O Menino Que Via Demônios – Carolyn Jess-Cooke

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Autora de O diário do anjo da guarda, a irlandesa Carolyn Jess-Cooke se volta para seres menos iluminados, mas tão fascinantes quanto em O menino que via demônios. O romance conta a história de Alex, um garoto de 10 anos que, desde a morte do pai, tem como melhor amigo um demônio de nove mil anos. Após a tentativa de suicídio da mãe, Alex conhece Anya, uma psiquiatra infantil que sofre com a esquizofrenia da própria filha. Ao longo do tratamento de Alex, porém, Anya passa a questionar suas próprias certezas: seria ele esquizofrênico ou o garoto realmente é capaz de ver demônios?

Tradução de Geni Hirata Para Phoenix meu querido filho Demônios não existem da mesma forma que deuses não existem, sendo apenas o produto da atividade psíquica do homem. SIGMUND FREUD A maior peça que o diabo já nos pregou foi nos convencer de que ele não existe. CHARLES BAUDELAIRE 1 RUEN A­lex As pessoas me olham de um modo engraçado quando eu digo a elas que tenho um demônio. “Você quer dizer que tem demônios, não?”, perguntam. “Como um problema com drogas ou uma ânsia de esfaquear seu pai?” Eu respondo que não. Meu demônio chama-se Ruen. Ele tem pouco mais de um metro e sessenta e suas coisas preferidas são Mozart, tênis de mesa e pudim de pão. Eu conheci Ruen e seus amigos há cinco anos, cinco meses e seis dias. Foi na manhã em que mamãe disse que papai tinha ido embora, e eu estava na escola. Um bando de criaturas muito estranhas surgiu no canto da sala, ao lado do mural sobre o Titanic que havíamos feito. Algumas delas se pareciam com pessoas, embora eu soubesse que não eram professores nem os pais de ninguém, porque algumas pareciam lobos, porém com pernas e braços humanos. Uma das fêmeas possuía braços, pernas e orelhas que eram todos desiguais, como se tivessem pertencido a pessoas diferentes e tivessem sido unidos como o monstro de Frankenstein. Um de seus braços era peludo e musculoso, o outro era fino como o de uma menina. Eles me assustaram, e eu comecei a chorar porque tinha apenas 5 anos. A srta. Holland veio até a minha carteira e perguntou o que havia de errado. Falei para ela dos monstros no canto da sala. Ela tirou os óculos muito lentamente e empurrou-os para cima da cabeça, em seguida perguntou se eu estava me sentindo bem. Olhei de novo para os monstros. Não conseguia afastar os olhos do que não tinha rosto, mas apenas um enorme chifre vermelho, como o chifre de um rinoceronte, só que vermelho, na testa. Ele tinha corpo de homem, mas coberto de pelos, e suas calças pretas estavam presas com suspensórios feitos de arame farpado e gotejando sangue. Ele segurava um pau com uma bola de metal no topo, de onde saíam espigões, como um ouriço. Levou um dedo aonde seus lábios estariam, se os tivesse, e então uma voz surgiu em minha mente. Ela soou muito mansa, mas ainda assim rouca, exatamente como a de meu pai: – Sou seu amigo, A­lex. Então, todo o medo desapareceu de mim, porque o que eu queria mais do que tudo no mundo era um amigo. Descobri mais tarde que Ruen possui maneiras diferentes de se apresentar, e essa era a que eu chamava Cabeça de Chifre, que é muito assustadora, especialmente quando vista pela primeira vez. Felizmente, ele não aparece assim com muita frequência. A srta. Holland perguntou o que eu estava olhando tão fixamente, porque eu ainda fitava os monstros, e me perguntava se seriam fantasmas, já que alguns deles pareciam sombras. Essa ideia me fez começar a abrir a boca e eu senti um ruído começar a sair, mas, antes que ficasse alto demais, ouvi a voz de meu pai novamente em minha cabeça: – Fique calmo, A­lex. Não somos monstros. Somos seus amigos. Não quer que sejamos seus amigos? Olhei para a srta. Holland e disse que eu estava bem, e ela sorriu, disse OK e voltou para sua mesa, mas continuou a virar-se para me olhar com um ar muito preocupado. Um segundo depois, sem atravessar a sala, o monstro que falara comigo apareceu ao meu lado e me disse que seu nome era Ruen. Disse que era melhor eu me sentar ou a srta. Holland iria me mandar falar com uma pessoa chamada Psiquiatra. E isso, Ruen assegurou-me, não envolveria nada divertido, como representar, contar piadas ou desenhar esqueletos. Ruen conhecia meus passatempos favoritos, então eu soube que havia alguma coisa estranha acontecendo ali. A srta. Holland continuava a me olhar como se estivesse muito preocupada, enquanto prosseguia com a aula sobre como enfiar uma agulha através de um balão congelado e por que isso era uma importante experiência científica. Sentei-me e não falei nada a respeito dos monstros. Ruen e
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