar a linguagem empregada como sendo a realização de um texto integralmente num desses registros, ou variantes. A variante predominante é a formal culta na primeira parte e a formal culta mesclada com coloquial culto (especialmente nos diálogos) na segunda parte, como era comum na prosa do século XIX na Rússia (e também no Brasil). Na primeira parte, há uma forte influência do estilo e sobretudo do léxico da prosa publicística, um gênero muito cultivado na Rússia no século XIX. A atividade editorial era intensa nessa época, havendo grande quantidade de jornais e revistas de diferentes tendências e matizes políticos. Fiódor Dostoiévski e seu irmão Mikhail foram eles próprios donos de duas revistas, Epokha (Época) e Vrêmia (Tempo). O personagem-narrador polemiza com inúmeras personalidades do seu século, russos e estrangeiros, como Kant, Darwin, os socialistas utópicos franceses e russos, escritores e intelectuais russos do campo revolucionário democrático, entre outros. Seu tom é agressivo, hostil e provocativo, o que é atestado por um grande número de palavras injuriosas e de conotação negativa, utilizadas contra seus adversários ideológicos e também contra si mesmo, pois ele quer provar que possui todos aqueles defeitos como uma conseqüência natural de ter crescido naquela sociedade. Existem ainda elementos nessa primeira
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