Logo que foi lançado, O diário de Bridget Jones conquistou uma legião de fãs e se tornou a voz de toda uma geração de mulheres modernas, de trinta e poucos anos, divididas entre a esperança de encontrar o verdadeiro amor e as frustrações dessa busca. Mulheres que, como Bridget, precisam se desdobrar entre as realizações profissionais e os cômicos percalços que mancham seu currículo, entre as exaustivas demandas familiares e as farras com amigos, entre os cuidados com a silhueta e o prazer de devorar cinco barras de chocolate antes do café da manhã. Catorze anos após o último livro, Bridget Jones: No limite da razão, nossa heroína retoma seu diário abandonado e mostra que continua a mesma, e ainda mais viva – e ativa – do que nunca. O tempo se encarregou de trazer à sua vida outros dramas e dilemas, mas não levou embora seu jeito estabanado e a personalidade luminosa sem a qual ela não poderia enfrentar os momentos comoventes que a aguardam. Além de não descuidar da balança e manter-se longe dos cigarros, agora ela também precisa se preocupar com sites de relacionamentos, o número de seguidores no Twitter e os perigos de trocar mensagens de texto depois de algumas taças de vinho. Ainda às voltas com os amores, Bridget tropeça em novas confusões e tenta em vão se esquivar das gafes que ajudaram a consagrá-la como uma das personagens mais divertidas da literatura feminina contemporânea, enquanto figuras antigas e recentes desfilam por sua vida – sobretudo um garoto misterioso que vem para balançar seriamente suas certezas. Bridget Jones: Louca pelo garoto traz um desfecho inesperado para a história que já conhecemos, sem deixar de abrir portas a outras aventuras. Leitura obrigatória para qualquer mulher de hoje, o romance é um retrato fiel e bem-humorado das tribulações ao mesmo tempo trágicas e risíveis que compõem nosso dia a dia. A capa pode variar.
Bridget Jones Louca pelo Garoto – Helen Fielding
Prólogo
QUINTA-FEIRA, 18 DE ABRIL DE 2013
14h30 A Talitha acabou de me ligar, naquele tom de urgência que ela
sempre usa, com voz de “vamos ser discretas, mas muito dramáticas”.
“Querida, eu só queria que você soubesse que meu aniversário de
sessenta anos vai ser no dia vinte e quatro de maio. Não vou REVELAR
que vou fazer sessenta anos, é claro. E não comente com ninguém,
porque não vou chamar todo mundo. Eu só queria que você não
marcasse nada no dia.”
Entrei em pânico. “Vai ser ótimo!”, exclamei, num tom pouco
convincente.
“Bridget. Você NÃO PODE deixar de ir.”
“Bom, o problema é que…”
“O quê?”
“O Roxster vai fazer trinta anos no mesmo dia.”
Silêncio do outro lado da linha.
“Bom, a gente provavelmente não vai mais estar junto até lá, mas, se
estiver, seria…” fui diminuindo a voz.
“Eu acabei de colocar no convite da festa que não é para levar
criança.”
“Ele já vai ter trinta anos!”, eu disse, indignada.
“Estou só brincando, querida. É claro que você precisa trazer seu
garotão! Eu alugo um castelinho inável pra ele! A gente vai entrar no ar
de novo! Tenhoqueirumbeijotchau!”
Tentei ligar a televisão para ver se a Talitha tinha telefonado do
programa ao vivo, enquanto a produção passava um video, como já
zera tantas outras vezes. Apertei um monte de botões, confusa, como
se fosse um macaco usando um celular. Por que para ligar uma
televisão hoje em dia precisamos de três controles remotos com
noventa botões? Por quê? Suspeito que seja obra de nerds tecnopatas
de treze anos, que cam em seus quartos sórdidos competindo uns com
os outros, fazendo com que todas as outras pessoas pensem que são as
únicas no mundo que não entendem para que servem os botões e
causando danos psicológicos em escala global.
Joguei os controles no sofá, irritada, e a TV ligou sem querer,
mostrando a Talitha com a aparência perfeita, uma perna sensualmente
cruzada sobre a outra, entrevistando aquele jogador de futebol moreno
do Liverpool que não sabe controlar sua raiva e costuma morder as
pessoas. O rapaz estava com cara de quem queria morder a Talitha, mas
por outros motivos.
