O que você faria se pudesse sentir o gosto das emoções? Rose Edelstein é uma menina que descobriu ter um talento incomum: ela sente o sabor das emoções das pessoas que preparam aquilo que come. E tudo começou semanas antes de seu aniversário quando, depois de uma briga com seu pai, sua mãe resolveu fazer um delicioso bolo de limão. Imagine o que você faria se seu paladar pudesse decifrar o gosto das emoções? É com isso que Rose tem de conviver daqui para frente. Com apenas nove anos, a curiosa menina sabe o que cada um sente secretamente e percebe que nunca mais comerá seus pratos preferidos do mesmo jeito. E o que ela pode fazer para lidar com isso?
A Peculiar Tristeza Guardada Num Bolo de Limão – Aimee Bender
Ficha Técnica
Copyright © 2013, Aimee Bender
Tradução para a língua portuguesa: copyright © 2013, Texto Editores Ltda.
Título original: The Particular Sadness of Lemon Cake
Diretor editorial: Pascoal Soto
Editora executiva: Tainã Bispo
Editora assistente: Ana Carolina Gasonato
Produção editorial: Fernanda S. Ohosaku, Renata Alves e Maitê Zickuhr
Coordenação externa: Taís Gasparetti
Tradução: Paulo Polzonoff
Preparação de textos: Danielle Freddo
Revisão de textos: Bete Abreu e Taís Gasparetti
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Angélica Ilacqua CRB-8/7057
Bender, Aimee
A peculiar tristeza guardada num bolo de limão / Aimee Bender; tradução de
PauloPolzonoff. – São Paulo : LeYa, 2013.
ISBN 9788580447866
Título original: The Particular Sadness of Lemon Cake
1. Literatura americana - Romance I. Título II. Polzonoff, Paulo
13-0207 CDD 813
Índices para catálogo sistemático:
1. Literatura americana - Romance 813
2013
Todos os direitos desta edição reservados a
TEXTO EDITORES LTDA
[Uma editora do Grupo Leya]
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Para Mir
Comidas são todas aquelas substâncias que, submetidas à ação do estômago, podem ser degustadas ou transformadas em vida pela digestão, e que podem, assim, reparar as perdas que os seres humanos sofrem ao longo do ato de viverem.
(A fisiologia do gosto, Brillat-Savarin)
Parte um
Comida
1 Aconteceu pela primeira vez numa terça-feira à tarde, num dia quente de primavera, nos campos próximos a Hollywood, com uma brisa leve soprando a leste, vinda do oceano e agitando as pétalas com olhos negros dos amores-perfeitos recém-plantados em nossas floreiras.
Minha mãe estava em casa, assando um bolo para mim, quando surgi correndo pela calçada. Ela abriu a porta da frente antes que eu pudesse bater.
− Que tal uma aulinha? − perguntou ela, encostando-se no batente da porta. Ela me puxou para me dar um abraço de boas-vindas, me apertando forte ao encontro de um de seus aventais que era o meu preferido, o de algodão cru enfeitado com desenhos de ramos de cerejas vermelhas entrelaçados.
No balcão da cozinha, ela já havia organizado todos os ingredientes: um pacote de farinha, a caixa de açúcar, dois ovos marrons que se apoiavam na ranhura entre os azulejos. Uma barra amarela de manteiga começava a derreter nas beiradas. Uma tigela rasa de vidro com raspas de limão. Eu passeei pela fileira de ingredientes. Era a semana do meu nono aniversário, e tinha sido um dia longo na escola, cheio de aulas discursivas − o que eu odiava − e gritos no pátio sobre placares. A cozinha iluminada pelo sol e minha mãe de olhos cálidos eram braços abertos de boas-vindas. Enfiei um dedo no saquinho com cristais de açúcar mascavo e murmurei: “Sim, por favor, sim”.
Ela disse que tínhamos cerca de uma hora para prepararmos tudo, por isso peguei logo uma folha do meu caderno.
− Posso ajudar? − pedi, espalhando lápis e folhas de papel sobre o piso de vinil.
− Não − respondeu mamãe, misturando a farinha e o fermento.
• • •
Meu aniversário é em março, e naquele ano caiu durante uma semana de primavera especialmente ensolarada, animada e tranquila nas ruas residenciais estreitas onde morávamos, a uns poucos quarteirões ao sul da Sunset. O jasmim, cujas flores se abriam à noite e que trepava no portão da frente do nosso vizinho, exalava seu perfume inebriante ao anoitecer e, ao norte, as colinas se amontoavam elegantemente sobre o horizonte, as casas espalhadas pelas encostas. Em pouco tempo o horário de verão começaria e, até mesmo quando fossem quase nove horas, eu associava meu aniversário com o primeiro sinal do verão, com a sensação das salas de aula com as janelas todas abertas e roupas leves e, dali a poucos meses, nada de lições de casa. Meu cabelo ficava mais claro na primavera, de castanho-claro para quase loiro, parecido com a cor das pontas do rabo d