A Cidade dos Asfixiados – Regis Messac

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Em ‘A Cidade dos Asfixiados’, um romance de tom profético e atual – em um mundo no qual tanto se fala dos perigos da poluição atmosférica -, um burguês do século XX é projetado no espaço-tempo e vai parar numa cidade crepuscular e sufocante, a Cidade dos Asfixiados. Esta, por sua vez, é um mundo subterrâneo, um mundo de cabeça para baixo, aonde os filósofos passam o tempo resolvendo problemas de palavras cruzadas, aonde os forçados usam traje a rigor, aonde os músicos são surdos e os pintores são cegos, aonde as fontes, ao invés de água, distribuem ar – a coisa mais preciosa que existe na Cidade dos Asfixiados; tanto é assim que sua distribuição constitui privilégio da classe dominante e é sobretudo pela qualidade do ar que respiram que os ricos se distinguem dos pobres.

  INTRODUÇÃO A NARRATIVA DE BELLE SIMS   Paris, 1º de janeiro de 1942   Isto aqui não é nenhum tratado sobre a relatividade. Devo confessar, aliás, que jamais consegui entender este caso. Por causa do meu nome, muita gente poderia iludir-se, e haverá quem ache estranho que a filha do Prof. Sims, o mais ilustre continuador de Einstein, manifeste tamanha desenvoltura com relação a assunto que, durante toda a existência de seu pai, esteve sempre em primeiro plano entre as suas preocupações. Ainda mais surpreendidas, e talvez até indignadas, ficarão aquelas que me sabem noiva de Rodolphe Carnage, que julgo ter sido o primeiro em todo o universo a extrair uma aplicação prática das teorias de Einstein e de Sims. Ver-se-á em breve até que ponto pode-se considerar justificado este qualificativo de prático. Mas voltemos ao nosso assunto. Sempre detestei os subterfúgios. Este apego intransigente à verdade, à verdade nua e simples, sob sua forma mais despojada, mais direta, por assim dizer, é sem dúvida alguma uma característica ao não-conformismo intelectual peculiar a todos os grandes inventores e descobridores, ao passo que em mim, graças talvez a uma mãe e a uma avó puritanas, ela se transferiu para o domínio moral. Sou de uma franqueza incômoda, tanto para mim como para os outros e — o que é ainda pior — exijo de meus amigos e amigas idêntica franqueza. É inútil dizer que nem sempre as minhas exigências se vêem atendidas. Tem sido este até o maior e, para dizer a verdade, único motivo de briga entre mim e meu noivo. Não quero dizer que Rodolphe Carnage seja insincero. Pelo contrário. Tal como meu pai, e como todos os verdadeiros sábios, ele também ama apaixonadamente a verdade. Na vida corrente, entretanto, com relação aos mentirosos e às mentiras, aos mentirosos medíocres e às medíocres mentiras que nos rodeiam, eh demonstra uma indulgência que, a mim, parece nefasta fraqueza. Nunca pude compreender, particularmente, a sua amizade persistente, fiel, ridícula e comovente por um indivíduo tão tolo, fútil, medíocre e enfadonho, numa palavra: tão pouco merecedor de estima quanto Sylvain Le Cateau. Esse Sylvain Le Cateau... Mas neste ponto eu também mereço algumas críticas. Pobre Le Cateau! E pensar que ele é quem vai se tornar o herói desta narrativa'. Triste herói de inverossímil aventura. Nunca houve alguém tão pouco preparado para aventuras! Repito: jamais consegui compreender como pôde Rodolphe permanecer ligado a criatura tão apagada. Sei perfeitamente que eles estudaram juntos no Lycée Janson. Mas quantas amizades de escola, por mais sólidas que pareçam, são desfeitas pela vida! E por que continuar a interessar-se por Le Cateau? Terã jamais existido personagem mais ridículo, mais insignificante? Medíocre, em toda a extensão da palavra. Medíocre sob todos os aspectos. Nem bom, nem mau aluno, aprovado nos exames sem nenhum brilho, nem pobre, nem rico, manteve-se a vida toda numa honesta mediania. Jamais o viram dissipar os seus tostões em loucas orgias, mas também nunca se entregou a excessos de trabalho, nem se entusiasmou fosse lã pelo que fosse. Creio que tinha um emprego qualquer num banco, emprego esse que lhe deixava muito tempo livre; contudo, esses lazeres eram empregados de maneira estritamente conforme às idéias preestabelecidas. Não ia ao teatro com grande freqüência, pois, sendo razoavelmente preguiçoso, não gostava de deitar-se tarde; mas lia muito, e, sobretudo, os livros que estivessem obtendo sucesso. Possuía a coleção completa dos prêmios Goncourt que, na verdade, nunca havia relido; achava, porém que eles "davam boa impressão", como dizia. Celibatário, mantinha uma ligação muito correta com uma ex-corista do Opéra Comique que chegara mais ou menos a atriz e desempenhava papeizinhos secundários no Châtelet. Aliás, nunca cheguei a vê-la. Não creio que ela ocupasse um lugar realmente importante em sua existência. Esse lugar era menos importante, com. toda a certeza, que o reservado a Rodolphe, a "seu amigo
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