Muito bem. Sem pânico. Vou simplesmente avaliar os prós e os
contras da festa de uma maneira calma e madura.
PRÓS DE LEVAR O ROXSTER À FESTA
• Seria péssimo não ir ao aniversário da Talitha. Ela é minha amiga desde a época
em que eu trabalhava no Atenção Grã-Bretanha, quando ela era uma âncora
incrivelmente glamorosa e eu era uma repórter incrivelmente incompetente.
• Seria bem divertido levar o Roxster e um motivo de orgulho, porque ele fazer
trinta anos no dia em que a alita faz sessenta poria um m a toda essa coisa de
peninha-da-mulher-solteira-de-certa-idade, como se estivessem todas
condenadas a permanecer solteiras, enquanto os homens dessa idade são
agarrados antes de terem tempo de concluir o divórcio. E o Roxster é lindo e tem
uma pele de pêssego que, até certo ponto, nega a realidade do processo de
envelhecimento.
CONTRAS DE LEVAR O ROXSTER À FESTA
• O Roxster é um homem que pensa por si próprio, e sem dúvida não gostaria de
ser tratado como uma atração ou um aparato antienvelhecimento.
• Talvez ele deixe de gostar de mim no momento em que se vir cercado de gente
velha numa festa de sessenta anos, e isso também pode destacar de maneira
completamente desnecessária o quanto sou velha, embora, é claro, eu seja muito
mais nova que a Talitha. E, francamente, me recuso a aceitar minha idade. Como
disse Oscar Wilde, trinta e cinco anos é a idade perfeita para uma mulher, tanto
que muitas decidem adotá-la pelo resto da vida.
• É provável que o Roxster dê sua própria festa, com gente jovem aglomerada na
varanda, fazendo churrasco e ouvindo música disco dos anos setenta como uma
ironia retrô. Agora mesmo ele deve estar pensando em como não me convidar,
para que seus amigos não descubram que está saindo com uma mulher que tem
literalmente idade para ser sua mãe. Na verdade, com a puberdade precoce, por
causa dos hormônios no leite, tecnicamente seria possível que eu fosse avó dele.
Ai, Deus. Por que pensei nisso?
15h10 Aargh! Tenho que buscar a Mabel em vinte minutos e ainda não
preparei os biscoitos de arroz. Aargh. Telefone.
“Brian Katzenberg vai falar com você.”
Meu novo agente! Um agente de verdade! Só que eu caria MAIS do
que atrasada para pegar a Mabel se casse conversando.
“Posso ligar para o Brian depois?”, perguntei, tentando passar
margarina nos biscoitos e colocá-los num Ziploc com uma mão só.
“É sobre o seu roteiro especulativo.”
“É… que… estou numa reunião!”. Como eu podia estar numa reunião
e ao mesmo tempo falar no telefone para avisar que estava numa
reunião? Os assistentes é que devem dizer que alguém está em reunião,
não a pessoa em si, que supostamente não devia poder dizer nada,
porque está numa reunião.
Corri para a escola, desesperada para retornar a ligação e descobrir o
que o Brian queria. Ele já mandou meu roteiro para duas produtoras,
mas as duas o recusaram. Será que agora um peixe mordeu a isca?
Controlei uma vontade absurda de ligar para ele e dizer que minha
“reunião” tinha acabado de repente. Mas é muito mais importante
chegar na hora para pegar a Mabel, porque eu sou o tipo de mãe
amorosa que põe os lhos em primeiro lugar.
16h30 A ida até a escola foi ainda mais caótica que o normal. Uma
versão de Onde está Wally?, com milhões de mulheres magricelas,
bebês em carrinhos, homens em vans brancas desaando donas de
casa com doutorado em seus carros enormes, um homem numa moto
com um baixo acústico nas costas e mães naturebas em bicicletas com
cestas cheias de crianças na frente. A rua estava completamente
engarrafada. De repente, uma mulher veio correndo freneticamente e
gritando: “Voltem, VOLTEM! VAMOS LÁ! NINGUÉM ESTÁ AJUDANDO AQUI!”.
