Para a enfermeira Amy Leatheran, sua paciente era um caso muito estranho. Louise, casada com um famoso arqueólogo, sofria de angústia nervosa, segundo seu marido. Suas fantasias eram vívidas e macabras: uma mão decepada, um rosto cadavérico contra a vidraça… Mas de que ou de quem ela teria tanto medo? Perto do marido e de velhos colegas e amigos, ela estaria a salvo. Entretanto, a formalidade do grupo não parecia natural: pairava no ar uma tensão, um certo desassossego. Algo muito sinistro estava acontecendo. E tinha a ver com… assassinato.Mrs. Leidner é assassinada. Fora algo muito estranho pois ninguém vira pessoas circularem no pátio do local que dava acesso a cena do crime. Quem teria feito tal monstruosidade? Só uma pessoa poderia responder: Hercule Poirot.
Morte na Mesopotâmia – Agatha Christie
Capítulo 6
Primeiro anoitecer
Depois do chá, a sra. Leidner me levou para mostrar o meu quarto.
Talvez aqui seja melhor dar uma breve descrição dos quartos. A simples distribuição dos cômodos pode ser facilmente entendida acompanhando a planta.
Em cada lado da grande varanda havia uma porta, e cada porta dava para uma das salas principais. A porta à direita de quem entrava na varanda abria-se no refeitório, onde tomamos o chá. A outra dava para uma sala exatamente igual (chamei-a de sala de estar), utilizada como living e como uma espécie de escritório informal – ou seja, ali se realizava algum desenho (outro, além do estritamente arquitetônico), e as peças mais delicadas de cerâmica eram trazidas ali para serem reconstituídas. Da sala de estar, acessava-se o depósito de antiguidades, onde todas as descobertas da escavação eram levadas, guardadas em prateleiras e escaninhos ou dispostas em grandes bancadas e mesas. A única saída desse depósito era pela sala de estar.
Contíguo ao depósito de antiguidades, mas com acesso por uma porta que dava para o pátio, ficava o quarto da sra. Leidner. Esse cômodo, como os demais da ala sul, tinha duas janelas de frente para as lavouras, mas com grades por fora. Dando a volta, junto ao quarto da sra. Leidner, mas sem porta entre os dois, ficava o do dr. Leidner, o primeiro quarto da ala leste do prédio. Logo depois, ficava o meu. Em seguida, vinha o da srta. Johnson, com o do sr. Mercado e o da sra. Mercado na sequência. Depois, localizavam-se os supostos banheiros.
(Quando uma vez o dr. Reilly me escutou falando essa expressão, ele riu na minha cara e disse que banheiro ou é banheiro ou não é! Em todo o caso, quando a gente se acostuma com torneiras e encanamento adequados, parece estranho chamar aquelas salinhas escuras em que se podia entrar com os sapatos sujos – cada qual com sua minúscula banheira de estanho abastecida de água enlameada em latões de querosene – de banheiros!)
Toda essa ala fora acrescentada pelo dr. Leidner à casa árabe original. Os quartos, todos iguais, tinham porta e janela que davam para o pátio. Na ala norte ficavam a sala de desenho, o laboratório e o setor de fotografia.
Partindo da varanda em direção ao outro lado, os cômodos se distribuíam praticamente da mesma forma. O refeitório conduzia ao gabinete onde se guardavam os arquivos e se realizavam os serviços de catalogação e datilografia. O quarto maior, equivalente ao da sra. Leidner na outra extremidade, pertencia ao padre Lavigny; ali ele decodificava – ou seja lá como você queira chamar – as tábulas de argila.
No canto sudoeste, uma escada levava ao terraço. Na ala oeste, ficavam primeiro a cozinha e, em seguida, quatro pequenos cômodos usados pelos moços – Carey, Emmott, Reiter e Coleman.
No canto noroeste, situava-se o ateliê fotográfico com o quarto escuro contíguo. A seguir ficava o laboratório. Então vinha a única entrada – o imponente arco que havíamos atravessado. Na parte externa da construção principal, encontravam-se as outras benfeitorias, como alojamentos para os criados nativos, a casa da guarda, além de estábulos e tudo o mais para os cavalos que transportavam a água. A sala de desenho, para quem olhava do pátio, ficava à direita do arco e ocupava o restante da ala norte.
Detalhei aqui a conformação da sede, pois não quero voltar ao assunto mais tarde.
Como mencionei, a sra. Leidner em pessoa me mostrou a sede e enfim me instalou no quarto, fazendo votos de que eu me sentisse em casa e pedisse tudo o que precisasse.
Mobília agradável, embora modesta: cama, cômoda com gavetas, cadeira e lavatório (que consistia em mesa com jarro e bacia para lavar o rosto).
– Os meninos vão lhe trazer água quente antes do almoço e da janta... e pela manhã, é claro. Se quiser em outra hora, é só sair e bater palmas; quando os meninos vierem, diga: “Jib mai’ har”. Acha que pode lembrar disso?
Disse que achava que sim e repeti um tanto vacilante.
– Está bem. E fale em alto e bom som. Árabes não ente