As Cariocas é a estréia de Sérgio Porto, também conhecido como Stanislaw Ponte Preta, na novelística brasileira. São seis histórias em que o ilustríssimo autor interpreta a psicologia da componente mais bela deste Rio feito de belezas: a mulher.
As Cariocas – Sérgio Porto
SÉRGIO PORTO
As Cariocas
4ª. edição
Prefácio de JORGE AMADO
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S. A.
1975.
Sumário
O Novelista Sérgio Porto
A Grã-Fina de Copacabana
A Noiva do Catete
A Donzela da Televisão
A Currada de Madureira
A Desquitada da Tijuca
A Desinibida do Grajaú
O Novelista Sergio Porto
JORGE AMADO
Um dos fatos importantes de nossa literatura nos últimos anos foi o aparecimento e o sucesso do escritor Sérgio Porto, talvez mais conhecido por Stanislaw Ponte Preta (mais do que um pseudônimo, Stan è personagem e autor, e a outra face de Sérgio). Realmente importante, pois o escritor carioca se impôs de logo como um jovem mestre de seu oficio. Renovou a crônica, gênero que havia atingido surpreendente altura literária, mas que corria o perigo de estiolar-se na grandeza de um Rubem Braga, na invenção de um Fernando Sabino, na graça de um Paulo Mendes Campos. Como ir mais adiante quando esses mestres pareciam haver esgotado o território da crônica? Pois Sérgio Porto, sob sua assinatura e sob a de Stanislaw, conseguiu igualar-se aos maiores sem com nenhum deles parecer, nem dever influência a qualquer que fosse.
A criação da figura de Stanislaw é uma grande façanha literária e resultou da necessidade que teve Sérgio Porto de um instrumento para aplicar seu alto moralismo, para atingir mais fundo com sua crítica à sociedade absurda em que vivemos.
Projetou-se o moralista num personagem que é ao mesmo tempo a tese e a antítese, um dom Quixote de nosso tempo e da cidade do Rio de Janeiro, um dom Quixote cem algo de rabelaisiano e muito de Mark Twain na capacidade de humor, inabitual em nossa literatura, humor que alia à alta qualidade um caráter brasileiro inigualável. Stanislaw cresceu numa família cada vez mais numerosa de uma personalidade e de um pitoresco deliciosos: tia Zulmira, a sábia anciã; Mirinho, o calhorda completo; o patriota Bonifácio; Rosamundo, o distraído. Cada um deles concorre com sua fisionomia própria para o grande painel da vida carioca que, passo a passo, despretensiosamente, Sérgio Porto vem construindo na criação de Stanislaw e de seu mundo de sátira, de humor, de gozação, de riso alegre e franco, de combate sem quartel a toda sujeira, a toda a indecência, ao vendepatrismo, à reação política, numa das obras literárias mais válidas dos últimos dez anos em nossa pátria. A vasta popularidade da família Ponte Preta e de seu criador, o enorme público nacional que os acompanha nas colunas dos jornais e nos livros de edições repetidas, são sinais, evidentes de como tem calado fundo no povo a literatura de Sérgio Porto, filha de seu tempo e de seu chão, alimentada pelos acontecimentos diários, solidária com as vitórias e as lutas do povo, arma de combate nos tristes dias políticos de agora com essa ditadura de meia-sola e seu entreguismo de sola inteira.
Quero me deter, porém, noutro aspecto da criação dos Ponte Pretas: a revelação de um ficcionista a se conter nos limites jornalísticos da crônica. Como sucede com Fernando Sabino.
Apenas o mineiro não precisava fazer prova de sua vocação ficcional, pois ele veio do romance de sucesso, Encontro Marcado para o sucesso da crônica, enquanto Sérgio Porto estreara como cronista e parecia indiferente aos apelos da ficção. Mas que outra coisa São Stanislaw, a tia Zulmira, Altamirando, Rosamundo, Bonifácio, senão criações de fabulosos, personagens e quantas vezes a crônica de Stan ultrapassa as fronteiras do gênero menor para ser deliciosa história, feita de ação e vida? Sempre esperei, numa ansiedade de leitor cotidiano o desembarque de Sérgio Porto no ancoradouro da criação novelística para onde fatalmente o arrastavam uma