Dexter Morgan é um educado lobo vestido em pele de ovelha. Ele é atraente e charmoso, mas algo em seu passado fez com que se transformasse numa pessoa diferente. Dexter é um serial killer. Na verdade, é um assassino incomum que extermina apenas aqueles que merecem. Ao mesmo tempo, trabalha como perito da polícia de Miami… Em Dexter, a Mão Esquerda de Deus, o livro que deu origem à aclamada série de TV, o adorável matador depara-se com um concorrente de estilo semelhante ao seu, encanta-se e incomoda-se com ele, prevê seus passos… A escrita requintada de Jeff Lindsay nos faz mergulhar na mente de um dos personagens mais ambíguos da história da literatura de suspense. Nunca o macabro foi tratado com tanto refinamento e leveza. Dexter Morgan é uma obra-prima.
Dexter – A mão esquerda de Deus – Jeff Lindsay
CRÉDITOS:
Autor: Jeff Lindsay
Editora: Planeta
Digitado Por: Amanda Cotrim Santos e Rafael Teles Oliveira.
CAPÍTULO 1
Lua.Uma lua maravilhosa. Cheia, gorda, avermelhada, a noite clara como o dia, o luar inundando a terra e trazendo alegria, alegria, alegria. Trazendo também o rugir da noite tropical, a voz macia e turbulenta do vento uivando nos pêlos do braço, o lamento vazio da luz das estrelas, o grito trincado da luz da lua sobre a água.
Tudo isso chamando o Necessitado. Ah, o berro sinfônico as milhares de vozes ocultas, o grito interior do Necessitado, a entidade, o observador silencioso, a coisa fria e quieta, aquele que dança, o Bailarino da lua. O eu que não era eu, aquele que zombava, ria e vinha com sua fome.
Com a Necessidade. E a Necessidade agora estava muito grande, muito atenta fria enroscada arrastada rachada ereta e pronta, muito grande, bem pronta... mesmo assim, esperava e observava, me fazia esperar e observar.
Eu esperava e observava o padre há cinco semanas. A Necessidade tinha ficado alfinetando e provocando, me cutucando para encontrar um, encontrar o próximo, encontrar o padre. Há três semanas eu sabia que era ele o próximo, nós (ele e eu) pertencíamos ao passageiro das trevas. Passei essas três semanas lutando contra a pressão, a crescente Necessidade aumentando dentro de mim como uma grande onda que encrespa e arrebenta na praia e não recua,só cresce mais a cada segundo do relógio da noite luminosa. Más era hora também de tomar cuidado, hora de ter certeza. Não de que era o padre, não, pois há muito eu sabia disso.
Hora de ter certeza de que ia ser feito direito, limpo, com tudo se encaixando, tudo certo. Eu não podia ser pego, não agora. Tinha trabalho duro por muito tempo para fazer esse trabalho,para proteger minha ditosa vidinha.
E eu estava me divertindo muito para interromper agora.
Portanto,tomava sempre muito cuidado. Sempre limpo. Sempre prevenido para que as coisas fossem direita. E , quando estava direita, dar um tempo extra para garantir. Era o estilo Harry, que Deus o abençoe, aquele sagaz policial perfeito, meu pai adotivo. Esteja sempre seguro, tenha cuidado, seja correto, ele disse, e há uma semana eu tinha certeza de que tudo estava tão direito á La Harry quanto possível. E, ao sair do trabalho naquela noite, eu sabia que era o dia. Aquela era a noite. Era uma noite diferente. Nela ia acontecer, tinha de acontecer.
Exatamente como ia acontecer de novo e de novo. E dessa vez seria o padre.
Ele se chamava padre Donovan. Ensinava musica para as crianças do Orfanato Santo Antônio, em Homestead, na Flórida. Os alunos adoravam-no. E, naturalmente ele adorava os alunos.
Dedicou a vida a eles. Aprendeu espanhol e crioulos. Aprendeu a musica deles também. Tudo pelas crianças. Tudo o que fazia, era por elas.
Tudo.
Eu estava observando nessa noite, como tantas outras anteriores. Vi quando parou na porta do orfanato para falar com uma menina negra que foi atrás dele. Era pequena, não devia ter mais de oito anos e era miúda para a idade. Ele sentou-se na escada e conversou com a menina cinco minutos. Ela também se sentou e ficou se levantando e sentando. Os dois riram.
Ela se encostou nele. Ele tocou nos cabelos dela. Uma freira apareceu na porta e ficou parada, olhando-os antes de falar. Depois, sorriu e estendeu a mão. A menina tocou com a cabeça no padre. O padre Donavan abraçou-a, levantou-se e deu um beijo de boa-noite nela. A freira riu e disse algumas coisas ao padre Donavan. Ele respondeu.
Então, o padre foi para seu carro. Finalmente, eu me levantei para atacar e...
Ainda não. Uma minivan de serviço de limpeza estava a uns dois metros da porta. O padre Donavan passou e a porta lateral da van se abriu. Saiu um homem com cigarro na boca e cumprimentou o padre, que se encostou na van e falou com ele.
Sorte. De novo, sorte. Tenho tido sempre sorte nessas noites. Não tinha visto aquele homen, não notei que estava lá. Mas ele teria me visto. Não fosse a sorte.
Respirei fundo. Expirei