Ninguém nasce escritor, torna-se escritor, afirma o autor neste livro de textos rápidos, mas consistentes. Escritor consagrado, publicado também na França e em Portugal, Charles Kiefer possui mais de 30 títulos, alguns com dezenas de reimpressões. Recebeu prêmios importantes, como o Afonso Arinos, da ABL, e o Jabuti, da CBL. Além de tudo isso, é, também, professor. E, nos últimos 25 anos, tem ensinado a arte da escrita a milhares de pessoas. Nesta obra, as variadas facetas do processo criativo, os mecanismos de funcionamento do sistema literário, os problemas éticos e sociais da vida autoral são discutidos com rigor e ternura, repetindo na escrita a forma de atuação do escritor-professor em sala de aula. Se você deseja conhecer melhor o universo da escrita, ou se tem, também, pretensões literárias, não pode deixar de ler esta obra.
Para Ser Escritor – Charles Kiefer
Ficha Técnica
Copyright © 2010,
Revisão de textos Débora Tamayose Lopes
Capa Mariana Newlands
Imagem de capa Bicycling Down Capitol Steps | © CORBIS/Corbis (DC)/Latinstock
Diagramação Città Estúdio
Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP-Brasil)
Ficha catalográfica elaborada por Oficina Miríade, RJ, Brasil.
K47 Kiefer, Charles, 1958-
Para ser escritor / Charles Kiefer. – São Paulo : Leya, 2010.
ISBN9788580441543
1. Teoria da literatura. 2. Literatura brasileira. 3. Ensaios. I. Título.
10-0048 CDD 801.95
2010
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TEXTO EDITORES LTDA.
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Aos que foram, são e serão meus alunos.
Um escritor somente é escritor quando menos é escritor, no instante mesmo em que tenta ser escritor e escreve.
Na absoluta solidão de seu ofício, enquanto a mente elabora as frases e a mão corre para acompanhar-lhe o raciocínio, é escritor.
Nesse espaço, entre o pensamento e a expressão, vibra no ar um ser sutil, fátuo e que, terminada a frase, concluído o texto, se evapora. Nesse átimo, o escritor é escritor. Aí e somente aí.
Depois, já é o primeiro leitor, o primeiro crítico de si mesmo e não mais escritor.
Explodida a bolha de sabão em que planava, começa a surgir o autor, essa derivação vaidosa e arrogante do escritor.
É o autor que imagina o efeito que seu texto produzirá sobre os outros, sobre a sociedade; é o autor que sente prazer em ver seu nome estampado na capa de uma obra qualquer; é o autor que se regozija com um comentário positivo da crítica, que se enfurece com um comentário negativo.
E a depender da visão de mundo que o autor importa da cultura em que está mergulhado o corpo de homem ou de mulher que lhe dá suporte, fará uma literatura mais subjetiva e pessoal ou mais objetiva e social. Mas qualquer um deles já deixou de ser escritor, já abriu mão da total liberdade de escrever sem nenhum propósito e já começou a servir ideologicamente a isto ou àquilo.
A angústia de escrever talvez advenha daí, dessa encruzilhada, dessa cicatriz e dessa impossibilidade de se permanecer escritor por muito tempo.
Não será por isso que o fluxo de consciência é tão prazeroso? Porque, em certo sentido, o fluxo, ao fazer jorrar o material inconsciente, é capaz de prolongar a duração do escritor e manter afastado o autor.
O autor, ao contrário do escritor, corre rapidamente em direção a outra mutação – transforma-se no profissional de literatura, no cronista, no contista, no romancista. E este, esquecido de sua origem e de sua completa inutilidade, alienado e vencido, organiza sessões de autógrafos, faz palestras e contrata assessores de imprensa.
Aos poucos, enfim, o autor, auxiliado por esses profissionais competentes, vai matando o escritor, fazendo-o esquecer-se de que escrever e sonhar são uma coisa só e que se esgotam no próprio devir.
Às vezes, num gesto desesperado, para livrar-se dessa morte anunciada, o escritor apanha uma espingarda de caça e explode a cabeça dos três.
A locomotiva e a imprensa criaram o conto moderno.
Edgar Allan Poe, numa resenha sobre Twice told tales, de Nathaniel Hawthorne, faz a apologia da rapidez e da concisão, um século antes de Ítalo Calvino estabelecê-las como paradigmas estéticos para o século XXI.
Poe condena o estilo lento, rebuscado, verboso, comparando-o às velhas diligências do Oeste. O futuro, anuncia o escritor de Boston, será das locomotivas e dos textos rápidos. A dissertação, vaticina o pai do Corvo, cederá lugar à informação. Até mesmo o conto, que ele também cultiva, há de ser lido de uma assentada. De uma assentada de trem que fizesse um percurso de, no máximo, duas horas. Ou uma só, de preferência.
Hoje, muitos bons contos podem ser lidos em menos tempo, muito menos tempo. Contos que requeiram duas horas de leitura já são, para nós, tediosas novelas.
O mundo se a