Percebendo que algum acidente horrível tinha acontecido, eu e todos
os outros começamos a dar ré loucamente, subindo com os carros na
calçada e nos jardins alheios para que os paramédicos pudessem
passar. Quando a rua estava livre, espichei o pescoço, assustada,
esperando ver uma ambulância e/ou um banho de sangue. Mas não
tinha nada disso, só uma mulher muito chique rebolando até um
Porsche preto e depois correndo furiosamente pela rua desimpedida,
olhando feio para todo mundo, com uma criança pequena de uniforme
no banco do passageiro.
Quando nalmente cheguei à escolinha da Mabel, ela era a única
criança que havia sobrado nos degraus da entrada, com exceção do
elonius, que estava prestes a ir embora com a mãe.
A Mabel me olhou com seus olhos enormes, muito sérios.
“Vamos embora, amiguinha”, ela disse com doçura.
“Estávamos nos perguntando aonde você tinha ido!”, disse a mãe do
elonius. “Esqueceu a escola de novo?”
“Não”, eu disse. “A rua estava completamente engarrafada.”
“A mamãe tem tinquenta e um!”, gritou a Mabel de repente. “A mamãe
tem tinquenta e um. Ela diz que tem tlinta e cinco, mas tem tinquenta e
um.”
“Psiu. Hahahaha!”, eu disse, diante dos olhos arregalados da
professora. “Vamos logo pegar o Billy!”
Consegui enar a Mabel — que ainda gritava “A mamãe tem
tinquenta e um!” — rapidamente dentro do carro, me inclinando no
tradicional movimento de retorcer o corpo todo, que ca mais difícil a
cada ano, e coloquei o cinto de segurança depois de tatear por toda a
bagunça entre o banco e a cadeirinha.
Cheguei à escola fundamental para pegar o Billy e encontrei a
Nicolette, uma das mães da escola (casa perfeita, marido perfeito, lhos
perfeitos; a única leve imperfeição é o nome, presumivelmente
escolhido por seus pais antes da invenção do Nicorette, o popular
substituto do cigarro), rodeada por um bando de mães. A perfeita
Nicolette estava perfeitamente vestida e com o cabelo perfeitamente
escovado, segurando uma bolsa perfeitamente gigantesca. Eu me
aproximei, ofegante, para ver se conseguia descobrir qual era o mais
novo problema da escola, bem na hora em que a Nicolette jogou o
cabelo para trás, irritada, quase atingindo meu olho com a ponta da
bolsa gigante.
“Eu perguntei por que o Atticus ainda está no time reserva de futebol
— o menino tem chegado em casa literalmente às lágrimas — e o sr.
Wallaker simplesmente disse: ‘Porque ele é muito ruim. Mais alguma
coisa?’.”
Dei uma espiada naquele que era o mais novo problema da escola: o
novo professor de educação física — atlético, alto, um pouco mais
jovem do que eu, cabelo bem curto, parecido com o Daniel Craig. Ele
estava pensativo, observando um grupo de meninos bagunceiros,
quando de repente apitou e gritou: “Ei! Vocês aí. Para o vestiário agora
ou vão levar uma advertência”.
“Estão vendo?”, continuou a Nicolette conforme os meninos
formavam uma la maluca e tentavam entrar na escola marchando e
gritando “Um, dois! Um, dois!”, como civis assustadiços recrutados para
participar de um levante, enquanto o sr. Wallaker apitava para marcar o
ritmo de um jeito ridículo.
“Mas que ele é gato, é”, disse a Farzia. Ela é minha preferida entre as
mães da escola, sempre com as prioridades certas.
“Gato, mas casado”, disse a Nicolette, irritada. “E com lhos, apesar
de ser difícil de imagina isso.”
“Ele não é amigo do diretor?”, perguntou outra mãe.
“Exatamente. Nem sei se ele é formado em educação física”, disse a
Nicolette.
“Mamãe.” Virei o rosto e vi o Billy com seu blazerzinho, os cabelos
escuros desalinhados e a camisa para fora da calça. “Não fui escolhido
para a equipe de xadrez.” Os mesmos olhos, aqueles mesmos olhos
escuros, transpassados pela dor.
“Ser escolhido ou ganhar não tem importância”, eu disse, dando um
abraço furtivo nele. “O que conta é quem você é.”
“É claro que tem importância.” Aargh! Era o sr. Wallaker. “Ele tem que
treinar. Tem que merecer.” Quando o professor se virou, eu o ouvi
murmurando “As mães desta escola acham que os lhos são os reis do
mundo, não dá pra acreditar.”